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Unicamp tem três projetos entre os vencedores do Prêmio de Inovação Fleury

Três projetos da Unicamp foram vencedores da 6ª edição do Prêmio de Inovação do Grupo Fleury. O concurso reconhece projetos inovadores na área da saúde e, neste ano, premiou ideias para a superação da pandemia do coronavírus, tanto no combate e prevenção da covid-19, quanto na necessidade de adaptação do cotidiano. Os vencedores foram premiados em três categorias e o resultado foi divulgado no início de dezembro em uma cerimônia realizada on-line. Cada projeto foi apresentado no formato de vídeo.

O projeto “CoronaYeast: um modelo de diagnóstico barato e sensível para o SARS-CoV-2 baseado em levedura”, desenvolvido pelo Laboratório de Genômica e Bioenergia (LGE) da Unicamp, em parceria com a empresa-filha da Universidade BIOinFOOD, foi o primeiro colocado na categoria “Detecção e Diagnóstico”. Já o primeiro colocado na categoria “Tratamento e Prevenção” foi o projeto “Recobrimento antiviral para a funcionalização de superfícies de equipamentos de proteção individual”, do Laboratório de Engenhara e Química de Produtos (LEQUIP). A Força-Tarefa Unicamp contra a Covid-19 ficou em segundo lugar na categoria “Adaptação à Pandemia”.

O projeto desenvolvido pelo LEQUIP da Unicamp consiste na criação do SprayCov, um líquido em spray capaz de eliminar o coronavírus de superfícies como os equipamentos de proteção individual (EPIs), utilizados por profissionais de saúde e também as máscaras de algodão. A ideia é que ele sirva como uma proteção extra ao bloqueio físico do vírus, formando uma barreira ativa que destrói o SARS-CoV-2, o que amplia a segurança e a durabilidade dos EPIs. Nos testes realizados pelo laboratório, o produto manteve a eficácia por 3 dias, impedindo a replicação do vírus.

O reconhecimento obtido por meio do prêmio serve como incentivo aos estudantes e jovens pesquisadores que atuaram no desenvolvimento do produto. “Para os alunos foi muito empolgante, porque eles tiveram a oportunidade de aplicar aquele conhecimento acumulado ao longo do tempo em um alvo muito específico. Foi um exemplo de como o conhecimento, em um momento de necessidade, vem para trazer uma solução.

Ao mesmo tempo, foi interessante ver como o direcionamento de um certo problema fez com que vários grupos da universidade se unissem para prover soluções”, avalia Marisa Beppu, professora da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp e fundadora do LEQUIP. Ela também acrescenta que a criação do SprayCov abre caminho para outras inovações no desenvolvimento de virucidas, com produtos ainda mais específicos, seguros e efetivos no combate a agentes causadores de novas doenças.

Marisa também avalia que a experiência de trabalhar junto a áreas diferentes, por conta da emergência que o coronavírus impôs aos pesquisadores, trouxe um aprendizado positivo que deve guiar a ciência no futuro: “É uma lição clara de sinergia muito importante. Uma lição de que contar com um arcabouço de conhecimento é importante. Nós não direcionávamos essas pesquisas para vírus. Nós, especificamente, estudávamos esses recobrimentos para células tumorais. Não deixamos isso de lado, mas a emergência da pandemia fez com que nós nos flexibilizássemos para poder prover alguma solução direcionada”.

Já o CoronaYeast é um protótipo de teste para detecção do coronavírus que utiliza um tipo levedura que muda de cor quando entra em contato com o SARS-CoV-s encontrado em amostras de saliva, por exemplo. Isso ocorre graças a um biosensor incluído nas células da levedura. O projeto é desenvolvido pelo pós-doutorando Fellipe Bezerra de Mello e pela mestranda Carla Maneira da Silva, pesquisadores ligados ao LGE, em parceria com a empresa-filha da Unicamp BIOinFOOD. A equipe conta também com financiamento da Finep.

Segundo Gonçalo Guimarães Pereira, coordenador do LGE, o objetivo é que o teste seja uma alternativa mais rápida, barata e acessível às pessoas, auxiliando na tomada de decisões e no controle da doença. “Nossa motivação foi vermos que não existe um teste que realmente fosse como um ‘teste dos sonhos’, que apontasse se você está ou não infectado e que pudesse ser feito em casa, por exemplo. Se temos um teste desse tipo, podemos nos organizar, saber onde estão as infecções, as pessoas podem ter segurança para se movimentar, para trabalhar. E dificilmente esse será o último vírus do tipo a surgir”, explica.

O projeto do CoronaYeast segue em andamento, mas a patente para a tecnologia já foi solicitada. A expectativa é que no primeiro semestre de 2021 os estudos apontem a eficácia da técnica desenvolvida. “É uma ciência de fronteira, uma estratégia inovadora, que pode ser revolucionária se funcionar. O mundo precisa pensar fora da caixa, com estratégias de testes que não demandem laboratórios, que podem ser levados a regiões muito pobres, por exemplo”, ressalta Gonçalo.

Criada na Universidade frente à necessidade de enfrentamento da pandemia do coronavírus, a Força Tarefa Unicamp contra a Covid-19 reúne especialistas de diversas áreas que trabalham de forma conjunta. Ela conta com dez frentes de atuação, desde a realização de pesquisas biológicas sobre o coronavírus, passando pela ampliação na capacidade de testagem da população, contribuindo com o sistema público de saúde, até o trabalho com análises do impacto humano e social causados pela pandemia e crise econômica decorrente dela.

“Fiquei bastante surpreso em saber que, de forma independente, dois grupos da Unicamp se inscreveram em outras duas categorias. Para mim, isso já demonstra a importância de uma organização como da força tarefa, de propiciar a possibilidade de os alunos se organizarem, porque os professores catalisaram, mas quem realmente se envolveu nisso foram os alunos. Isso me deixa bastante satisfeito”, comemora Marcelo Mori, coordenador da Força Tarefa Unicamp.

A importância dos trabalhos realizados pelo grupo, aliado ao sucesso do trabalho interdisciplinar desenvolvido, motiva agora a Unicamp a tornar a Força Tarefa permanente, ampliando a capacidade de a Universidade se organizar frente à situações emergenciais que possam surgir no futuro. “O que a gente pretende agora é ter uma organização que torne mais fácil nossa resposta a doenças emergentes e a doenças cuja prevalência venha aumentando ao longo do tempo. Para isso, percebemos com a Força Tarefa que é preciso articulação, interdisciplinaridade, que grupos diferentes conversem e busquem soluções conjuntas”, explica Mori.

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