RS tem potencial para se tornar referência mundial na produção de azeite de oliva

Realizado no Centro Internacional de Arte e Cultura Humanista Recanto Maestro, o 1º Seminário Gaúcho do Cultivo de Oliveiras apresentou o forte potencial para a produção de azeite de oliva no Estado do Rio Grande do Sul. O encontro contou com a participação de investidores, especialistas, profissionais do campo, autoridades regionais e empreendedores. O foco foi a diversificação e a recuperação econômica do setor agrícola da metade Sul do Estado, especialmente da Campanha e Vale do Rio Pardo, a partir da olivocultura. A região pode se tornar referência brasileira, e futuramente mundial, na produção de azeite de oliva.

Com intuito de incentivar e promover o novo, mas forte setor de olivicultura no Rio Grande do Sul, o 1º Seminário Gaúcho do Cultivo de Oliveiras apresentou tanto a oportunidades empreendedoras para o cultivo de oliveiras, como as particularidades técnicas referentes à cadeia produtiva do azeite de oliva. Promovido com o apoio da Fundação Antonio Meneghetti, o seminário será realizado periodicamente em novas edições para proporcionar informações importantes aos produtores interessados em desenvolverem a olivocultura.

Iniciada há alguns anos no distrito Recanto Maestro, a produção de olivas na região teve, em 2021, a sua primeira colheita. Os frutos foram levados para processamento em fábrica parceira. A ideia é que, até 2022, já esteja pronta uma fábrica própria para produção do Azeite de Oliva Recanto no local. O empreendimento processará não apenas as olivas plantadas no Recanto Maestro, como também estará aberto a receber a produção dos agricultores da região que desejem realizar o plantio dessa lavoura.

Roberto Argenta, investidor em oliveiras e presidente da Calçados Beira Rio S.A

A abertura do evento foi realizada pelo empresário Roberto Argenta, investidor das Oliveiras do Recanto Maestro e Presidente da Calçados Beira Rio S.A, empresa líder nacional no ramo calçadista com mais de 9 mil colaboradores diretos, 11 unidades fabris e eleita quatro vezes consecutivas pelo Prêmio Exame como a melhor e maior empresa do segmento têxtil/calçadista no Brasil. “O cultivo das olivas vai dar o progresso à Quarta Colônia, ao Vale do Rio Pardo, à região da Campanha e a toda a metade Sul do Estado”, destacou o empresário.

A professora e pesquisadora italiana Annalisa Cangelosi, que leciona no Brasil na Antonio Meneghetti Faculdade, relembrou aspectos históricos e econômicos do cultivo das oliveiras e do papel fundamental que o azeite de oliva tem na gastronomia mundial. “A melhor forma de degustar o produto é na sua terra. Cada produto mantém uma relação muito viva com a terra que o originou. E o azeite de oliva não tem só o uso na cozinha, mas também pode ser utilizado também na cosmética, em medicamentos e para fins industriais. O azeite traz consigo culturas e lendas muita bonitas. É uma árvore que simboliza o renascimento do ser humano, e pode durar mais de mil anos. É um legado para o futuro o que se está fazendo aqui”, ressaltou a professora italiana.

O terceiro palestrante do Seminário foi o engenheiro agrônomo, Mestre e Doutor em Agrononomia, especialista em fruticultura de clima temperado com ênfase em olivicultura, Fabricio Carlotto Ribeiro, que atua com a cadeia produtiva das oliveiras desde 2007. Ele lembrou que as oliveiras, sendo originárias dos países árabes, foram levadas pelos povos fenícios e mouros para a região do Mar Mediterrâneo, ali se adaptaram muito bem e começaram a ganhar uma expressão maior de cultivo. Hoje, na América do Sul, são cultivadas na Argentina, Chile, Uruguai e, mais recentemente, no Brasil, onde a principal zona de cultivo está no Rio Grande do Sul. Segundo o engenheiro, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater) registra atualmente 6 mil hectares de área produzida no Estado em 30 municípios.

