Saúde

É preciso falar com as crianças sobre a inclusão

Conversar com os pequenos sobre as diferenças e como conviver com elas ajuda as crianças com necessidades especiais a se sentirem mais inseridas nas atividades da escola

Nesta semana as escolas de todo o Brasil vão receber novos e antigos alunos para o início de mais um ano letivo. Desde o começo do ano os pais já têm se preparado para comprar os materiais, organizar as agendas, pensar nas melhores opções de lanche saudável para as lancheiras… todas as rotinas que, quem tem filho em idade escolar, já conhece muito bem. Mas esse período do ano também é importante para que outras questões entrem em pauta. A inclusão de crianças com necessidades especiais nas escolas é uma delas. Você, que é mãe, sabe como conversar com seu filho sobre esse assunto?

A inclusão nas escolas é lei e realidade no Brasil há alguns anos, mas muito mais do que apenas garantir uma vaga para que a criança possa estudar, a inclusão de verdade consiste em permitir que os portadores de necessidades especiais tenham as mesmas oportunidades que os demais e isso inclui brincar, interagir, ter amigos, participar de atividades. E a integração com o grupo é fundamental. Por isso, cabe aos pais e educadores um diálogo aberto com as crianças, para que elas saibam o que é ou não bacana fazer ao conhecer um novo coleguinha que não é “igual” a elas.

“Muitas vezes os colegas de sala nem percebem que no grupo há um aluno especial. No máximo eles notam que algo naquela criança não é igual, mas é uma característica das crianças ignorar essas questões e tratar todos da mesma forma. É o excesso de zelo, tanto dos pais quanto dos próprios professores, que às vezes interfere nessa interação”, comenta Lenice Micheletti, diretora do Colégio Notre Dame.

No entanto, quando essa adaptação não acontece tão naturalmente e gera dúvidas, é hora de conversar com os pequenos e ensinar como eles podem agir para que a inclusão seja feita com sucesso. O primeiro passo é falar com a criança sobre as diferenças. Mostrar para ela que o papai é mais alto que a mamãe, que o cabelo de uma pessoa é liso e o de outra cacheado, falar que todas as pessoas são diferentes e que isso não é um problema, muito pelo contrário, é o que faz cada um de nós especial.

“Nesse momento, quando falarem sobre as diferenças, os pais devem incluir as deficiências na lista, pessoas que usam cadeira de rodas, pessoas que não usam… é essa naturalidade que vai ajudar a criança a entender que essa necessidade especial não é um problema e que ela pode conviver normalmente com aquele novo amigo”, explica Lenice.

É importante também, nesse momento, que se fale sobre as semelhanças, como por exemplo “aquela criança usa uma muleta, mas gosta das mesmas músicas e desenhos que você”. As crianças conseguem perceber com facilidade que pessoas com deficiência são mais parecidas com elas do que diferentes.

Estimular as crianças a falarem com todos os novos alunos também é uma boa dica de inclusão. “Mais do que estimular o primeiro ‘oi’, é importante que os pais estimulem que os filhos incluam os novos amigos nas brincadeiras, que conversem mesmo com aqueles que aparentemente não conseguem falar, que acolham a todos como gostariam de ser acolhidos”, explica Lenice.

Por fim, vale lembrar que quando corrigimos demais os comportamentos espontâneos dos jovens, acabamos estimulando que eles se tornem mais retraídos e não sejam tão receptivos com pessoas que sejam diferentes, e portanto um “mistério” para elas. Crianças são naturalmente sinceras. Dizem quando não gostam de alguma coisa, quando alguém pesa mais do que outra pessoa, interagem quando se deparam com o novo. Se os pais sempre brecam esse tipo de comportamento, com medo de passar por situações constrangedoras, eles podem acabar brecando também o impulso de perguntar ‘o que você tem nas suas perninhas?’, por exemplo, ou até ‘você consegue brincar de pega-pega?’, que são perguntas que as crianças com necessidades especiais esperam receber e sabem responder.

“As crianças deficientes não se importam, em sua grande maioria, em conversar sobre a deficiência, afinal ela faz parte da vida e as perguntas estão presentes na rotina delas desde o nascimento. Então, os colegas podem e devem perguntar o que tiverem curiosidade. E os adultos podem aprender um pouco também com essa verdade que só as crianças são capazes de oferecer”, finaliza Lenice.

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