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Nado Teixeira: CIDADANIA um avião tucano demais? – Opinião

Parte 2 - O que derrubou os aviões da oposição em São Leopoldo nas eleições 2020?

Por João Darzone
25.11.2020

Um dos fatores mais interessantes das eleições municipais de São Leopoldo em 2020 é a “cartografia aeronáutica” usada pelo avião CIDADANIA/SL pilotado por Nado Teixeira. Para tanto é preciso criar uma linha temporal para explicar a tentativa de voo do próprio CIDADANIA e, na sequência, analisar o desenho da cartografia elaborada pelo comandante Nado que diz muito de suas habilidades como piloto.

O voo começa em 1989 com a queda do muro de Berlim, que junto caiu derrubando metade dos marxistas-de-boteco-de-DCE brasileiros. Outra parte foi derrubada pela famosa Perestroika de Mikhail Gorbachev em 1990 e, enfim, a parte que sobrou “enfiou o rabo entre as pernas” alguns meses depois com a Glasnost que, em suma, era a forma da extinta URSS dizer ao ocidente que “agora somos confiáveis e transparentes e podem colocar dinheiro aqui, pois estamos quebrados.”

Estes novos ventos dos anos 80 e 90 são diretamente a consequência da mudança da política no mundo, e marco zero para o nascedouro da chatice do politicamente correto.

Na política o politicamente correto atende pelo nome de terceira via, que nada mais é do que a conhecida posição “de ficar em cima do muro” elevada ao nível de arte retórica.

É a tentativa de se criar o “quadrado-redondo”; é um conceito que junta a incompetência para praticar o capitalismo (conservadores-liberais-não-tão-convictos), e a covardia para aplicar o socialismo (marxistas-de-boteco-de-DCE-com-medo-de-ficar-sem-mesada), como já dizia o saudoso Roberto Campos, como se a politica tivesse o poder alterar as regras da geometria analítica.

A terceira via surgiu como uma forma fugir do grande ‘combate aéreo’ capitalismo x socialismo que em termos de discurso contabilizou perdas de ambos os lados ao longo do período da Guerra Fria, foi vendida como uma espécie de linguagem civilizatória moderna para se evitar conflitos.

A terceira via utiliza técnicas de neurolinguística, linguagem corporal, e avançadas técnicas de marketing subliminar, em seu discurso o que faz com que o debatedor sempre saia vencedor, pois ao englobar um mix de ideias capitalistas e socialistas o resultado é um “capitalismo meia-bomba” ou “socialismo de mercado” que acaba agradando os gregos e troianos mais desavisados. E por um breve momento, enquanto era novidade no cenário político, quase tornou-se imbatível.

Esse discurso morno da terceira via tem suas correntes políticas vitoriosas tais, como, Tony Blair na Inglaterra e Bill Clinton nos EUA, e teve como principal consequência, amenizar muitos discursos de direita e de esquerda.

Ciro Gomes é um dos exemplos brasileiros cujo conteúdo de seus “discursos profundos como um pires” consegue ainda emocionar considerável número de pessoas em todos os tipos de plateias, muitas delas com diploma de curso superior, atingidas mais pelo lado emocional do discurso do que pela razão.

Como a terceira via é um híbrido sem forma definida, dependendo das circunstâncias assume um tom mais à esquerda ou mais à direita. Ao fim e ao cabo a ideia era somente “acolher” dentro do “novo guarda-chuva político” tanto os velhos marxistas-de-boteco-de-DCE, como grupos de conservadores-liberais-não-tão-convictos que cansaram do velho embate e buscaram renovar o discurso sob o medo de perder suas bases políticas de poder.

E foi neste contexto, é que foi projetado o avião boeing PSDB. Com chassi pujante e contando com muita tecnologia política embarcada já incluía as modernas especificações técnicas do pedante politicamente correto.

Por ter um projeto de Boeing moderno, o PSDB tinha capacidade de colocar em suas largas e confortáveis poltronas da primeira classe muitos dos marxistas-de-boteco-de-DCE recém barbeados, com banho tomado, cabelos penteados e vestidos de terno-e-gravata, que foram atraídos como moscas no mel, pelas belezas e facilidades que somente o vil metal poderia proporcionar.

