Os relacionamentos virtuais estão presentes em nossa cultura desde o início da internet e desde então, vem aumentando e se desenvolvendo junto da própria tecnologia. Durante a pandemia e a necessidade do isolamento social, o uso de ferramentas tecnológicas para contatos sociais se tornou imprescindível, por vezes, o único contato possível. Apenas em 2020, o uso das redes sociais no Brasil cresceu para 40%, segundo a Kantar, empresa especializada em pesquisas de mercado.
Porém, em 2020 e 2021 registramos o recorde de divórcios no país, o que nos alerta também para os impactos negativos destas ferramentas virtuais. Ao mesmo tempo em que a tecnologia pode aproximar pessoas, também sentimos seus impactos negativos. Gestos como o toque, o olhar, a risada, o abraço deram espaço para as telas, aplicativos, redes sociais e ausência. A chegada da tecnologia impactou diversas esferas de nossas vidas em especial as relações afetivas amorosas, que passaram por adaptações.
Mas afinal, as novas tecnologias são vilãs ou ajudam nos relacionamentos? Para a Mestre em Psicologia e Docente da Estácio/RS, Beatriz Lobo essas ferramentas de comunicação, podem trazer pontos positivos e negativos para os relacionamentos. “Nós temos que nos adaptar a essas novas formas de comunicação, de interação, que sim, de certa forma podem aproximar as pessoas, podem facilitar a comunicação e a interação social, mas por outro lado também tem um impacto nos nossos relacionamentos no mundo presencial, no mundo offline”, afirma a psicóloga.
Beatriz comenta sobre o mundo virtual exigir processos complexos dos indivíduos para conseguirem conciliar as demandas online com as offline, a busca de um equilíbrio que não é fácil encontrar. “A gente pode estar em dois lugares ao mesmo tempo? Porque quando estamos focando nossa atenção nos aparelhos, deixamos de dar atenção a quem está ao nosso redor, então isso acaba impactando as nossas relações presenciais. É sempre um equilíbrio, se por um lado, a internet pode diminuir as distâncias, ela também pode distanciar”, explica.
De acordo com a docente, estudos comprovam que casais que já possuem uma interação positiva presencialmente, tendem a seguir essa interação no ambiente digital. Enquanto, casais que já apresentam dificuldades no mundo presencial, nas plataformas digitais isto irá se refletir. Outro fator importante, mencionado por Beatriz é a falta de certas lacunas que deixam de ser preenchidas nessa comunicação online, como por exemplo a entonação da fala, o tempo de espera pela resposta, a expressão facial, entre outras e com isto o indivíduo acaba criando expectativas e colocando suas próprias crenças sobre o outro, criando conflitos em suas relações.
A psicóloga aponta que quando se percebe o distanciamento de casais, na maior parte das vezes, o distanciamento já é algo da dinâmica do casal ou da família, de evitar contatos físicos, e a internet acaba servindo apenas como uma ferramenta de evitação, não sendo a culpada e nem a causadora do fato. “Precisamos entender que a internet, os celulares, as tecnologias, as possibilidades de estar se relacionando mais rapidamente, podem nos distanciar de quem está mais presente, não pelo fim delas em si, mas porque muitas vezes teremos essa tendência de nos distanciar. É necessário que tenhamos um equilíbrio em nossas relações tanto a distância como presencialmente”, argumenta a docente.