Saúde

TDAH: as controvérsias sobre o diagnóstico e o tratamento

Dificuldade de aprendizado não é suficiente para confirmar o transtorno

A desatenção, a hiperatividade e a impulsividade são traços que frequentemente geram preocupação entre pais e educadores, e com razão. Esses sintomas podem indicar a presença do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), uma condição de neurodesenvolvimento que geralmente se manifesta na infância.

É importante destacar que a dificuldade de aprendizado pode estar presente em crianças com TDAH, mas isso não é suficiente para determinar o diagnóstico. A observação e avaliação clínica adequada são essenciais para uma identificação precisa.

No Brasil, a Lei 14.420, sancionada em 2022, instituiu a primeira semana do mês de agosto como um período de conscientização sobre a importância do diagnóstico e tratamento precoce do TDAH. Esse esforço visa aumentar a compreensão pública sobre a condição e sua abordagem adequada.

A medicina classifica o TDAH em três tipos distintos: o desatento, o hiperativo e o misto (ou combinado), este último caracterizado pela presença igualmente predominante dos dois aspectos (desatenção e hiperatividade) em um mesmo paciente. Esses termos são utilizados para descrever o principal perfil de sintomas em cada indivíduo com TDAH.

Equipe multidisciplinar

Há um consenso entre os profissionais que o diagnóstico deve ser feito por meio de uma equipe multidisciplinar. “Composta por profissionais da saúde mental como psicólogo, psiquiatra, neurologista”, alerta a neuropediatra Mariane Wehmuth (FEMPAR), apontando para a existência de testes que avaliam o nível cognitivo e de desatenção para complementar reconhecimento do transtorno.

O TDAH ainda enfrenta subnotificação de diagnósticos. Isso acontece devido aos estereótipos estabelecidos pelo senso comum: hiperatividade física, dificuldade de prestar atenção, desconforto em situações que exijam um controle maior de suas emoções, entre outras.

É comum mascarar as dificuldades como meio de defesa. “Adolescentes e adultos, são mais complicados para identificar o TDAH, porque ao longo da vida eles podem encontrar formas de mascarar (masking) o transtorno a partir de características aprendidas, espelhando-as (mirroring)”, afirma Mariane. Os pacientes ainda podem apresentar uma hiperatividade mental quando existe um fluxo de pensamentos muito grande e, por isso, têm dificuldade em prestar atenção em aulas, esperar o outro terminar de falar, frequentemente se esquecem de compromissos e, até mesmo, perdem com frequência objetos em casa.

Controvérsia

Alguns especialistas, como é o caso do médico psiquiatra e professor da Faculdade Evangélica de Medicina (FEMPAR), Sivan Mauer acreditam que apesar do número de TDAHs ter aumentado muito nos últimos anos, podem ter acontecido equívocos nessas avaliações, principalmente de pessoas adultas.

Segundo as pesquisas observadas por Mauer, parte desses novos diagnósticos se dão devido à flexibilização dos critérios e modificações no DSM, o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais. Até o DSM-III, que foi utilizado como referência até 1993, o TDAH era considerado apenas para a identificação dos casos em crianças. A partir do DSM-V, em 2013, o diagnóstico passou a ser aceito oficialmente para adultos e também houve uma flexibilização nas características para sua determinação. Desde então, se o paciente apresentar 6 dos 9 sintomas, ele já pode ser considerado TDAH.

Adultos

O diagnóstico de TDAH em adultos pode ser confundido com outros transtornos que apresentam características parecidas, como o Transtorno Bipolar, defende Mauer. Também conhecido como Transtorno Maníaco-Depressivo, é caracterizado por oscilações de humor e episódios de depressão e euforia (também chamada de “mania”), em que ambos costumam se intercalar. A tese é que o transtorno de humor pode acabar afetando a atenção, hiperatividade e impulsividade do paciente, assim, tendo características muito similares ao TDAH e dificultando o diagnóstico.

Crianças

Pesquisas mostraram a possibilidade de crianças que foram diagnosticadas com TDAH na infância possam ter uma mudança de diagnóstico para transtornos afetivos. Um estudo realizado durante 15 anos no sul do Brasil analisou 5.249 pessoas da infância até o início da vida-adulta (19 anos) e constatou que parte dos analisados que foram identificadas com TDAH na infância não permaneceram com o diagnóstico na vida adulta, também houve casos em que o paciente não foi diagnosticado na infância, mas apresentou os sintomas já adulto.

Durante a infância, 393 pacientes foram diagnosticados com o TDAH, compondo assim, 8,9% do número total de analisados. Posteriormente, aos 19 anos, cerca de 12% dos indivíduos tiveram um diagnóstico do TDAH na fase adulta, chegando ao número de 492 pacientes.

Tratamento

O principal método usado no tratamento são os medicamentos estimulantes, como, por exemplo, o metilfenidato, conhecido comumente no Brasil pelo nome Ritalina. “Cerca de 65% das prescrições de medicamentos para pacientes com TDAH possuem o metilfenidato”, lembra Mauer. A psicoterapia também é uma ferramenta importante para o autoconhecimento e desenvolvimento dos pacientes com o TDAH.

Apesar das pesquisas indicarem uma boa melhora nos sintomas relacionados ao TDAH a partir do uso contínuo da medicação, também há uma melhora do desempenho em pessoas não diagnosticadas com TDAH com o uso do Metilfenidato. A prescrição deve ser sempre acompanhada por médico psiquiatra.

Ao navegar nas redes sociais é possível ter acesso a milhares de vídeos que comentam situações comuns para pessoas com o transtorno, além de características, e possuem centenas de comentários de pessoas se “autodiagnosticando”. Apesar disso, apenas médicos psiquiatras, neurologistas e neuropediatras estão autorizados a fazer esse tipo de avaliação, portanto, ao desconfiar que possui o transtorno, é recomendado a procura de uma equipe de profissionais especializada no TDAH.

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