Os integrantes do projeto GPS COVID em Esteio divulgaram, nesta terça-feira (26), os números da primeira etapa da pesquisa, que tem por objetivo traçar, com base em dados do Município, um perfil epidemiológico, genômico e clínico do vírus SARS-COV2, causador do novo coronavírus (COVID-19). A iniciativa é uma parceria da Prefeitura Municipal com quatro instituições gaúchas de ensino superior (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Unisinos e Feevale), envolvendo 49 pesquisadores.
As informações foram apresentadas pelo prefeito esteiense, Leonardo Pascoal, pela secretária municipal de Saúde, Ana Boll, pela coordenadora-geral da pesquisa, Prof. Dra. Claudia Thompson, docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFCSPA, e pela coordenadora do estudo junto à Unisinos, Nêmora Barcellos, em uma transmissão ao vivo pelo Facebook.
A primeira das quatro etapas da pesquisa ocorreu entre 18 e 20 de maio. Foram aplicados testes rápidos em 543 moradores. Eles resultaram na confirmação de dois casos da doença, o que apontaria para uma prevalência de 0,37%, ou seja, 37 casos positivos a cada 10 mil pessoas. Com base nesse levantamento, estima-se que o Município poderia ter, naquele período, 306 habitantes com COVID-19, enquanto os registros oficiais para a data apontavam 25 moradores com teste positivo para coronavírus, ou seja, a cada caso confirmado, haveria 11 subnotificações. O índice de confiança da pesquisa é de 95%.
Divididos em duplas, cerca de 30 servidores da Prefeitura visitaram esteienses, sorteados em 31 setores distribuídos em todo o Município e de acordo com o tamanho de cada bairro. Durante a visita, os pesquisadores, através de um aplicativo desenvolvido especialmente para ação, aplicaram um questionário com o objetivo de identificar se os residentes apresentaram ou apresentam sintomas da doença, como febre, tosse e dificuldade para respirar, bem como informações sobre saúde, renda, cor da pele e idade, entre outros dados. Após isso, os profissionais da saúde realizam a testagem rápida em todos os moradores da casa, coletando uma pequena amostra de sangue. Os resultados, obtidos em 15 minutos de espera, são tabulados e analisados com auxílio de algoritmos e modelos matemáticos complexos, e apresentados para a Administração Municipal, permitindo ajustes nas ações de combate ao coronavírus. Pacientes que testaram positivo para a doença recebem acompanhamento especial.
“A partir deste estudo, nós vamos conseguir verificar a assertividade, ou não, das políticas públicas adotadas até aqui para prevenção e enfrentamento ao coronavírus e, a partir da melhor dimensão da situação da doença no Município, calibrar melhor as medidas por parte da administração pública. A situação, até o momento, está relativamente tranquila, temos os casos controlados e não foi registrado óbito. Mas essa é uma situação de muito dinamismo e, ao menor descuido, seja do poder público ou da população, a gente pode ter uma mudança muito rápida deste cenário”, comentou Pascoal.
Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, até esta segunda-feira (25) Esteio tem 31 casos confirmados de COVID-19, dos quais 13 já estão curados. Outros 55 casos constam como suspeitos e 1.413 foram descartados. Não foram registradas mortes pela doença na cidade.
Levantamento mostra informações sobre saúde e rotina dos entrevistados
Das informações obtidas via questionário, a pesquisa apurou que 63,5% dos entrevistados não apresentaram qualquer sintoma de COVID, 20,1% tiveram um sintoma, 8,7% dois sintomas e 7,2%, três sintomas ou mais. O percentual de participantes sem comorbidades foi de 57,3%, com uma comorbidade, 28,9%, e 15,6% tinham duas comorbidades ou mais.
Durante a primeira rodada, a equipe da pesquisa também procurou saber mais sobre o comportamento dos entrevistados durante o período de medidas de isolamento social. Em relação à rotina, 38,1% afirma sair de casa apenas para compras essenciais, 26,2% ficam em casa o tempo todo, 19,3% saem todos os dias para trabalhar ou fazer alguma atividade regular, 9,8% saem de vez em quando e 5,5% saem todos os dias para alguma atividade.
Quanto ao acesso à residência, a maior parte dos entrevistados (59,7%) apontou que apenas familiares que moram junto estão frequentando a casa; 27,5% dizem que alguns parentes próximos fazem visitas uma ou duas vezes por semana, enquanto para 4,7% a frequência das visitas é quase diária; 5,2% recebem amigos e parentes uma ou duas vezes por semana e 2,4% dizem as visitas ocorrem quase todos os dias.
Próxima coleta acontecerá nos primeiros dias de junho
A segunda fase de coletas vai ocorrer entre 1º e 2 de junho. Ao todo, nas quatro etapas, serão cerca de 2 mil testados e entrevistados, o que representa 2,4% da população esteiense. Cerca R$ 400 mil estão sendo investidos no estudo, valores utilizados para a aquisição de 2 mil testes rápidos e moleculares, kits de proteção individual e remuneração da equipe responsável pela coleta.
O levantamento inova ao realizar um amplo estudo epidemiológico, detalhado em 12 objetivos específicos, capaz de estimar a prevalência da infecção, acompanhar a evolução da doença, avaliar padrões moleculares virais por meio de sequenciamento genético e indicar evidências e estratégias para o fim do distanciamento social, entre outros possíveis usos.
A pesquisa também prevê o sequenciamento genético (análise da composição do vírus) das amostras positivas. Isso auxiliará a identificar padrões da doença, informações que serão comparadas com as disponíveis em bancos de dados públicos, no Brasil e no exterior, de pacientes com coronavírus e de casos registrados em outros surtos de síndromes respiratórias recentes (como a H1N1). A intenção é descrever a evolução do vírus, identificando suas eventuais mutações, as mudanças em sua capacidade de transmissão e a variação das manifestações clínicas apresentadas.
A Prefeitura dará acesso aos pesquisadores aos relatórios de exames moleculares coletados pelo Município, com uma estimativa de 3 mil pessoas testadas, bem como ao prontuário eletrônico de pacientes que apresentarem resultado positivo para COVID-19 (desde que a pessoa autorize o uso das informações). A intenção é disponibilizar os resultados do estudo para a comunidade em geral em um painel visual online (dashboard). Outro recurso eletrônico que permanecerá como legado para a Administração Municipal é o aplicativo criado para aplicação do questionário, que reunirá as informações para a Prefeitura em um banco de dados, podendo ser utilizado em outros levantamentos.