Quem nunca ouviu a expressão “sinta-se em casa?” Muito mais do que um tratamento cordial é assim que gestantes de alto risco, puérperas e mamães com o bebê na UTI Neonatal identificam a estada na Casa da Gestante de Novo Hamburgo. Até o momento, 35 já foram acolhidas no espaço desde a inauguração do serviço em 20 de dezembro. E para estimular um ambiente de interação, a Fundação de Saúde Pública de Novo Hamburgo (FSNH) implantou o “Histórias na Cozinha”, projeto que deflagrou outras iniciativas, como o 1\2 Hora Musical realizado, pela primeira vez, nesta quinta-feira, 24. Gestor de contratos do Setor de Compras Marcos Keller, que trabalha há oito anos na instituição, trocou seu intervalo de almoço por muita canções. “É sempre bom levar música para as pessoas”, disse ele, que apresentou um repertório variado, do pop rock, passando pelo sertanejo e o pagode.
O presidente da FSNH, Rafaga Fontoura, faz um balanço positivo do primeiro mês de funcionamento do espaço. “A Casa da Gestante está cumprindo sua principal função, que é contribuir para a redução da morbi-mortalidade (doenças e morte) materna e neonatal”, afirma, observando que o objetivo é proporcionar apoio para as mães que não precisam ficar internadas, mas que necessitam de acompanhamento por mais tempo. “Trata-se de um acolhimento diferenciado que envolve uma equipe multiprofissional, composta por médicos, assistente social, fisioterapeuta, psicóloga e enfermeiros”, completa. O espaço de 423,71 metros quadrados possui cinco quartos, somando 20 leitos, além de cozinha, lavanderia, sala multiuso e consultórios para atendimento.
APOIO E DESCONTRAÇÃO – O “Histórias na Cozinha” e o 1/2 Musical são os primeiros projetos de uma série. A proposta é dar início a oficinas de tricô e crochê, montar uma horta com chás e temperos para serem utilizados, exclusivamente, pelas moradoras temporárias, entre outras atividades já em estudo. “Através dos momentos de descontração e relaxamento promove-se ressignificações da internação, gestação e maternidade, o que contribui com os aspectos emocionais durante este processo tão delicado”, afirma Fernanda Jaeger, psicóloga da área materna da FSNH. Segundo ela, mães mais tranquilas e presentes aceleram o processo de recuperação dos bebês, consequentemente levando à alta hospitalar.
Embora tenham histórias diferentes, o pano de fundo é o mesmo: a necessidade de estarem próximas ao ambiente hospitalar, seja para ficarem perto do bebê ou para terem acompanhamento médico. Caso de Andra Regina Abreu de Lima. Com 35 semanas e 6 dias de gestação, a moradora do bairro São José, de Novo Hamburgo, tem diagnóstico de pré-eclâmpsia e está na Casa da Gestante desde 17 de janeiro. “Sinto como se estivesse na minha casa, sem falar que a proximidade do hospital me deixa mais segura e tranquila”, diz Andra, enquanto preparava um lanche. Ela precisa ficar até o nascimento de Yohanna devido ao controle diário da pressão e utilização de medicação.
NA COZINHA – Entre medicações e cuidados, a cozinha é o ponto mais movimentado da Casa. É lidando no fogão, pegando um ingrediente na geladeira ou batendo a massa para fazer uma receita que as gestantes ou já mamães trocam experiências, recebem orientações e fazem novas amizades. “Tudo sob a supervisão da equipe multiprofissional”, explica a enfermeira Simara Villela Netto. Convivência intensificada pelo “Histórias na Cozinha”, um projeto que nasceu com o intuito de fortalecer e motivar estas mulheres a enfrentarem os momentos delicados e de angústia. “Nosso objetivo é realizar o projeto todas as sextas-feiras, trabalhando uma gastronomia que esteja ligada com a história familiar das pacientes”, acrescenta a psicóloga Fernanda.
No início de janeiro, Mara Cristina Machado, Andressa Rodrigues de Ávila e Miriã Krentz Lucas se encontraram na Casa da Gestante. Nunca tinham se visto, mas a maternidade colocou as três juntas para enfrentarem seus medos e se tornarem amigas. E foi fazendo uma torta de bolacha que foram falando da importância deste novo espaço. Andressa saía cedo de Campo Bom, onde mora, para ficar até as 19 horas com Davi, que estava na UTI Neonatal. Por causa do trajeto diário, só conseguia amamentar em quatro horários específicos, nos demais precisava retirar o leite para os demais horários em que não estava presente – a alimentação é de 3 em 3 horas. Realidade que mudou. “Antes voltava para casa e só dava vontade de chorar. Ao ficar pertinho dele, 24 horas, tudo fluiu melhor e ele melhorou, podendo ir para casa depois de mais de 60 dias de internação.”
AS VISITAS
- Diferentemente das regras de visitas a pacientes hospitalizados, crianças menores de 12 anos podem visitar as pacientes na Casa da Gestante.
- Não há um número limite para visita de familiares.
- A visita é aberta de segunda a segunda, das 9 às 10 horas e das 16 às 19 horas.