Como o politicamente correto precisava criar um ar mais despojado e menos ostentoso aos representantes do capital, ficou fácil tirar da primeira classe os estressados conservadores-liberais-não-tão-convictos que já estavam abolindo os ternos e o habitual chá das cinco, pela praticidade da calça jeans e blazer por cima da camiseta.

Essa turma de conservadores-liberais-não-tão-convictos, recebeu como única opção voar nas classes econômicas e executiva em poltronas não tão largas, mas tinha como atrativo a tranquilidade o serviço de bordo tucano oferecia, uma bela torrada de presunto e queijo com todinho que atingia o objetivo visual de mostrar aproximação com as massas, e a segurança de um voo sem tropeços políticos, bastando “calibrar” o discurso de acordo com as circunstâncias, ficando livre da cansativa “artilharia anti-aérea dos marxistas-de-boteco-de-DCE”.

O que foi bom para os dois lados, afinal de contas fazer política de calças jeans para quem sempre usou terno de segunda-a-segunda, e vestir de terno-e-gravata no ar condicionado para quem sempre usou calça jeans no calor não pareceram opções tão ruins para os passageiros do Boeing tucano que albergou as turmas que antes se odiavam apenas mudando as turmas de lugar. “Marxistas- de-boteco-de-DCE” na primeira classe e conservadores-liberais na tranquila e silenciosa classe executiva-econômica.

Basta notar o visual erudito assumido pelos velhos comunistas e o visual de trabalhador estressado dos políticos representantes do capital na era tucano-petista.

Note que o novo discurso “macio, sedoso e iluminista” dos marxistas-de-boteco-de-DCE, contrastava o novo padrão estressado e atarefado dos conservadores-liberais-não-tão-convictos” que tinham a árdua missão econômica de fazer caber a “utopia socialista” dentro dos orçamentos públicas. Nessa ótica fica fácil de compreender a desgraça dos orçamentos e déficits públicos brasileiros.

Por essa razão é que os “tucanos” são os mestres da arte de “ficar no muro”, e este saber está na “engenharia do boeing tucano”. A arte de querer agradar vendendo a ideia que são humanistas que buscam diálogos entre as diferentes correntes ideológicas, pois esse equilíbrio entre a visão de mundo da primeira classe marxistas-de-boteco-de-DCE e da classe econômica-executiva dos conservadores-liberais-não-tão-convictos era a grande força que dava sustentação do avião no ar e antagonizava com o discurso petista.

Essa tática usada pelos tucanos e os acontecimentos históricos foram percebidos por Roberto Freire, ícone comunista dos anos 80 e piloto do teco-teco PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB). Como Freire não tinha os recursos na mesma proporção que dos tucanos, começou aos poucos a reforma do velho teco-teco comunista.

Na primeira guaribada, repintou a fuselagem, alterando o nome do PCB para PARTIDO POPULAR SOCIALISTA (PPS), e passou a notabilizar-se pela característica de ser linha auxiliar tucana nos governos de FHC, em conjunto com o DEM (ex-PFL). Freire tinha como sonho de consumo desde 2011 cooptar o tucano José Serra para sentar nas poltronas do PPS, que havia sido depenado pelo PT em duas disputas presidenciais (2002 e 2010).

Em 2018, após, surra de urnas do coronel Ciro Gomes, a cúpula do PPS percebeu que o ideário marxista mais atrapalhava que ajudava era preciso rever as especificações técnicas do vetusto teco-teco que estava construído o PPS, era necessário um grande upgrade.

Se o PT e PSDB eram os grandes Boeings da política, os velhos partidos comunistas eram apenas meros teco-tecos (PCB/PPS e PCdoB) que voavam em baixa altitude, sem importância no cenário político, meros satélites que orbitavam e torno do PT e PSDB no auge da era tucano-petista nos governos FHC-Lula-Dilma.

