Os especialistas destacam que as mulheres são as mais afetadas pela intolerância ao glúten. A proporção é de duas para cada homem. Estudos apontam que até 70% das pessoas diagnosticadas atualmente são do sexo feminino. A doença celíaca é uma desordem autoimune, desencadeada pela ingestão de glúten, agredindo o sistema digestivo. Com o tempo, as paredes do intestino vão inflamando, atrofiando e perdem a capacidade de absorver nutrientes, como o cálcio e o ferro dos alimentos, podendo levar à morte se não for diagnosticada e controlada.
“Na doença celíaca há o componente imunológico que faz com que a mucosa do intestino se inflame. Isto gera a perda da integridade deste órgão, com o consequente prejuízo na absorção de algumas vitaminas e minerais. Desta forma, há um prejuízo orgânico enorme”, explica o médico gastroenterologista, especialista em nutrição e membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, Fernando Valério. A boa notícia é que, apesar de não ter cura, os celíacos recuperam seu bem-estar e qualidade de vida por meio de uma alimentação completamente isenta de glúten e, dessa maneira, ficam distantes de sintomas como diarreia, fadiga, anemia, entre outros.
Fatores genéticos explicam a maior prevalência das mulheres. Além disso, culturalmente o público feminino é mais propenso a investigar os seus problemas de saúde, aumentando a chances do diagnóstico. Em contrapartida, as mulheres demoram mais que os homens para apresentar e sentir os sintomas da doença, o que torna o diagnóstico tardio.
Estudos mundiais sobre a doença realizados pelo Instituto Dr. Schär revelam ainda que mais de 40% das mulheres relataram “outros” sintomas celíacos, incluindo distúrbios do ciclo menstrual, anemia, osteoporose, tireoide, entre outros. Metade das mulheres que relataram especificamente distúrbios do ciclo menstrual, disseram que seus problemas relacionados ao ciclo, se desenvolveram antes de qualquer outro sintoma da doença celíaca. “Claro que, se você tem um problema com o seu período menstrual, existem muitas causas potenciais além da doença celíaca. Mas, a pesquisa indica que as mulheres – especialmente aquelas com predisposição para a doença, devem ficar de olho em mais do que apenas sintomas digestivos”, esclarece o especialista.
Anemia, osteoporose, tireóide?
Tudo isso pode representar um indicio de doença celíaca
A anemia, que é comum em mulheres em idade fértil, também aparece com frequência em mulheres com doença celíaca não diagnosticada – em um estudo desenvolvido médica especialista americana em doença celíaca e sensibilidade ao glúten, Jane Anderson, observou-se que 40% das mulheres relataram anemia antes de seus diagnósticos celíacos. “É um sintoma bastante comum que alguns médicos rotineiramente testam quando uma pessoa sofre de anemia inexplicada. As deficiências nutricionais – especificamente, os problemas que absorvem o ferro – são consideradas a causa”, observa o Dr. Fernando Valério.
A doença celíaca não diagnosticada também eleva significativamente o risco de osteoporose. Novamente, deficiências nutricionais relacionadas a problemas de absorção de nutrientes – desta vez, deficiências em vitamina D, cálcio e magnésio – provavelmente são os causadores. As mulheres também sofrem com maior recorrência de distúrbios da tireoide, outro conjunto de condições ligadas à doença celíaca. Até 7% das pessoas com doença autoimune da tireoide – incluindo a Doença de Graves e a Doença de Hashimoto – podem ter doença celíaca e, em algumas delas, a doença celíaca não causa nenhum outro sintoma.
Outra enfermidade mais comum entre as mulheres, a esclerose múltipla (MS) pode também estar relacionada à doença celíaca, mas nessa condição, as ligações potenciais são menos claras – alguns estudos mostraram taxas mais altas de doença celíaca em homens e mulheres com esclerose múltipla, enquanto outros não. No entanto, alguns portadores da doença relatam melhorias em suas condições quando seguem a dieta sem glúten.
Por este motivo alguns considerem a doença celíaca como um “camaleão clínico” – ela pode aparecer com mais de 100 sintomas diferentes ou, no caso da “doença celíaca silenciosa”. O diagnóstico é concluído com exames de sangue específicos anti-transglutaminase lgA e antiendomísio lgA e lgG e uma biópsia feita por meio de uma endoscopia digestiva alta.