Saúde

Pediatras orientam sobre como lidar com as crianças durante a quarentena

A Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou sexta-feira (27) documento científico com orientações para auxiliar os pais e responsáveis a lidarem com as crianças e adolescentes durante o confinamento imposto pela pandemia de COVID-19. Elaborado pelo Departamento Científico (DC) de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria, a publicação contém uma série de recomendações práticas para as famílias que ainda não conseguiram organizar a nova rotina no dia a dia.

“Os filhos não estão indo às escolas, por isso, a tarefa de cuidar deles passou a ser em tempo integral. Além disso, no atual cenário, os avós não podem contribuir com o monitoramento das crianças e os pais precisam lidar com os afazeres da casa e, ao mesmo tempo, trabalhar em esquema de home office. Todo esse novo contexto acende um importante sinal de alerta para o estresse tóxico. Se os pilares de saúde dos filhos não forem respeitados, a tensão diária e elevada gerada pela situação de pandemia pode acarretar em diferentes transtornos”, advertiu a dra. Liubiana Arantes de Araújo, presidente do DC de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria.

ESTRESSE TÓXICO – As constantes situações de estresse e adversidades vividas na infância determinam uma resposta fisiológica de elevação de determinados hormônios no corpo, como o cortisol e a adrenalina, com consequência de sobrecarga do sistema cardiovascular e riscos à construção da arquitetura cerebral das crianças.

Essa situação pode gerar várias consequências em curto prazo, como transtornos do sono, irritabilidade e piora da imunidade. Em médio e longo prazo, há a possibilidade de maior prevalência para atrasos no desenvolvimento, transtorno de ansiedade, depressão, queda no rendimento escolar e estilo de vida pouco saudável na vida adulta.

RECOMENDAÇÕES – Para evitar o desenvolvimento ou agravamento desses problemas na população infantojuvenil durante a quarentena estabelecida em função da COVID-19, a Sociedade Brasileira de Pediatria elaborou as seguintes recomendações, baseadas em pesquisas da Neurociência e outras publicações científicas recentes:

Os adultos devem discutir em conjunto as atividades prioritárias do dia a dia e estabelecer horários para realizar as tarefas e obrigações. Os afazeres devem ser preferencialmente intercalados de forma que as crianças recebam atenção e permaneçam sob supervisão, quando necessário.
É fundamental realizar o planejamento da agenda dos filhos – sempre em comum acordo com as crianças – e incentivar o equilíbrio de horários para manter em dia as atividades de estudo e leitura, exercícios físicos, sono e ócio criativo.
O tempo de tela deve respeitar os limites definidos pela Sociedade Brasileira de Pediatria para cada faixa etária. Evitar a exposição de crianças menores de dois anos às telas, mesmo que passivamente.
Inserir as crianças e adolescentes nas tarefas domésticas respeitando a capacidade de acordo com a idade de cada um.
Incluir também na agenda momentos para que a família possa estar unida de forma alegre e prazerosa. Tente realizar as refeições junto.
Intercalar períodos de atividades físicas dentro do lar em mais de um horário do dia e, se possível, fazer as atividades em conjunto, com a participação de pais e filhos. Estimule a criatividade: criar circuitos com travesseiros e garrafas plásticas; pular corda; dançar; artes marciais, dentre outros.
Usar a tecnologia a favor de todos. Estimular os avós a terem conversas – por videoconferência – alegres, com momentos de descontração. Visualizar os avós em boa saúde pode tranquilizar as crianças.
Os pais devem ensinar como higienizar corretamente as mãos, proteger o rosto ao espirrar ou tossir e evitar o contato físico. Esses cuidados devem ser um hábito diário, mesmo após a pandemia acabar. As orientações podem ser fornecidas por meio de ferramentas lúdicas, como músicas, leituras e brincadeiras.
É necessário conversar sobre a situação atual, com linguagem simples e adequada a cada idade. As informações devem ser transmitidas de forma tranquila para evitar medo, ansiedade e elevação do estresse. Importante ressaltar que as medidas atuais são formas de prevenção e a expectativa é de bons desfechos.
Os pais devem fornecer condições, a partir de um ambiente acolhedor e de apoio mútuo, para que os filhos expressem seus sentimentos e suas dúvidas.
Importante reservar um a dois momentos do dia para que os adultos possam se atualizar em relação às informações, sem expor as crianças a conteúdos inadequados.

Nas orientações, a Sociedade Brasileira de Pediatria sugere, ainda, que os pais assumam o papel de referência, exercendo eles mesmos o padrão de comportamento que esperam dos filhos. Além disso, a entidade reforça a necessidade de explicar para as crianças e adolescentes que o momento não é um período de férias, mas uma situação emergencial e transitória de reorganização social, desse modo, todas as atividades cotidianas devem ser exemplarmente cumpridas.

“A necessidade de permanecer em casa é uma medida extrema que modificou completamente o funcionamento da vida das famílias. Nesse período, reforçamos a importância dos pais estarem atentos às recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria e, caso necessário, entrar em contato com o pediatra da família para tirar dúvidas – mesmo que à distância – e evitar efeitos deletérios na saúde e bem-estar das crianças e adolescentes”, afirmou a dra. Liubiana de Araújo.

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