O psiquiatra Pedro Beria, que atua no Hospital Municipal de Novo Hamburgo (HMNH), compartilha técnicas de terapia cognitivo-comportamental, relativamente simples, para que a gente consiga controlar a ansiedade em tempo de pandemia ocasionada pelo novo coronavírus. “E para que se possa lançar mão dessas estratégias nos momentos mais intensos emocionalmente durante a fase de isolamento social”, sugere.
A seguir, confira pontos importantes que influenciam na busca por uma saúde integral, balizados pelo médico com o objetivo de contribuir com o seu dia a dia em tempo de quarentena e distanciamento que é físico e não, pessoal ou paralisante. Afinal, a saúde mental pode e deve ser encarada como um propósito de vida.
Conforme o Dr. Beria, enquanto estamos em uma crise de tamanha proporção, a ansiedade e o nervosismo são respostas naturais a situações interpretadas pela mente como ameaçadoras. “Os questionamentos costumam ser os mais diversos, e podemos nos perder em preocupações ao pensar de maneira excessiva em todos os tipos de situação que estão fora do nosso controle”, analisa o psiquiatra.
Nesse momento de enfrentamento ao desconhecido, algumas perguntas surgem à mente com frequência:
Será que eu ou alguém da minha família vai adoecer de Covid-19? Como ficará a situação econômica do País? Qual será a decisão do governo brasileiro? “Esses são alguns dos questionamentos, mas qual a relevância disso tudo?”, indaga o médico, conduzindo a gente a uma reflexão sobre a tendência a transformar o momento em catástrofe.
“Bem, sabemos hoje que o modo com que percebemos algo está intimamente ligado à nossa interpretação, isso sim, do que à situação factual em si”, observa. “Ou seja, a percepção vem do nosso ponto de vista emocional e comportamental.”
Desse modo, segundo o Dr. Beria, as nossas ações tendem a ser moduladas pelos pensamentos que surgem frente a determinadas circunstâncias e não pelas circunstâncias em si. “Por isso, em um momento como o atual, pode ser importante revisitar seus valores perante a vida, bem como a forma de guiar os seus pensamentos”, acrescenta.
O especialista oferece ainda dicas de como acessar esses valores, por meio de perguntas que você pode fazer a si mesmo:
- O que quero defender diante dessa crise?
- Que tipo de pessoa quero ser depois de passar por esse momento?
- Como posso ajudar a mim mesmo e aos outros nestas horas de enfrentamento?
Dr. Beria também ressalta que é possível driblar a falta de contato físico no distanciamento social. “Nada impede que você se aproxime de maneira afetiva dos que são importantes para você”, destaca. “Levando esse contexto em conta, os seus valores para enfrentar esse momento tendem a incluir compaixão, respeito, paciência, coragem e honestidade, entre outras virtudes.”
Seguem, agora, outros importantes pontos apresentados pelo psiquiatra:
- Como posso ajudar a mim mesmo e aos outros?
É possível driblar a falta de contato físico no isolamento social. Mesmo diante das medidas de distanciamento físico, você tem como se aproximar afetivamente das pessoas, especialmente as que já eram mais próximas, ao utilizar meios não presenciais, como as videochamadas, o modo on-line e as ligações telefônicas.
Assim como em relação aos pensamentos, os seus valores também podem guiar os seus comportamentos. Mas, por certo, a sua atitude frente à pandemia inclui todas as medidas de proteção ao coronavírus, como lavagem frequente das mãos ou higienização com álcool gel 70% e uso de máscara ao sair à rua, evitando-se aglomerações.
“Mas também permita-se questionar quais são as maneiras simples de cuidar de si mesmo e de quem mora com você”, acrescenta o Dr. Beria. E, então, sinta-se à vontade para fazer a si mesmo a próxima indagação: que tipo de ação de apoio posso fazer a alguém? E mais: quais são as maneiras mais eficazes de gastar todo o tempo disponível na quarentena? Nessa hora, você pode pensar no exercício físico em casa para manter a forma, no preparo de refeições cada vez mais saudáveis ou em fazer atividades que sejam significativas, para serem realizadas sozinho ou no compartilhamento de experiências positivas com outras pessoas ao seu redor ou mesmo de maneira virtual.
“Ao longo do dia, de vez em quando, volte a se perguntar: o que posso fazer agora, não importa o quão pequeno seja, que traga bem-estar, harmonia e contribua para que a minha vida e daqueles com quem convivo se torne melhor?”, aponta o médico psiquiatra. “E seja qual for a resposta, procure colocar em prática e se envolver totalmente com essas propostas de vida, vivendo a rotina com o desenvolvimento da capacidade de autocontrole do estresse.”