O javali segue como um dos assuntos polêmicos no meio rural e agora é objeto de novo estudo. A transmissão de doenças por meio deste animal foi o tema demarcado pela pesquisadora Fabiana Mayer, do Laboratório de Biologia Molecular do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF), na palestra “Javalis de Vida Livre: uma Ameaça à Saúde”, realizada na tarde desta segunda-feira (27), no auditório da Administração Central do Parque de Exposições Assis Brasil.
A pesquisa, realizada durante dois anos na fazenda Barba Negra, em Barra do Ribeiro, apresentou indicativos de frequência de bactérias da tuberculose em animais de vida livre, caçados em áreas de preservação ambiental permanente. O javali é uma espécie exótica no país, ou seja, não é nativo da terra – e tampouco silvestre –, pois foi introduzido no século XVI por colonizadores europeus. Muito contestado por fazendeiros, considerado como “praga” em razão dos prejuízos econômicos causados pelo crescente ataque de rebanhos ovinos ou em lavouras, o javali é alvo de outra polêmica, agora, em razão de ser eventual transmissor de doenças.
O estudo aponta que o onívoro no habitat gaúcho mostra taxas excessivamente altas de bactérias para outras doenças, como a leptospirose. Ainda que a pesquisa não seja conclusiva, pois segue em andamento e parte para a etapa metagenômica – estudo com material genético recuperado diretamente a partir de amostras ambientais –, os indicativos revelam que no comparativo com outras espécies fora do país, têm taxas elevadas de bactérias nocivas. Para Fabiana Mayer, quando em contato com humanos ou animais domésticos, a probabilidade de transmissão pode aumentar. “Uma coisa é ter conhecimento se o animal tem inoculado a bactéria, a outra é saber se ele está transmitindo a doença”, explica.
Em uma amostragem com 80 animais, 24% apresentaram a bactéria da tuberculose, ou seja, indicação da possibilidade de os javalis exercerem um papel de reservatórios de tuberculose. A pesquisadora aponta que é necessário avançar na pesquisa, pois a disseminação da doença é pouco abordada no Brasil, o que torna a avaliação frequente. “A partir da base de dados, temos evidências mais contundentes que o javali se torna uma ameaça à saúde pública”, comprova.
Atualmente, é permitido em todo o país o abate do animal pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) obedecendo alguns critérios de cadastro e temporada de caça. A fêmea tem alto potencial de reprodução, com até três crias anuais e grande capacidade migratória, sobretudo de países vizinhos, considerada entre as 100 piores espécies invasoras. A recomendação é evitar o consumo de carne de javali sem procedência, que não passe por inspeção sanitária e que invariavelmente apareça no mercado.