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Pesquisador da UFSC alerta para secas, cheias e escassez de água no Hemisfério Sul

O professor Pedro Chaffe, da UFSC, publica um artigo na Science destacando a redução na disponibilidade de água no Hemisfério Sul e a intensificação dos fenômenos de secas e cheias.

O renomado professor Pedro Chaffe, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), fez um alerta preocupante em um artigo recentemente publicado na revista Science. O artigo, que foi destaque na edição online da revista, chama a atenção para a redução na disponibilidade de água no Hemisfério Sul e o agravamento dos fenômenos de secas e cheias.

O estudo, realizado em parceria com o professor Günter Blöschl da Universidade de Vienna, na Áustria, utilizou uma nova metodologia que combina observações de fluxos de grandes bacias hidrográficas do mundo com dados de precipitação terrestre e medições de satélite de evaporação e armazenamento de água. Os resultados mostraram que a disponibilidade de água no Hemisfério Sul diminuiu em cerca de 20% entre 2001 e 2020.

Os pesquisadores destacam que a disponibilidade de água é medida pela diferença entre a precipitação e a evaporação, aspectos que vêm sofrendo impacto direto das mudanças climáticas, além de serem afetados pelo crescimento populacional e pela poluição. No entanto, as estimativas dessas alterações são incertas, pois as medições da precipitação e da evaporação tendem a ser indiretas ou apenas representativas localmente.

A nova abordagem proposta por cientistas chineses trouxe mais confiabilidade às estimativas de disponibilidade de água, o que pode ajudar a melhorar a gestão da água a longo prazo. Os pesquisadores observaram que, enquanto no Hemisfério Norte não houve nenhuma mudança na disponibilidade média de água de 2001 a 2020, no Hemisfério Sul a disponibilidade de água diminuiu 70 mm por ano, o que corresponde a uma redução de cerca de 20%.

Os pesquisadores também atribuíram esses fenômenos a condições como a variação nas temperaturas da água (El Nino e La Nina), que podem provocar secas e inundações. Por exemplo, em 2023, secas atingiram a Amazônia enquanto, ao mesmo tempo, o Sul do Brasil sofreu inundações. Esses eventos destacam a importância de uma gestão de água eficaz e a necessidade de se preparar para as mudanças climáticas.

780 bilhões de dólares em prejuízos

As novas descobertas propostas pelos pesquisadores da China e articuladas aos estudos da UFSC indicam inúmeros desafios de gestão da água no Hemisfério Sul. O planejamento das captações de água para irrigação, indústria e residências é um destes desafios. “Quando a disponibilidade de água em rios e águas subterrâneas cai abaixo da demanda de água, as condições de seca são sentidas pelos ecossistemas e pela sociedade”, alertam.

Os pesquisadores explicam que as consequências do declínio da disponibilidade de água em escalas decadais são percebidas na diminuição do fluxo de água nos rios e níveis de água subterrânea em vastas extensões de terra, o que se nota, por exemplo, em grande parte da América do Sul.

O estudo indica que as variações na disponibilidade hídrica devem ser consideradas em escalas de tempo mais curtas, como nas suas oscilações mensais. Isso porque, em regiões com chuvas sazonais, a evaporação pode secar rapidamente o solo no início da estação seca, levando a secas repentinas. Por outro lado, num clima mais seco, as chuvas podem estar mais concentradas em estações chuvosas, o que pode levar a cheias ao invés de recarga de águas subterrâneas.

“Mais secas e mais cheia representam uma aceleração da parte terrestre do ciclo da água (um armazenamento e movimentação mais rápido de água entre terra, oceano e atmosfera), levando a aumento da degradação do ecossistema através mortalidade de árvores e, portanto, maiores emissões de dióxido de carbono”, pontuam, no texto.

O artigo assinado pelo professor da UFSC lembra que esta situação vem ocorrendo na Amazônia, intensificando ainda mais os efeitos das mudanças climáticas, e que o impacto das secas e inundações sobre os seres humanos tem sido enorme, com mais de 3 bilhões de pessoas afetadas e danos estimados em mais de 780 bilhões de dólares em todo o mundo últimas duas décadas.

Mitigação e gestão

As medidas para mitigar os efeitos na redução da disponibilidade hídrica geralmente incluem investimento em infraestrutura, como barragens de armazenamento e desvios para irrigação, além de soluções baseadas na própria natureza e na sensibilização para uma mudança de cultura. “Estas soluções podem incluir a diversificação dos sistemas de abastecimento de água e de proteção contra inundações e o planejamento da flexibilidade na utilização da água para reduzir o impacto potencial de eventos extremos”, sugerem.

O alerta, entretanto, é quanto à resposta humana ao stress hídrico, que pode ter consequências inesperadas e que já são notadas e registradas pela ciência. “Em partes da América do Sul, o uso de água para a agricultura aumentou e contribuiu com 30% para o aumento nas tendências de seca no fluxo dos rios”, indicam. Nas regiões semiáridas, isso, associado às alterações climáticas, pode amplificar ainda mais a crise.

Os pesquisadores afirmam que os desafios na gestão da água provocados pela redução na sua disponibilidade exigem uma mudança desde a resposta à crise até à gestão pró-ativa a longo prazo, conforme defendido em documentos oficiais de entidades globais. “Esta gestão pró-ativa da água precisa de estar alinhada com objetivos globais, como os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, e na experiência dos cidadãos locais, hidrólogos, e gestores de água”.

| Com informações da UFSC |

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