Banco Central eleva projeção de crescimento da economia em 2021

O Relatório de Inflação, divulgado nesta quinta-feira (30) pelo Banco Central, revela que a projeção para o crescimento da economia em 2021 passou de 4,6% para 4,7%. O ano de 2021 deve encerrar com inflação de 8,5% e taxa de juros (Selic) em 8,25%.

Segundo o Banco Central, a projeção depende da continuidade do esfriamento da pandemia de covid-19, da diminuição dos níveis de incerteza econômica ao longo do tempo e da manutenção do regime fiscal, de controle das contas públicas. Entretanto, há fatores que restringem o ritmo de recuperação no segundo semestre deste ano e durante o ano seguinte.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, elevou novamente a taxa básica de juros, a Selic, para 6,25% ao ano, mantendo a trajetória mais contracionista para a política monetária para conter o avanço da inflação.

As informações utilizadas para a projeção também já incluem os preços mais elevados da energia elétrica em razão da crise hídrica, mas não contemplam cenário de restrições diretas ao consumo de eletricidade.

Outros riscos apresentados pelo Banco Central são a própria evolução da pandemia, que segue sendo monitorada, e ações que piorem as expectativas sobre a trajetória fiscal. Porém os indicadores econômicos recentes sugerem continuidade da evolução positiva da atividade doméstica, com “recuperação robusta” do crescimento da economia ao longo do segundo semestre.

Oferta e consumo

Houve aumento das previsões de crescimento para o setor de serviços e redução para os demais. Segundo o Banco Central, há uma tendência natural de redução na demanda por bens à medida que as famílias voltam a consumir mais serviços.

A revisão para o setor terciário, de 3,8% para 4,7%, foi influenciada por resultados melhores do que esperados no segundo trimestre, em especial em serviços de informação e outros serviços. Por outro lado, o segmento de outros serviços, que engloba atividades como alojamento e alimentação e atividades artísticas e culturais, ainda se encontra em “patamar deprimido”, mas deve continuar apresentando crescimento ao longo dos próximos trimestres, influenciado pela recuperação da mobilidade diante progresso da vacinação contra covid-19.

De acordo com o relatório, na indústria, a previsão de crescimento recuou de 6,6% para 4,7%, repercutindo, em especial, piora nas projeções para a indústria de transformação, pelas dificuldades nas cadeias de suprimentos e preços de insumos pressionados. Além disso, há pressão sobre a produção e distribuição de eletricidade, gás e água, já que a crise hídrica está ocasionando aumento da participação de usinas termoelétricas no total da energia elétrica produzida, com impacto negativo sobre o valor adicionado da atividade.

Já a revisão na projeção de crescimento da agropecuária, de 2,5% para 2%, reflete, principalmente, estimativas menores para a produção do milho segunda safra e da cana-de-açúcar em razão da intensificação de problemas climáticos.

Pelo lado da demanda, houve alta nas previsões para o consumo do governo, de 0,4% para 0,9%, sugerindo retorno aos níveis pré-pandemia em ritmo “ligeiramente mais elevado”.

Na formação bruta de capital fixo das empresas, a projeção passou de 8,1% para 16%, em especial, pela expectativa de importações no âmbito do Repetro, que é o regime que suspende a cobrança de tributos federais de exportação e importação de bens para pesquisa e lavra de jazidas de petróleo e gás natural, principalmente as plataformas de exploração. As boas perspectiva para o setor da construção também influenciaram o aumento na projeção.

Em sentido oposto, o Banco Central espera um crescimento menor para o consumo das famílias, de 3,3% ante previsão de 4% do último relatório de inflação, divulgado em junho. De acordo com o documento, apesar da expectativa de crescimento robusto ao longo da segunda metade do ano, a revisão para baixo foi motivada pela estabilidade do consumo das famílias no segundo trimestre. Naquele período, segundo o Banco Central, esperava-se um resultado mais positivo diante de fatores como continuidade da recuperação do mercado de trabalho e da mobilidade, retorno do auxílio emergencial e antecipação do abono salarial e do 13º salário de aposentados.

As exportações e as importações de bens e serviços, em 2021, devem variar, na ordem, 5% e 14,2%, ante projeções anteriores de 6,8% e 10,7%, respectivamente. O ligeiro recuo nas exportações repercute as menores safras de milho e cana-de-açúcar e a redução no crescimento esperado dos embarques de produtos semimanufaturados e de minério de ferro. Já a alta na estimativa para as importações decorre, principalmente, do aumento esperado nas importações no âmbito do Repetro.

Inflação

Já a inflação, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve encerrar 2021 em 8,5%, no cenário com taxa de juros (Selic) em 8,25% ao ano em 2021 e 6,75% ao ano em 2022 e câmbio partindo de R$ 5,25. No relatório anterior, em junho, a projeção era 5,82%.

A estimativa está acima da meta de inflação para este ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3,75%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2,25% e o superior, 5,25%.

Caso a projeção se concretize, será a inflação mais alta desde 2015, quando atingiu 18,07%. O Banco Central também projeta que a inflação deve ser de 3,7% em 2022 e 3,2% em 2023.

Em agosto, o IPCA fechou no maior nível para o mês desde 2000 e acumula alta de 9,68% em 12 meses, pressionado pelos preços de alimentos, combustíveis e energia elétrica. A inflação acumulada no ano até agosto é de 5,67%.

Em 2020, a inflação terminou em 4,52%, acima do centro da meta de inflação para o ano, de 4%, mas dentro do intervalo de tolerância, de 2,5% a 5,5%.

Com a alta da inflação, o Banco Central elevou a Selic pela quinta vez consecutiva, de 5,25% para 6,25% ao ano e deve promover nova alta na próxima reunião do Copom, em outubro. A taxa básica de juros é o principal instrumento usado pelo Banco Central para alcançar a meta de inflação. A elevação da Selic, que serve de referência para as demais taxas de juros no país, ajuda a controlar a inflação porque causa reflexos nos preços, já que juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, evitando a demanda aquecida.

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