Judeu austríaco sobrevivente de quatro campos de concentração tem história contada em filme brasileiro
"Além da Liberdade" investiga trajetória do pai da Logoterapia, o psiquiatra Viktor Frankl e de seu legado em favor do sentido da vida
Prisioneiro de quatro campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, o psiquiatra austríaco Viktor Frankl se firmou mundialmente por seu testemunho em defesa do sentido da vida e da liberdade humana — sejam quais forem os sofrimentos, obstáculos ou dificuldades que se apresentem. Buscando resgatar detalhes da trajetória dessa personalidade que marcou a história no século 20, o documentário “Além da liberdade” estreou no domingo (26). Resultado de uma parceria da plataforma de streaming Lumine com o instituto Em Rota, o filme pode ser visto gratuitamente no canal do YouTube da Lumine e também dentro da plataforma, para assinantes.
A equipe de produção viajou para cinco países, com objetivo de fazer registros inéditos de lugares que moldaram a biografia do fundador da Logoterapia. O percurso inclui República Tcheca, Argentina, Áustria, Polônia e Alemanha, com destaque para os centros de confinamento onde ele esteve. Nesses locais, foram colhidos depoimentos de pessoas que conviveram de perto com Viktor Frankl, incluindo sua esposa Elly Frankl e a aluna Elizabeth Lucas.
“Esse lançamento tem uma conexão muito forte com nossa razão de ser. Há quatro anos, existimos para contar histórias que precisam ser contadas e que têm a capacidade de iluminar as pessoas, inspirando valores universais. A vida heroica de Frankl, por tudo que ele passou e tudo que nos ensinou a partir dessas vivências, é um farol”, pontua o fundador da Lumine, Matheus Bazzo.
Com 1h30 de duração, o longa-metragem conta como guias os professores e psicólogos Luis Enrique Paulino Carmelo e Claudio García Pintos, que são referências na obra do psiquiatra austríaco. “Há dez anos, eu estudo a Logoterapia e trabalho com ela na clínica. E, já há algum tempo, eu queria conhecer um pouco da vida de Viktor Frankl in loco”, revela Luis Enrique, que teve a iniciativa de produzir o filme e buscou a Lumine para a concretização do projeto.
Dirigido por Gustavo Leite e Julia Sondermann, “Além da Liberdade” foi produzido ao longo de dez meses. “A história é contada a partir da proximidade. Nós expomos a realidade dentro do contexto em que ele se encontrava, mostrando que, até diante de condições extremas, as dificuldades podem ser superadas”, reflete Leite.
Ao todo, para a realização do filme, foram visitados três campos de concentração: Auschwitz, Dachau e Terezin. Segundo os diretores, os diversos registros foram captados para simular, a quem assiste ao documentário, uma experiência de como seria estar nesses lugares. É como se fosse uma vivência em primeira pessoa, contando com uma série de recursos audiovisuais, como os sons de uma guerra. “Vamos entendendo a vida de Viktor Frankl conforme fazemos essa viagem”, resume o diretor.
“Além da Liberdade” teve uma pré-estreia na última sexta-feira (24), em sessão especial para convidados, em uma sala de cinema de São Paulo. Além de ser exibido no canal do YouTube da Lumine para todo o público, cenas inéditas do filme serão disponibilizadas para assinantes da plataforma de streaming, incluindo uma mesa-redonda com discussões sobre a biografia do psiquiatra.
Quem foi Viktor Frankl?
Nascido em uma família judia em Viena (Áustria) no ano de 1905, ele foi perseguido e teve quase toda sua família morta pelos nazistas. Nos campos de concentração, presenciou o que de pior a humanidade é capaz, mas também percebeu a grandeza de espírito de pessoas que conseguiram superar as circunstâncias de dificuldade.
A observação da força da liberdade humana o impactou de tal modo que, depois da guerra, dedicou-se a estudar a fundo esse tema. A partir das suas descobertas, fundou uma escola de psicoterapia chamada Logoterapia e escreveu livros que se tornaram best-sellers.
Em cada etapa de sua trajetória, pôs em prática o que buscou transmitir com sua teoria: sempre há um sentido a ser encontrado, mesmo em meio ao sofrimento. Ele diz: “tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da vida”.
Ele é o cientista com o maior número de condecorações do século 20, recebendo 30 títulos de Doutor Honoris Causa. Foi convidado para dar palestras em mais de 200 universidades em todo o mundo, em cinco continentes. Madre Teresa de Calcutá o indicou para concorrer ao prêmio Nobel da Paz.