Mas tudo mudou com o furação Operação Lava-Jato, que avariou severamente os grandes Boeing da política nacional (que já sofriam muitas avarias pelos fortes ventos do MENSALÃO DE LULA e MENSALÃO TUCANO), atingindo e comprometendo a integridade da fuselagem tucana, expondo de forma nua e crua a intimidade de vários expoentes tucanos, entre eles Aécio Neves em seus meigos diálogos com Joesley Batista (JBS) sobre o que fazer com seu primo Fred que ameaçava delatá-lo.

A Lava-Jato que desmoralizou a cúpula tucana, também tinha praticamente tirado as asas do Boeing PT, pelo impeachment de Dilma e prisão de Lula, também causou sérias avarias em um dos seus satélites mais preciosos, o PC do B, que fazia parte no esquema de propina que foi tornado público veio à tona que sua maior estrela tinha ironicamente o codinome AVIÃO. Para quem não sabe de quem se trata fica a dica do nome: termina com ELA….

O Mensalão Petista e Tucano causaram grande estrago, mas foi a poderosa artilharia aérea da Lava-Jato, além de quase abater os Boeing da política também acertou em cheio o coração dos santos esquerdistas, que sucumbiram aos prazeres da boa vida proporcionada pelas gordas propinas, colocando todos os políticos de esquerda no mesmo balaio de gatos dos corruptos que diziam combater.

Neste instante o teco-teco PPS passou a ser uma opção interessante, pois acenava para seus tripulantes a possibilidade de voar em baixa altitude, mas para longe da tempestade que estava ameaçando derrubar os pesados Boeing da política.

Como explicar as diferenças entre teco-tecos PPS (ex-PCB) e o Partido Comunista do Brasil (PC do B)? O que poderia ser feito pelo PPS para não ter seus filiados e simpatizantes confundidos com os “filhos de Marx frutos de uma transa adúltera com a Coca-Cola”?

Como tentar diferenciar as correntes socialistas/comunistas seria praticamente chover no molhado, além de enfadonho, pode-se considerar que o PCB (que transformou-se em PPS e é o atual CIDADANIA) do ponto vista ideológico já era um partido sem identidade que buscava esconder seu passado de bandalheira esquerdista, ajeitando como podia as estruturas do vetusto teco-teco como forma de manter seus voos rasos na política.

É no meio desta tempestade e na tentativa de não sumir do mapa é que surge o milagre do marketing eleitoral que deu a grande repaginada do velho no PPS (ex-PCB) já em 2019, executou um upgrade profundo no velho teco-teco utilizando as conhecidas técnicas tucanas.

Note que Roberto Freire, presidente nacional do CIDADANIA já vinha praticando a necessária moderação da terceira-via há vários anos e, discretamente, vinha acelerando o ritmo, o que permitiu que chassi do teco-teco PPS fosse alongado e pudessem ser incluídas mais poltronas para abrigar os vários políticos insatisfeitos de outras siglas pelo desgaste promovido pela lava-jato, tornando o CIDADANIA do ponto de vista político uma espécie de teco-teco-anabolizado.

E, sem muito alarde, retirou do seu estatuto a expressão “pensamento marxista” já em outubro de 2019, ampliando o serviço de bordo para acomodar todo o tipo de “passageiro” que desde a era Dilma já estava oferecendo desde sushi até mocotó na tentativa de agradar todos os passageiros. Mas mesmo com melhorias, em relação ao projeto original, ainda era de um teco-teco, grande, mas teco-teco.

E em São Leopoldo no ano de 2019 não foi diferente. Sob a liderança de Nado Teixeira que substituiu de maneira muito contundente o ex-presidente Fernando Henning, o que se viu foi exatamente a replicação da situação nacional em escala municipal.

Nado utilizando retórica neurolinguística da terceira via, e com cerrada cooptação de homem-a-homem, deu uma turbinada nas filiações, lotando as poltronas do anabolizado teco-teco com dezenas de insatisfeitos políticos de outros partidos, o que amenizou os dez membros que recusaram a cumprir ordens do comandante Nado e pularam de paraquedas com medo de voar no esquisito teco-teco.

