“O gerenciamento junto à fonte geradora ainda é, e sempre será, o maior desafio a ser enfrentado num cenário futuro”. A afirmação é da doutora em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental Vânia Elisabete Schneider, que foi a palestrante da reunião-almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias) nesta segunda-feira (16). O evento foi alusivo aos 30 anos da implementação da coleta seletiva no município pela Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca).
De acordo com a pesquisadora, que foi quem trouxe, em 1991, motivada pela experiência de Curitiba, a ideia pioneira da coleta seletiva de resíduos sólidos para Caxias do Sul, estas três décadas servem para uma importante reflexão sobre a caminhada, avanços, dificuldades e desafios para os anos vindouros. “A educação e a conscientização de cada gerador são a melhor tecnologia com a qual podemos contar e apostar para alcançarmos os objetivos e pressupostos da gestão integrada de resíduos sólidos e o desenvolvimento sustentável”, ponderou Vânia, que é diretora do Instituto de Saneamento Ambiental da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
A história e os números atuais
Antes da coleta seletiva, por mais de 40 anos, o Rio Piaí foi o destino dos resíduos de Caxias do Sul. Depois houve uma central de triagem e compostagem e então Aterro de São Giácomo. O desafio de implantar a coleta seletiva tinha justamente o objetivo de reduzir os resíduos destinados aos Aterro de São Giácomo, aumentando a sua capacidade de vida útil, além de ser fonte de geração de emprego e renda.
Hoje, o sistema abrange 100% do território do município, recolhe 70 toneladas/dias, algo em torno de 20% da geração), e mantém 12 centrais e associações de recicladores. “As associações de recicladores contam com cerca de 360 associados que beneficiam indiretamente 1.200 pessoas”, revelou a especialista.
A iniciativa da coleta seletiva colocou Caxias do Sul, por três anos consecutivos, no ranking nacional do índice de Sustentabilidade de Limpeza Urbana, que mede o grau de aderência dos municípios brasileiros às metas e às diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Em 2016 e 2017, foi considerada a primeira cidade mais limpa do Rio Grande do Sul e a quinta do Brasil; e em 2018, o primeiro lugar no ranking das 10 cidades brasileiras acima de 250 mil habitantes. Ao falar desta importante conquista, Vânia citou dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) de que apenas 3% dos resíduos gerados no Brasil são reciclados, enquanto o potencial seria de 30%.
“Evoluímos, mas os desafios continuam”, ponderou Vânia. De acordo com ela, entre 30% e 40% do que chega às centrais é rejeito e mais de 30% do que é destinado ao orgânico é reciclável. Por isso enfatizou que a grande magia do resíduo é a segregação na fonte, e não existe tecnologia que dê conta disso a não ser a educação e a conscientização de cada gerador. “A solução começa no segregador. Qualquer rota tecnológica se inicia pela segregação junto à fonte geradora”, afirmou.
A pesquisadora da UCS também falou sobre os desafios para atender à PNRS, como a realização do inventário de resíduos sólidos, os acordos setoriais locais para a implementação da logística reversa, a redução dos resíduos destinados ao aterro e a segregação dos resíduos em orgânicos, recicláveis e rejeitos, que deveriam ser o único tipo a ser destinado aos aterros.
Ao abrir a reunião-almoço, o presidente da CIC Caxias, Ivanir Gasparin, afirmou que a coleta seletiva é antes de mais nada uma atitude de cidadania, que começa pela educação em casa e nas escolas. “O ato de reciclar é constante na nossa vida e depende muito da conscientização de cada um”, frisou. Também falaram o prefeito Adiló Didomênico e a diretora-presidente da Codeca, Helen Machado.
Também houve entrega de troféus em agradecimento aos serviços prestados à Codeca para a doutora Vânia e para o diretor da autarquia em 1991, Geraldo Adami.