Engenheiro Agrônomo Fabricio Carlotto Ribeiro – Fotos: Acervo Fundação Antônio Meneghetti

“Precisaríamos de 100 mil hectares em todo o país para atendermos de forma autônoma o que o mercado brasileiro consome. Hoje, 0,3% do que consumimos no Brasil em termos de azeite de oliva são de produção nacional. São 15 indústrias em atuação no Rio Grande do Sul; a do Recanto Maestro fica pronta final do ano e, na safra do ano que vem, já estará funcionando”, explicou Carlotto. O engenheiro tratou ainda sobre particularidades do cultivo e do manejo das oliveiras no país, especialmente em solo gaúcho, da viabilidade dos pomares, zoneamentos, pragas e ameaças, sobre como apoiar o agricultor para que seja um investimento de sucesso e os protocolos que estão sendo criados para guiar os agricultores.

Ao final do evento, o empresário Roberto Argenta voltou a se dirigir aos participantes, e ressaltou a necessidade de fomentar junto a Emater a oferta de formação para os produtores de olivicultura do Estado, incentivando os produtores locais e fomentando a realização de um novo encontro de produtores de oliveiras ainda neste ano.

Depoimentos dos participantes

“Eu achei muito interessante a começar por conhecer o cultivo das oliveiras, este mercado e conhecer muitas ideias de como difundir esse cultivo no estado, aproveitando as nossas condições climáticas para desenvolver essa nova atividade econômica. A ideia é aproveitar Júlio de Castilhos, desenvolver o cultivo, integrar os pequenos produtores para que possam desenvolver o cultivo em suas propriedades e utilizar a região para alavancar o cultivo das oliveiras”. Anelise Leite Market, assessora da Secretaria de Agricultura de Julio de Castilhos.

“Nós sempre temos notícias da produção de milho, soja, que são os xodós no nosso país. Agora o xodó será a produção de oliveiras.” Zenor José Bortoluzzi, morador de Vale Vêneto, e proprietário rural.

“É uma excelente alternativa, poderá até substituir a cultura do fumo. Achei um evento louvável! Eu gostei que os professores do colégio agrícola e politécnico também estavam escutando e eu sou um ex-aluno. É importante que se esse ensino se difunda para os jovens.” Altamir José Noro, produtor rural e vereador no município de Restinga Sêca.

O novo terroir do azeite

Com as iniciativas dos produtores de oliveira já atuantes no Estado, o Rio Grande do Sul tem se tornado um novo e prestigiado terroir de azeite de oliva. Terroir é um termo que vem do francês e significa um específico tipo de solo, clima e geografia local que imprimem características únicas ao produto nele produzidos. O azeite de oliva produzido no Rio Grande do Sul tem sido premiado internacionalmente e considerado de alta qualidade.

Projetos como esse realizados no Estado assumem a missão de restaurar a economia da metade Sul, que, desde 1990, sofre revezes socioeconômicos em sua atividade produtiva, baseada principalmente na pecuária de corte e nos campos de arroz irrigado, tendo a olivicultura como força motriz dessa transformação econômica.

Outra região, que pode se beneficiar muito da produção de oliveiras, é a do Vale do Rio Pardo, que se avizinha territorialmente a Rota das Oliveiras e que mantém características similares de solo e de clima para o cultivo. Um dos fatores que alicerça a presença do plantio aqui é a diversificação, já que a monocultura do fumo, por enquanto, predomina. É um cenário que injeta viabilidade a um novo futuro econômico às famílias de agricultores.

A Rota das Oliveiras (instituída pela Lei No. 15.309 em 29 de agosto de 2019) detém clima temperado, aliado ao relevo e tipos de solos encontrados, especialmente as áreas que compreendem as regiões Sul da Campanha e o Vale do Rio Pardo, apresentando especificidades que definem o equilíbrio ideal para o desenvolvimento das oliveiras, realçando atributos organolépticos do azeite de oliva com elevada qualidade.

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