Saúde

Cisto e atividade física

Vou operar uma atleta que se incomoda com um cisto que nasceu no dorso do pé, o que a impede de calçar os tênis e, eventualmente, dá dor durante as provas longas. O tamanho do saco ou cisto pode alterar a sua atividade esportiva. Ou seja, quanto maior o volume, mais incomodo causará. Ele também pode desaparecer por algum tempo e retornar apenas quando voltar a correr ou fazer algum esforço.

Na maioria das vezes, a causa de um cisto sinovial é desconhecida (idiopática), embora exista alguma evidência de que o trauma pode ser um fator adjuvante. Os fatores de risco para o desenvolvimento de cistos são a osteoartrite, a artrite reumatoide, trauma agudo ou crônico, instabilidade articular e lesões por sobrecarga de movimento repetitivo. O risco é maior para os indivíduos que participam de atividades repetitivas, como digitação ou tocar um instrumento musical.

Tipos de cistos:
Cisto sinovial: pequeno saco ou bolsa cheio de líquido que pode se desenvolver ao longo de um tendão ou articulação, criando uma massa/volume sob a pele. São mais comuns no pulso, joelho e quadril. Cistos também podem se formar no ombro, cotovelo, mão (bainha do tendão flexor nos dedos), parte superior do pé (dorso) e tornozelo. Um cisto sinovial pode ou não ser doloroso, dependendo do seu tamanho e localização.

Cistos sinoviais também pode se desenvolver em uma coluna degenerada, mais frequentemente entre a quarta e a quinta vértebra lombar (L4-L5), onde há mais movimento e potencial de trauma crônico e instabilidade. Este tipo de cisto pode limitar o movimento da articulação vertebral e comprimir os nervos adjacentes e estruturas vasculares.

Cistos gangliônicos (ou ganglionares): são os cistos mais comuns encontrados nas mãos e nos pés.

Cisto mucóide (ou mixóide): é um cisto sinovial da última articulação de um dígito falange distal(DIP). Cistos mixóides são causados por vazamento de fluido sinovial da articulação DIP, com ou sem doença articular degenerativa subjacente (osteoartrite).

Cisto (cisto poplíteo): forma-se na parte de trás do joelho quando o líquido de dentro da articulação do joelho torna-se presos ou comprimidos fora do ambiente comum, quer em uma bursa (semimembranoso ou bursa medial do gastrocnêmio) ou em uma herniação da membrana sinovial através da cápsula articular também é conhecido como cisto de Baker. Pode ser provocado por qualquer condição que causa inchaço no joelho (por exemplo, osteoartrite, artrite reumatóide, lesão meniscal).

Geralmente, o indivíduo não pode identificar um incidente significativo ou relatar uma lesão traumática específica que precipitou a formação de cistos. No entanto, o indivíduo irá notar o cisto, se doloroso ou não, nos membros, especialmente tornozelo, pulso, dedos, ou parte superior do pé. Embora a dor possa estar presente, a dor geralmente desaparece e o cisto torna-se assintomático após alguns meses.

O indivíduo pode relatar dor e inchaço com a atividade, e o cisto pode mudar em tamanho com aumento da atividade. Raramente um cisto comprime um nervo, mas se isso acontecer o indivíduo pode relatar sensação de formigamento ou dormência no membro afetado.

Exame físico: A apalpação do cisto revela uma suave massa com conteúdo liquido ou mais rígida perto de um conjunto ou mais de um tendão. Um cisto gângliônico na mão ou pulso pode reduzir a força de preensão. Com um cisto mixóide do dedo, a unha pode aparecer deformada. Com um cisto poplíteo, o médico pode apalpar um espessamento ou a massa de tecido mole na parte de trás do joelho afetado. Um cisto sinovial que não pode ser visto (oculto) deve-se suspeitar de dor no punho, sem trauma. Embora cistos sinoviais da coluna lombar não possam ser vistos ou palpados, podem resultar em déficits sensoriais e musculares e alterações reflexas.

Exames complementares: Um líquido gelatinoso espesso é normalmente obtido com drenagem (aspiração) do cisto. As radiografias podem ser realizadas para afastar tumor ou artrite reumatoide. Embora não seja normalmente necessário, ressonância magnética (MRI) é muito útil para visualizar o cisto (por exemplo, cistos ocultos do pulso). No caso de cistos sinoviais ocultos da coluna lombar, a tomografia computadorizada (TC) mostra tipicamente uma massa de tecido mole adjacente a uma articulação degenerativa. Um cisto sinovial do joelho normalmente não é visível em raios-x simples, apesar de os raios-x poderem confirmar a presença de osteoartrite, que é associada a esses cistos. Um ultrassom é um exame simples que detecta e ajuda na localização.

O tratamento conservador para cistos sinoviais pode incluir compressas de gelo aplicada diretamente na região afetada, juntamente com medicação oral para a dor e inflamação. Outra forma de tratamento conservador para cistos sinoviais consiste em aspirar o líquido do saco com uma agulha de grande calibre. O saco pode, por vezes, ser injetado com um fármaco corticosteroide para tentar encolher o cisto. Para cistos sinoviais lombares, podem ser indicadas injeções de esteroides na articulação da faceta afetada.

Nos casos crônicos, cistos dolorosos, ou recorrentes, podemos lançar mão de técnicas cirúrgicas, incluindo a remoção do cisto por fluoroscopia guiada para a cirurgia (excisão minimamente invasiva). Há casos em que pode ser necessária a cirurgia para ampliar o espaço ao redor da área afetadas quando há compressão da raiz nervosa (laminectomia ou foraminectomia). O cisto também pode se romper espontaneamente, proporcionando alívio. Qualquer um dos métodos escolhidos deve ser orientado pelo médico especialista. Se ele não incomodar, pode, sim, fazer sua atividade esportiva, mas acompanhe para que ele não cresça e atrapalhe seus treinos!

Ana Paula Simões é Professora Instrutora da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Mestre em Medicina, Ortopedia e Traumatologia e Especialista em Medicina e Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. É Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé, da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte; e da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte.

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