Demora no transplante de medula aumenta risco de morte em leucêmicos
Pesquisa do Hospital Moinhos de Vento mostra que pacientes adultos com leucemia aguda têm pior sobrevida se esperam mais de três meses pelo procedimento
O transplante de medula óssea é uma das principais formas de tratamento para pacientes com leucemia aguda, um tipo de câncer que afeta as células do sangue. No entanto, muitos desses pacientes enfrentam uma longa espera na fila pelo procedimento, que depende da disponibilidade de um doador compatível e de um leito adequado. Essa demora pode custar a vida de muitos deles, segundo uma pesquisa do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, publicada na revista digital Elsevier.
O estudo analisou o tempo entre o diagnóstico da doença e a realização do transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH), que são as células responsáveis pela produção do sangue e que podem ser obtidas da medula óssea ou do sangue periférico. O TCTH é indicado para tratar doenças malignas e não malignas que afetam o sistema hematológico, imunológico e genético.
A pesquisa envolveu pacientes que aguardavam pelo TCTH pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – parte deles foi atendida no Hospital Moinhos de Vento pelo projeto Mais TMO, do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS), do Ministério da Saúde. O tempo médio entre o diagnóstico da leucemia aguda e o transplante foi de 19 meses, sendo seis meses na fila de espera. O estudo mostrou que esse tempo influenciou negativamente a sobrevida dos pacientes adultos, principalmente se ultrapassasse três meses. “Pacientes com mais de um ano na fila morrem mais do que no período de menos de um ano”, afirma a coordenadora da Unidade de Terapia Hematológica do Hospital Moinhos de Vento e líder da pesquisa, Cláudia Astigarraga.
O Brasil tem o terceiro maior banco de doadores de medula no mundo, com mais de seis milhões de voluntários cadastrados. O tempo para se encontrar um doador compatível varia de duas a quatro semanas e todos os pacientes que precisam do TCTH têm um doador aparentado (familiar) ou não aparentado (não familiar). Apesar disso, há uma escassez de leitos especializados para a realização do procedimento pelo SUS, o que gera uma fila de espera que pode ser fatal.
Para Cláudia, é preciso investir mais na saúde pública para garantir o acesso ao TCTH em tempo hábil. “A questão não é apenas o leito, mas a disponibilização de uma equipe multidisciplinar preparada para o tratamento (médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas). Profissionais que saibam lidar com o paciente. É prioritário o investimento em recursos humanos e a melhora do repasse de recursos pelo SUS para este tipo de procedimento”, defende.