Desde o início da pandemia, em março de 2020, a interrupção das cirurgias contribuiu para o agravamento da escoliose de diversas crianças e adolescentes e para a realização de cirurgias em condições adversas, diferentemente do que havia sido programado antes da pandemia.
Guilherme, 12 anos, é um triste exemplo do impacto negativo da pandemia para este grupo de pacientes. Portador de uma escoliose neuromuscular relacionada à mielomeningocele, Guilherme vinha sendo preparado para cirurgia e teve seu procedimento adiado pelo cancelamento das cirurgias eletivas em função do aumento de casos de Covid.
Segundo o médico Samuel Conrad, chefe do Serviço de Cirurgia Pediátrica da Santa Casa, “não havia segurança para a realização de cirurgias deste porte em pacientes com maior comprometimento de saúde, pelo risco de complicações graves com uma possível contaminação por Covid. O resultado foi um sério agravamento da deformidade da coluna, uma vez que este paciente atravessava o período de crescimento acentuado da puberdade. Estamos trabalhando na reorganização do procedimento deste e de cerca de 40 outros pacientes em situação muito semelhante, porém o prejuízo é inegável”, conclui.
Diagnóstico precoce da escoliose pode evitar tratamentos cirúrgicos complexos
Embora não muito conhecido, o mês de junho é dedicado à conscientização sobre uma doença que causa inúmeros transtornos aos seus portadores e cujo tratamento precoce pode melhorar muito o prognóstico de qualidade de vida para a vida adulta. A cada ano, 512 crianças e adolescentes (em média, no RS), deverão passar por tratamento cirúrgico da Escoliose Idiopática Adolescente, o tipo mais comum da patologia, quando ocorre o agravamento de curvas com medida radiográfica que progride além dos 50 graus de inclinação.
Em linhas gerais, a escoliose é uma patologia definida como uma curvatura da coluna vertebral observada no plano frontal, em que ocorre o desenvolvimento de angulação e rotação em determinado segmento vertebral.
Identificação da escoliose
A simples inspeção do dorso sem as roupas, pelos pais, é suficiente para levantar suspeita e motivar a realização de consulta com especialista na área para investigação diagnóstica.
Desta forma, é possível o diagnóstico da escoliose nas fases mais iniciais, que é fundamental para o tratamento. Quanto mais precoce o diagnóstico, maior o leque de opções de tratamento, melhores os resultados e menores riscos.
Tratamento
O tratamento leva em consideração alguns fatores fundamentais, como o tipo de escoliose, o valor angular das curvas e o potencial de crescimento, ou seja, quanto o paciente ainda pode crescer e assim, a escoliose progredir. O tratamento cirúrgico da escoliose é bastante complexo e implica em alguns riscos particularmente relacionados a patologias desta natureza, e deve ser realizado em centros de referência que tenham a infraestrutura necessária bem como equipes multidisciplinares e com preparo específico para a realização de tratamentos com este nível de complexidade.
Serviço de Coluna Pediátrica do Hospital Santo Antônio
O Serviço de Cirurgia da Coluna Pediátrica é especializado no tratamento das patologias da coluna em crianças e adolescentes, especialmente a escoliose e as demais deformidades da coluna. Atualmente é um dos serviços de referência nacional no tratamento das deformidades da coluna pediátrica. Realiza mais de 1200 consultas para pacientes pediátricos com patologias da coluna e cerca de 100 cirurgias de escoliose ao ano, e está preparado para atender todos os tipos de escoliose. O serviço tem um papel fundamental na comunidade, visto que é a principal referência no estado do RS para cirurgias de escoliose pelo SUS e, apesar de as verbas públicas serem insuficientes para o custeio destes tratamentos na sua totalidade, há um esforço contínuo da instituição em implementar novas tecnologias, treinar equipes e aumentar a capacidade de atendimento.