A pecuária brasileira vem despontando em índices de produtividade de carne premium muito acima do obtido na última década. Com o avanço do uso da inseminação e da utilização de genética Angus, criatórios vem batendo a casa dos mil quilos de bezerro por hectare/ano. A marca é mais do que o dobro do obtido em sistemas de pastejo tradicional ou semi-confinamento.
Um exemplo de quem tem colhido resultados expressivos na produção de bezerros meio-sangue Angus em sistema de cria intensiva é a Estância G’Martin, de Uberlândia (MG). A propriedade, comandada pelo pecuarista Gusthavo Wagner desmama 1.050 quilos de bezerro por hectare a partir de Inseminação Artificial a Tempo Fixo (IATF) de sêmen Angus em matrizes Nelore. “Se tenho bons dados, tenho decisões concretas. Se tenho uma boa nutrição, que conversa com a estrutura e com a capacidade e a necessidade dos animais, estou garantindo índices de produtividade. E obviamente, se tenho um excelente manejo, estou cuidando de algo que pode afetar essas duas linhas para trás, como stress do animal e questões sanitárias”, explica Wagner, que também é economista. Recentemente, ele resolveu participar da Associação Brasileira de Angus na modalidade Sócio Produtor, aquela que também engloba usuários da genética.
Com operação inicial há cerca de cinco anos com 50 vacas, hoje a propriedade trabalha com 180 matrizes aptas à reprodução em 33 hectares, produzindo assim cinco bezerros por hectare. Quando comparada a produção agrícola – como soja e milho, por exemplo -, onde toda área é produtiva, a pecuária no geral tem média de 0,3 bezerros por hectare – 175 quilos de bezerro por hectare -, explica Wagner. “Uma área muito grande, mas que tem baixa eficiência. A nossa ideia aqui foi buscar alta eficiência, com grandes margens”, reforça. Para isso, leva em consideração as DEPs dos animais na hora de selecionar o sêmen dos reprodutores nas baterias. Características como Peso ao Desmama, Tamanho ao Nascimento, Ganho de Peso aos 90 dias, Área de Olho de Lombo, Estrutura de Carcaça, são essenciais, segundo ele, para que os animais resultem no melhor gado para o criador, para recria e para o consumidor final.
Antes de chegar à conclusão sobre o melhor sistema para a propriedade, Wagner conta que a família apostou em recria, engorda, produção de leite e até mesmo na criação de carneiros. Vendo que a cria foi a que melhor apresentou resultados, o produtor foi buscar inspirações na produção de outros países como Estados Unidos e Austrália a fim de chegar a um protocolo que se encaixasse às suas necessidades. Considerado um case de sucesso na produção de bezerros, hoje a propriedade opera 100% em sistema intensivo e vê os efeitos da eficiência na ponta do lápis, operando com margens entre 25% e 30%.
Segundo o produtor, a raça Angus tem se adaptado extremamente bem ao sistema de cria intensiva na fazenda. “Podemos ver não só a adaptabilidade do sêmen na questão reprodutiva, mas também no resultado do bezerro, que responde muito bem dentro do sistema”, acrescenta. Além de destacar-se em adaptabilidade e precocidade alimentar, a raça contribui nos excelentes índices de prenhes das matrizes, hoje em 85% em IATF em touro zero. “O Angus no cruzamento industrial vai ser o animal de ponta, de carne a ser consumida, dado esse casamento perfeito de rusticidade do Nelore juntamente com as capacidades genéticas e depósito de carne que esse animal tem”, pondera o pecuarista.
Para o gerente de Fomento da Associação Brasileira de Angus, Mateus Pivato, a raça Angus se encaixa muito bem em sistemas mais intensivos, onde a eficiência é o ponto chave para a tomada de decisões. “Ele está intensificando de uma forma bastante inteligente, analisando cada variável dentro da equação para tomada de decisões corretas e a Angus, devido a sua eficiência, principalmente no cruzamento industrial, se torna peça chave nesse sistema”, ressalta. Todos os meses os animais são levados ao curral, de acordo com Wagner, para avaliação de características como peso, e tudo é planilhado para tomada de decisões.