Ao posicionar-se como terceira-via no cenário político, o CIDADANIA/SL acabou por incorporar o murismo tucano, e este novo viés, é facilmente percebido na postura de Nado que vestindo o mato de professor-empresário, incorporou a doutrina de Winston Churchill em seus discursos, ao mesmo tempo que profere discursos com mantra populista da justiça social, visando atingir o espectro eleitoral de todos matizes o que de certa forma desnaturou sua própria identidade.

As qualificações de Nado são indiscutíveis, porém, pesando em seu curriculum vitae, seu passado como filiado ao PT e de homem de confiança de Tarso Genro, o que de certa forma o tornou alvo dos dois principais oponentes ao paço municipal. Tanto os conservadores-liberais-não-tão-convictos como os marxistas-de-boteco-de-DCE-com-medo-de-ficar-sem-mesada não tinham convicção na candidatura de Nado.

Pilotar o pesado teco-teco-anabolizado do CIDADANIA/SL, já não era tarefa fácil, e mesmo com as poltronas lotadas, a decisão de incorporar no rol de passageiros, parte do MDB de Arthur Schmidt e parte do PP do vereador David dos Santos, foi uma decisão que do ponto de vista da aviação equivaleu a alojar pessoas no corredor do lotado teco-teco.

Colocar pessoas para sentar no corredor, pela falta de poltronas no teco-teco era uma decisão arriscada, pois, a insatisfação dos passageiros iria facilmente comprometer a tranquilidade do voo até derrubá-lo pois, ao contrário do Boeing PSDB, o teco-teco-anabolizado CIDADANIA não detinha as especificações técnicas necessárias para se sustentar em voo de cruzeiro, pois, não possuía em seu chassi os confortáveis assentos de primeira classe para acomodar os marxistas-de-boteco-de-DCE e seu serviço de bordo virou um miscelânea de pratos com nomes bonitos mas mal feitos muito abaixo dos padrões aceitáveis para os conservadores-liberais-não-tão-convictos.

Os insatisfeitos de “sentar no corredor” do teco-teco de Nado, tanto do MDB e PP contribuíram para catalisar o resultado das eleições, pois, houve bombardeio de todos os lados:

  1. do PT de Vanazzi que cuja militância, o considerava um traidor;
  2. do MDB que consideraram a manobra de Arthur como kamikaze e fizeram campanha para Heliomar;
  3. do PP/SL que tinha em seu quadro um grande número de Bolsonaristas que jamais apoiariam um ex-petista, e também fizeram campanha para Heliomar;
  4. do Heliomar que era seu grande oponente pela disputa do eleitor, que tinha em seu bloco de alianças o sentimento anti-esquerda.

E tudo isso, pesou para escolha do eleitor. Tanto para público de esquerda vacilante que via no petista Vanazzi uma esquerda raiz convicta e Nado ex-socialista arrependido com discursos de integração.

E para o público com viés mais à direita (que estava órfão na eleição de 2020) pesou a falta de contundência em suas posições, comportando-se como um verdadeiro Alckimim no modo picolé de chuchu.

Contundência esperada pelo eleitorado exigida pela crise covid em vários temas: tratamento precoce, crescimento econômico, lockdonw, opinião sobre sistema de bandeiras que afetava o comércio, retorno das aulas, reforma previdenciária municipal, custo de IPTU, crise pet, SEMAE.

Como começou jovem na “aviação-política”, consagrando-se nas urnas como um dos vereadores mais jovens a se eleger em São Leopoldo, logo não se pode dizer que Nado Teixeira não sabia pilotar.

Como meteorologia, matemática e física são cadeiras obrigatórias para pilotos, o que se poderia esperar de uma “carta aeronáutica” traçada em direção a fortes ventos, com o grande peso do teco-teco anabolizado como consequência do excesso de gente acomodada na aeronave, além de um serviço de bordo sem qualidade? O teco-teco estava “impilotável” o que colocou em xeque até mesmo a permanência em voo.

Tragédias de aviação nem sempre tem um único fator contribuinte, mas mesmo com um avião ruim na maioria das vezes a falha humana nas quedas é o fator determinante. E a falha humana é sempre do piloto e copiloto.

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