Já sabemos que a culinária francesa é referência ao redor do mundo. No quesito doces e salgados eles são quase imbatíveis com suas baguetes, croissants, macaron, profiteroles, crème brûlée, crepe Suzette e outras receitas tradicionais. Entretanto, tal singularidade vai muito além do sabor e sofisticação, já que o papel do alimento no estilo de vida do povo francês é bom exemplo gastronômico para os demais países, incluindo o Brasil.
Mesmo com uma dieta rica em gorduras saturadas e a tradição em panificação e confeitaria, os franceses apresentam índices de problemas cardiovasculares inferiores aos verificados em outros povos. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a incidência de obesos no país é de 15,3%, abaixo da média verificada na União Europeia, de 15,9%. No Brasil, este número é de 18.9%, considerando ainda que existem diferenças em tamanho territorial.
Embora os últimos dados do Ministério da Saúde (VIGITEL, 2017) indiquem que os brasileiros adquiriram hábitos alimentares mais saudáveis nos últimos anos, consumindo mais fibras, frutas e hortaliças, verifica-se também que a obesidade continua aumentando no País. Diante destas constatações, surgem as perguntas: quais são as diferenças e similaridades existentes entre as populações do Brasil e da França no que se refere à alimentação?
Segundo o antropólogo Raul Lody, a relação que o povo francês guarda com seus alimentos é peculiar, assim como ocorre com o brasileiro. “Há o mesmo sentimento de nacionalidade na comida e nos valores socioculturais agregados à alimentação, seja em encontros familiares, festas populares e eventos envolvendo panificação, confeitaria e doces”, explica. Contudo, de acordo com o especialista, a mentalidade dos dois povos em relação à comida é diferente por motivos históricos, sociais, econômicos e culturais.
No Brasil, valorizamos a fartura, servindo grandes porções à mesa. A nutricionista Marcia Daskal comenta que “embora tenhamos alimentos e ingredientes riquíssimos do ponto de vista nutricional, com muitas frutas e vegetais, o brasileiro ainda acha que comer bem é comer muito.” Em alguns casos, os alimentos acabam sendo utilizados como formas de compensação, desencadeado a chamada “fome emocional”. Ou seja, a pessoa consome mais do que o necessário em busca de uma sensação de conforto
“Para os franceses o importante é valorizar e aproveitar o alimento na sua totalidade. Independentemente de qualquer ingrediente específico ou quantidade, todos têm grande expressividade em celebrações sociais ou dentro do cotidiano. Dessa forma, estes hábitos alimentares continuam como grandes indicadores de uma dieta consolidada”, complementa a nutricionista. Verifica-se, portanto, que comer moderadamente e sem pressa, mantendo um estilo de vida ativo, é a forma mais saudável que existe na luta contra a obesidade, justamente o contrário do que vem fazendo os brasileiros, que buscam, cada vez mais, dietas “milagrosas” para o controle de peso. “Ainda que combinações alimentares tradicionais reconhecidamente benéficas (como o arroz com feijão) façam parte da nossa cultura, o brasileiro ainda não valoriza isso e tende a aplicar dietas restritivas e que não trazem benefício algum”, esclarece Marcia.
Segundo o antropólogo Raul Lody, “as diferentes maneiras com que o brasileiro se relaciona com a alimentação, atrelado aos diferentes estilos de vida, visto que somos um país de dimensões continentais, é um dos fatores que interferem na conquista de hábitos mais saudáveis.” Além disso, as porções exercem grande influência nos processos de mudança de hábitos alimentares. “A quantidade e os nutrientes devem ser levados em conta para chegar a um equilíbrio”, comenta a nutróloga Marcia Daskal.
Conclusão: reduza as porções, coma de tudo um pouco e movimente-se, de preferência fazendo uma atividade física diária. Eis a fórmula para você emagrecer de forma saudável sem aquele peso horrível na consciência.