Saúde

Doenças vasculares são mais frequentes em fumantes, diabéticos e obesos

Varizes, inchaço, trombose e dor nas pernas são alguns dos problemas vasculares mais comuns — e a genética está relacionada a isso. Segundo a cirurgiã vascular e angiologista Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, muitos dos problemas vasculares aparecem por conta de uma predisposição genética, mas ficar de olho nos maus hábitos (e evitá-los) é uma forma importante de se precaver: “Principalmente pacientes com predisposição a desenvolver doenças vasculares devem levar uma vida saudável, evitando a obesidade e praticando exercícios, pois isso diminui as chances de aparecerem as varizes hereditárias e outros problemas de circulação mais sérios, como a trombose”, afirma. A médica lista seis fatores que contribuem para o surgimento desse tipo de doença:

Tabagismo:

O cigarro também pode causar problemas circulatórios como arteriosclerose (envolvendo as artérias da perna) e tromboangeite obliterante – distúrbio que afeta as extremidades do corpo. “Em ambos os casos, há riscos de ter de amputar o membro (como pernas, pés e mãos)”, explica. A médica enfatiza que a nicotina está ligada à diminuição da espessura dos vasos sanguíneos. “Além disso, o monóxido de carbono oferece um fator adicional de risco ao diminuir a concentração de oxigênio no sangue. Todo esse processo pode causar complicações para o normal funcionamento dos vasos, que ficam mais susceptíveis ao entupimento, podendo levar a processos de trombose principalmente quando há fatores de risco envolvidos”, afirma a médica.

Alguns estudos também sugerem que a exposição à fumaça do cigarro resulta na ativação das plaquetas e estimulação da cascata de coagulação, por isso há um aumento na incidência de trombose arterial em fumantes. “Ao mesmo tempo, as propriedades anticoagulantes naturais são significativamente diminuídas”, comenta. Outra complicação do cigarro é que o ele dificulta o importante papel do sangue no processo de cicatrização, após cirurgias e procedimentos. “O vaso mais estreito tem um fluxo menor de sangue e o suprimento de oxigênio aos tecidos é afetado. Isso dificulta a cicatrização e pode causar até necrose de pele. Várias substâncias no cigarro dificultam a formação de fibroblastos, células ligadas ao processo cicatricial”, comenta.

Diabetes:

A diabetes já é um grande problema por si só. Porém, a doença ainda pode evoluir para uma série de complicações, sendo o pé diabético uma das principais e mais graves consequências da condição. “Podendo afetar ambos os sexos de igual forma, o pé diabético é uma complicação da Diabetes mellitus e ocorre quando uma área machucada ou infeccionada nos pés, como uma bolha, frieira ou até mesmo um calo, evolui para uma ferida maior, que, se não tratada, pode agravar-se e levar a necessidade de amputação”, explica a angiologista.

Segundo a especialista, isso ocorre por que os altos níveis de glicemia no sangue, característica típica da diabetes sem controle, tornam a circulação sanguínea deficiente. Consequentemente, as células de defesa do sistema imunológico diminuem, a cicatrização e a regeneração de tecidos são mais difíceis e os nervos periféricos, responsáveis pela sensibilidade nos pés, sofrem danos. Dessa forma, o organismo passa a não conseguir curar as feridas que surgem no local. “Os principais sintomas desta condição incluem perda da sensibilidade nos pés, sensação de formigamento frequente, queimação nos pés e tornozelos, dor e sensação de agulhadas, dormência e fraqueza nas pernas”, alerta a médica.

Obesidade:

Pessoas obesas têm maior disposição de desenvolver varizes por causa da quantidade de volume sanguíneo dentro das veias que se eleva. Além disso, a gordura acumulada dentro dos vasos sanguíneos também acarreta em uma má circulação. Além das varizes, outra complicação que pode surgir entre obesos é a trombose em decorrência do mau bombeamento do sangue para o corpo inteiro, gerando doenças ligadas ao sistema vascular.

Sedentarismo:

“A panturrilha é o coração das pernas: a cada contração muscular bombeamos o sangue e ativamos a nossa circulação. Situações onde essa musculatura fica parada muito tempo podem causar uma retenção de líquido nas pernas, levando a inchaço, pernas pesadas, cansadas e aumentando a predisposição de desenvolver varizes e trombose venosa”, afirma a médica. E para mudar esse quadro nem precisa ser atleta profissional, já que os exercícios de baixo impacto são benéficos, pois a contração da musculatura em caminhadas por exemplo, entre outros benefícios, aumenta a velocidade do fluxo do sangue nas veias, melhorando o retorno do sangue ao coração.

Traumas nos membros inferiores:

“Grandes traumatismos também são importantes fatores de risco para a trombose venosa profunda, não só pelo impacto nos vasos sanguíneos, mas também pelo tempo que o paciente fica imobilizado na cama depois do acidente”, afirma. Além disso, o impacto nas veias pode dificultar a circulação de sangue e favorecer o aparecimento de varizes.

Uso contínuo de pílulas anticoncepcionais:

A ligação entre a trombose e o anticoncepcional é que o hormônio dos anticoncepcionais altera a circulação e aumenta o risco de formação de coágulos nas veias profundas, dentro dos músculos. “Quando esse trombo se solta e se desloca até o pulmão, ele é chamado de Embolia Pulmonar (EP) e em muitos casos é fatal”, acrescenta a médica. Um estudo publicado na revista especializada The BMJ Today, e que foi conduzido por pesquisadores britânicos, mostra que as mulheres que tomam contraceptivos orais combinados, que contêm drospirenona, desogestrel, gestodeno e ciproterona, têm um risco de trombose venosa quadruplicado em relação àquelas que não tomam pílula. “O risco é quase duplicado em relação às mulheres que tomam contraceptivos orais de estrogênio mais antigos, que contêm levonorgestrel, noretisterona ou norgestimata”, conta a médica. Segundo a angiologista, diferentemente do que se pensava, meios alternativos de administração desses hormônios, como adesivos, implantes e anéis não diminuem o risco: “Geralmente esses métodos terão um risco maior em relação aos anticoncepcionais mais antigos (à base de levonorgestrel), mas mais baixo em relação aos anticoncepcionais modernos (anticoncepcionais combinados de microdosagem)”, explica a médica. “Consulte sempre seu médico de confiança e discuta o seu anticoncepcional. Toda medicação está sujeita a complicações e a decisão se o risco/benefício dessa droga vale a pena é feito entre você e o seu médico”, finaliza.

Dra. Aline Lamaita

Cirurgiã vascular e angiologista, Dra. Aline Lamaita é membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine. Formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a médica participa, na Universidade de Harvard, de cursos de pós-graduação que ensinam ferramentas para estimular mudanças no estilo de vida nos pacientes em prol da melhora da longevidade e qualidade de vida. 

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