Pandemia e estiagem desafiam recuperação da economia gaúcha
Os números do PIB do terceiro trimestre de 2020 apontaram a retomada do crescimento da economia gaúcha após o período de maior restrição gerada pela pandemia do coronavírus. No entanto, a continuidade deste avanço encontra um quadro de indefinição por conta do fim do auxílio emergencial, pela possibilidade de uma nova estiagem e também pelas incertezas sobre a própria pandemia.
As perspectivas apontadas no Boletim de Conjuntura, divulgado nesta quarta-feira (13) pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), levam em conta indicativos globais e os dados mais recentes sobre o desempenho da indústria, das vendas no comércio e também a evolução da arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), principal fonte de receita do governo estadual e indicativo da movimentação da economia.
O documento de análise conjuntural foi produzido pelos pesquisadores Martinho Lazzari, Tomás Torezani e Fernando Cruz e aponta uma expectativa de avanço na atividade econômica, mas em ritmo menos acelerado do que o registrado no terceiro trimestre.
Cenário externo
O novo agravamento da pandemia em países da Europa e nos Estados Unidos já afeta os indicadores econômicos globais e desperta interesse sobre novas ações de apoio adotadas por governos nacionais. Ainda que campanhas de vacinação tenham iniciado em diversos locais, a segunda onda de contaminações pelo coronavírus incitou a continuidade ou a criação de pacotes destinados a sustentar a atividade econômica e a renda de famílias e empresas por mais um período.
Com uma estimativa de queda de 4,4% para a economia mundial em 2020, feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o tombo maior deve ocorrer nos ditos países emergentes. Com exceção da China, que apresentará crescimento nos números finais do ano passado, o grupo de países em que o Brasil está incluído deverá registrar queda de 5,7%, de acordo com o Boletim.
A redução da atividade econômica global impactou diretamente as exportações brasileiras e gaúchas, que caíram 7,5% e 25,3% entre janeiro e novembro, respectivamente. No caso gaúcho, as maiores quedas foram nas vendas para destinos da União Europeia e da América do Sul.
Brasil e Rio Grande do Sul
O crescimento do PIB brasileiro no terceiro trimestre de 2020, de 7,7%, recuperou perdas acumuladas no período de maior restrição em virtude da pandemia, mas ainda não foi suficiente para retornar ao patamar anterior ao início da crise. O nível de produção, por exemplo, ainda se encontra 4,1% abaixo do observado no último trimestre de 2019. Entre os três segmentos mais importantes da economia, os dados trimestrais apontam que a Indústria apresentou o crescimento mais expressivo no país, seguido dos Serviços. A agropecuária apresentou leve recuo de 0,5%.
No Rio Grande do Sul, o movimento foi semelhante ao nacional, com destaque para o maior peso da Agropecuária nos resultados. Ao final do terceiro trimestre, quando foram superados os principais efeitos da estiagem, o segmento apresentou o maior crescimento (39,8%), ainda que o período não seja o de maior impacto nos números.
No entanto, os dados sobre a intenção de consumo das famílias gaúchas, que apontaram em novembro um recuo de 38,7% sobre os indicadores de fevereiro, sinalizam cautela e pessimismo, o que tem consequência direta na atividade econômica. Outra sinalização de cautela vem da previsão climática, que aponta risco de nova estiagem e “potencial impacto no desenvolvimento e no rendimento físico das principais culturas agrícolas de verão”.
“Especialmente para a soja, que tem em janeiro e fevereiro as fases de enchimento e maturação dos grãos, o nível de chuva neste período será decisivo para a determinação dos níveis de produtividade. Será um elemento definidor do grau de recuperação da economia gaúcha”, ressalta o pesquisador Martinho Lazzari.