Saúde

Taxa de doadores de órgãos caiu 13% no primeiro semestre

Segundo dados divulgados hoje (13) pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a taxa de doadores efetivos caiu 13% no primeiro semestre devido à perda de 24,9% na taxa de efetivação da doação.

Para o editor-chefe do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) e membro do Conselho Consultivo da associação, Valter Duro Garcia, o que explica a queda é o aumento de 44% na taxa de contraindicação, em parte pelo risco de transmissão de covid-19 ou pela dificuldade de fazerem o teste PCR para a detecção da doença ou para obter o resultado rapidamente.

“O que acontece no Brasil ocorre em praticamente todos os países que tiveram a pandemia mais violenta, assim como foi para nós. A covid-19 impactou o número de transplantes, doadores e transplantados que tiveram risco maior de morrer pela doença. Até o ano passado, de cada três potenciais doadores, um se tornava doador. Neste ano, de cada quatro potenciais, só um efetivou. Ou porque o doador testava positivo para covid-19, ou porque não se tinha rapidez no resultado do teste para levar à cirurgia. A covid-19 atrapalhou a efetivação da doação.”

Segundo a versão semestral do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) – balanço completo sobre doação de órgãos e transplantes no país – o transplante renal (19,2 por milhão de população – pmp) diminuiu 16,3%. As maiores quedas ocorreram nos estados de Santa Catarina (63%) e Rio Grande do Sul (59%).

Nenhum estado atingiu 40 transplantes renais por milhão de população e só três unidades da federação ultrapassaram 30 transplantes: Paraná, São Paulo e Distrito Federal. Os transplantes renais com doador vivo tiveram queda menor que os com doador falecido (9,5% contra 17,3%), entretanto, representam apenas 10% dos transplantes renais, a menor taxa desde o início dos transplantes no Brasil.

Os transplantes hepáticos caíram 9%, sendo maiores em Minas Gerais (27%) e Paraná (20%). O transplante com doador vivo aumentou 10% e com doador falecido caiu 12%. O transplante cardíaco (1,2 pmp) diminuiu 15%, sendo essa queda mais acentuada no Ceará (86%), Paraná (66%) e Rio Grande do Sul. O transplante pulmonar, realizado em apenas dois estados, neste semestre, caiu 5,7%, tendo aumentado 31% em São Paulo e diminuído 50% no Rio Grande do Sul.

O balanço também mostra que o transplante de pâncreas, realizado em sete estados, aumentou 21,7%, com aumento em Santa Catarina (67%) e São Paulo (55%) e queda no Paraná (67%), Minas Gerais (17%) e Rio de Janeiro (12%). O transplante de córneas, embora com taxa baixa (52,9 pmp) já apresentou recuperação de 40% em relação ao mesmo período do ano passado.

Leitos disponíveis
Segundo Garcia, a queda do número de transplantes também pode ser atribuída à queda no número de leitos disponíveis para esses pacientes, já que em decorrência do aumento dos casos de covid e a necessidade de mais leitos para internações tanto nas enfermarias quanto nas unidades de terapia intensiva (UTI).

Lista de espera
Garcia também observou que os pacientes que estavam na lista de espera e não fizeram a imunização adequada, podem aumentar a lista de espera para alguns e, para outros, isso pode significar até mesmo aumento da mortalidade. Segundo ele, entre aqueles que já estão transplantados, cerca de 80 mil, a covid significou mortalidade dez vezes maior do que para a população geral do país.

De acordo com o médico, a expectativa para o segundo semestre, com a vacinação avançando, é que se recupere o tempo perdido. Ele alertou ainda para que todos os pacientes que estão na lista de espera para receber um órgão se imunizem contra a covid para se protegerem antes do momento da cirurgia.

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