Conexão Internacional analisa cenário atual e projeta 2021 para a indústria
Evento online da Assintecal apresentou dados de inteligência de mercado e análise do consultor Marcos Lélis
A economia internacional, passando pelo cenário econômico brasileiro — influenciado especialmente pelo pagamento do auxílio emergencial dos últimos meses —, e a expectativa para o próximo ano estiveram na pauta do projeto Conexão Internacional Estimativas para 2021. O evento é promovido pelo By Brasil, Components, Machinery and Chemicals — ação de incentivo às exportações realizada pela Assintecal e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Aos participantes e associados, o professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da Unisinos e consultor de inteligência de mercado Marcos Lélis fez uma análise do momento atual e projetou o próximo ano, em especial para o setor de calçados e couro.
Conforme o especialista, a indústria de transformação — onde o setor de calçados e couro está inserido — apresentou quedas na produção nos meses de março e abril (-10,3% e -23,4%, respectivamente). Elas foram seguidas de retomadas rápidas em maio (13,1%), junho (10,4%), julho (9,3%) e agosto (3,5%). “Vemos uma forte subida e, depois, um forte ajuste. Mas é difícil que o ritmo se mantenha. Isso nos aponta que, com a saída do auxílio emergencial e o aumento do desemprego, provavelmente o ano que vem não será de crescimento acelerado”, projeta. No acumulado do ano até agosto, a produção industrial ainda está 9,5% abaixo do nível de 2019. O volume de vendas ainda está 5% abaixo do ano anterior.
Menor produção e retração nas exportações
Para o setor do couro, as exportações em setembro registraram queda de 8,1% em relação ao mesmo mês de 2019. No acumulado do ano, a retração foi de 23,7%; nos últimos 12 meses, totalizou baixa de 23,8%. Em termos de produção, até agosto acumula no ano a redução da produção em 11,5%.
No grupo que engloba calçados, tecidos e vestuário, a queda foi ainda maior em março (-42,3%) e abril (-68,5%). Nos meses seguintes, houve crescimento: maio (94,4%), junho (53,7%), julho (27,9%) e agosto (30,5%). No acumulado do ano até agosto, está 33,4% abaixo do ano anterior. Na produção de calçados, fazendo o ajuste sazonal e analisando a relação com o mês imediatamente anterior, vê-se taxas elevadas. Quedas em março (-31,1%) e abril (-56,7%), seguidas de crescimento em maio (44,5%). Agora, segundo Lélis, tudo começa a se adequar e desacelerar.
Comparando a produção física de abril de 2020 com mesmo mês de 2019, houve redução de 74,1%. Segundo o consultor, em setembro, deve ficar em torno de -12% a -16%. No ano, até agosto de 2020, em relação ao mesmo período de 2019, estão sendo produzidos 34% menos calçados.
Contexto macroeconômico
De acordo com Lélis, entre as principais economias do mundo, a única que deve registrar crescimento do PIB em 2020 é a China (1,9%). Para o próximo ano, a previsão é de crescimento de 8,2%. “Há uma mudança de comportamento da China, com crescimento via mercado interno. Não deixará de exportar, mas vai privilegiar o consumo interno”, avalia. Já Estados Unidos (-4,3%), Reino Unido (-9,8%) e a Zona do Euro (-8,3%) enfrentam quedas. “Provavelmente, só em 2022 conseguiremos voltar ao patamar de 2019”, previu o consultor.
A economia brasileira nos últimos meses foi fortemente influenciada pelo pagamento do auxílio emergencial pelo governo federal. Até aqui, em média, 63 milhões de pessoas foram beneficiadas, representando 60% da população economicamente ativa no Brasil. “O auxílio foi eficiente no sentido de não deixar a economia ter um tombo tão grande. A previsão do PIB era de -7% a -9%, e hoje falamos em torno de -5%. O auxílio entrou como amortecedor. A questão é como a economia brasileira vai se comportar a partir de janeiro de 2021”, avaliou Lélis.
Expectativas para 2021
Em termos de projeção para o setor de calçados, a previsão de queda na produção era de 26% para 2020. Até o momento, está em 34%. Em 2021, deve ficar entre 16% e 22%.
Já em termos de exportação, há previsão de queda de 21,5% em pares e, no ano que vem, de crescimento entre 17,6% e 24,9% por conta do câmbio. Já para o PIB, o Banco Central vem estimando uma queda de 4,81% em 2020 e uma recuperação de 3,42% no ano que vem.
“Estamos em um contexto totalmente atípico. As projeções e cenários mudam constantemente. É fundamental seguir fornecendo às empresas associadas e do projeto setorial fundamentações para as tomadas de decisões sobre os próximos meses para que consigamos todos sentir o menor impacto possível. E a Assintecal tem sido este parceiro essencial na difusão da informação”, finalizou o coordenador de mercado internacional e inteligência de mercado da Assintecal, Luiz Ribas Junior.
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