A guerra na Ucrânia é um dos conflitos mais graves e complexos do século XXI, envolvendo a Rússia, a Ucrânia, os países ocidentais e os grupos separatistas pró-russos no leste ucraniano. O conflito começou em 2014, após a anexação da Crimeia pela Rússia e o apoio de Moscou aos rebeldes que se autoproclamaram repúblicas independentes de Donetsk e Lugansk. Em 2022, a Rússia lançou uma invasão em larga escala contra a Ucrânia, alegando defender os interesses e os direitos dos russos étnicos na região. A guerra já causou mais de 20 mil mortes, mais de 2 milhões de deslocados internos e mais de 3 milhões de refugiados.
O que está em jogo nessa guerra? Quais são as motivações e os objetivos dos principais atores envolvidos? E quais são as possibilidades de uma solução pacífica para o conflito?
Para a Rússia, a guerra na Ucrânia é uma questão de segurança nacional, prestígio internacional e influência regional. A Rússia considera a Ucrânia como parte de sua esfera histórica e cultural, e teme perder o controle sobre um país estratégico que faz fronteira com a Europa e o Mar Negro. A Rússia também se opõe à aproximação da Ucrânia com a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a União Europeia, vendo isso como uma ameaça à sua soberania e aos seus interesses. Além disso, a Rússia quer afirmar o seu papel como uma potência global capaz de desafiar a ordem mundial liderada pelos Estados Unidos.
Para a Ucrânia, a guerra na Ucrânia é uma questão de sobrevivência nacional, integridade territorial e escolha democrática. A Ucrânia reivindica o seu direito à soberania independente da Rússia, e busca preservar o seu território e a sua população diante da agressão russa. A Ucrânia também aspira a se integrar às instituições ocidentais, como a OTAN e a União Europeia, vendo isso como uma garantia de segurança, desenvolvimento e liberdade. Além disso, a Ucrânia quer defender os seus valores democráticos e o seu sistema político pluralista, que foram conquistados após a Revolução Laranja de 2004 e a Revolução da Dignidade de 2014.
Para os países ocidentais, especialmente os Estados Unidos e os membros da OTAN e da União Europeia, a guerra na Ucrânia é uma questão de estabilidade regional, ordem internacional e solidariedade transatlântica. Os países ocidentais apoiam a soberania, a integridade territorial e as aspirações europeias da Ucrânia, condenando a violação do direito internacional pela Rússia. Os países ocidentais também buscam conter a expansão russa na Europa Oriental e no Mar Negro, reforçando as suas capacidades militares e as suas sanções econômicas. Além disso, os países ocidentais querem manter a sua unidade e liderança frente aos desafios globais, como o terrorismo, as mudanças climáticas e as pandemias.
Para os grupos separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, a guerra na Ucrânia é uma questão de identidade, autonomia e proteção. Os grupos separatistas se consideram como russos étnicos ou como cidadãos das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, rejeitando a autoridade do governo central de Kiev. Os grupos separatistas também reivindicam o direito à autodeterminação e à auto-governação, exigindo mais poderes e recursos para as suas regiões. Além disso, os grupos separatistas contam com o apoio militar, político e humanitário da Rússia, que os reconheceu como entidades legítimas e os forneceu com armas, soldados e ajuda.
Quais são as possibilidades de uma solução pacífica para o conflito? Há três cenários principais que podem ser considerados: um acordo de paz negociado, uma vitória militar imposta ou um congelamento prolongado da guerra.
Um acordo de paz negociado seria o cenário mais desejável e mais difícil de alcançar. Ele exigiria que as partes em conflito chegassem a um consenso sobre as questões-chave, como o status da Crimeia, o grau de autonomia das regiões separatistas, as condições para um cessar-fogo permanente, a retirada das tropas russas, a restauração da soberania ucraniana, a participação da Ucrânia nas instituições ocidentais e a garantia da segurança e dos direitos humanos de todas as populações envolvidas. Esse cenário dependeria da vontade política, da confiança mútua e da mediação internacional das partes em conflito, que até agora têm mostrado pouca disposição para fazer concessões ou cumprir os acordos anteriores.
Uma vitória militar imposta seria o cenário mais provável e mais sangrento de ocorrer. Ele implicaria que uma das partes em conflito conseguisse derrotar ou subjugar a outra por meio da força das armas, impondo os seus termos e interesses. Esse cenário poderia favorecer a Rússia, que tem uma superioridade militar evidente sobre a Ucrânia, mas também poderia favorecer a Ucrânia, que tem uma resistência popular determinada contra a Rússia. Esse cenário acarretaria um alto custo humano, material e diplomático para as partes em conflito, além de aumentar o risco de uma escalada ou de uma intervenção de outros atores regionais ou globais.
Um congelamento prolongado da guerra seria o cenário mais realista e mais incerto de acontecer. Ele significaria que nenhuma das partes em conflito conseguiria impor ou negociar uma solução definitiva para o conflito, mantendo um estado de guerra latente ou intermitente. Esse cenário poderia perpetuar a situação atual, em que a Rússia controla a Crimeia e parte do leste da Ucrânia, enquanto a Ucrânia mantém o resto do seu território e recebe o apoio do Ocidente. Esse cenário poderia gerar uma instabilidade crônica na região, além de prolongar o sofrimento das populações afetadas pela guerra.
Em conclusão, a guerra na Ucrânia é um conflito complexo e grave que envolve diversos atores com motivações e objetivos distintos. As possibilidades de uma solução pacífica para o conflito são escassas e incertas, enquanto as possibilidades de uma continuação ou de uma intensificação da guerra são altas e perigosas. A guerra na Ucrânia é um desafio para a paz e a segurança na Europa e no mundo.