Saúde

Alcoolismo entre as principais causas de brigas conjugais

O churrasco em família, o happy hour da empresa, a festa dos amigos, o jogo de futebol. Estes são eventos sociais comuns na vida de qualquer casal. Entretanto, o que também pode ser comum é que um dos membros do casal abuse do álcool nestas e em outras ocasiões, levando para dentro do relacionamento um grave problema: o alcoolismo.

Na pesquisa realizada recentemente pelo Instituto do Casal, o alcoolismo ocupou o 15º lugar no ranking dos principais motivos que levam os casais brasileiros a brigarem. Segundo a psicóloga Marina Simas de Lima, o abuso ou a dependência do álcool dentro do contexto de um relacionamento amoroso e familiar afeta a todos e se instala gradualmente. “A pessoa começa a beber socialmente, ou seja, nos eventos, festas, etc. A dependência se constrói aos poucos e depende de alguns fatores, como a predisposição genética, as relações sociais e o ambiente. O alcoolismo pode desestruturar por completo a dinâmica do casal e da família”, diz Marina.

Em geral, o (a) parceiro (a) pode sentir raiva, frustração e desesperança. Entretanto, na maioria dos casos, o cônjuge se torna codependente, ou seja, ele/ela vive em função do alcoolista e faz de tudo para evitar o consumo de álcool, procura controlar todas as situações e esquece de si mesmo.

Outro ponto é que no início da instalação do alcoolismo, não há prejuízos aparentes na capacidade funcional. “Pode ser aquela pessoa que vai trabalhar todos os dias, mas que ao chegar em casa bebe bastante ou abusa demais aos finais de semana, por exemplo, causando grande sofrimento para a família” explica Denise Miranda de Figueiredo, psicóloga, terapeuta de casal, família e cofundadora do Instituto do Casal.

A imagem que a maioria da população tem de um alcoolista é daquela pessoa que bebe muito, todos os dias, até cair e que não consegue fazer mais nada. Mas, essa é a última fase da doença. Por exemplo, se a pessoa beber de 4 a 5 doses de álcool, num período de 2 horas, já é um sinal de alerta para procurar orientação, segundo os novos critérios da Associação Americana de Psiquiatra para o diagnóstico do alcoolismo. O termo para esse comportamento é uso pesado episódico de álcool (binge drinking), definição criada pelo National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism.

Mudança de comportamentos

A mudança dos comportamentos são os primeiros sinais de que o álcool está se tornando um problema. “O alcoolista pode ficar mais irritado, menos tolerante, perder o interesse pela família, começar a ter problemas no trabalho, ficar mais desatento e apresentar problemas de memória e concentração. Além disso, pode se envolver em acidentes de carro com mais frequência, assim como é comum o aumento dos conflitos familiares, principalmente depois do consumo de álcool”, explica as psicólogas.

Alcoolismo pode diminuir a satisfação conjugal

“Há muitos sentimentos envolvidos quando o alcoolismo se instala em um dos membros do casal. Quem convive com um alcoolista pode experimentar uma série de sentimentos, como raiva, vergonha, frustração e, muitas vezes, pode sofrer em silêncio. A satisfação conjugal diminui, pois, o alcoolismo pode afetar a sexualidade, os cuidados com a casa, como os filhos, além de elevar o risco de ter problemas financeiros e, claro, da violência doméstica”, reflete Denise.

Reconhecer a condição é o primeiro passo

A negação é comum quando o problema se torna mais evidente. “O primeiro passo é entender que o alcoolismo é uma doença e que, portanto, precisa ser tratada. Como normalmente há codependência, para ajudar o alcoolista, o (a) parceiro (a) precisa procurar ajuda especializada também. Quando há filhos, todos devem participar das intervenções terapêuticas”, dizem as psicólogas.

De acordo com as especialistas, o (a) parceiro (a) tem papel fundamental na recuperação do alcoolista. “Outra questão é que a recuperação é um processo demorado e que, além disso, é para toda a vida. Por isso, para ajudar de fato é preciso ter consciência de que após o tratamento inicial, será preciso evitar certas situações de risco e mudar padrões de comportamento para prevenir as recaídas”, afirma Denise.
“Lembre-se: você não é responsável pelo alcoolismo do (a) seu (sua) parceiro, nem pode controlar a situação. O que você pode fazer é oferecer ajuda, estabelecer limites e cuidar de você. O passo mais importante é que o alcoolista queira se tratar e reconheça sua condição”, encerram Marina e Denise.

Onde procurar ajuda?

Para tratar o alcoolismo podem ser necessárias algumas abordagens, que podem envolver um médico psiquiatra, um período de internação, nutricionistas e outros profissionais. A terapia de casal e família também pode contribuir para recuperar a satisfação conjugal e o equilíbrio familiar para os casais com filhos.

Há ainda os grupos de autoajuda, tanto para o alcoolista, quanto para a família. O mais conhecido de todos é o AA (Alcoólicos Anônimos). A participação nas reuniões é gratuita.  O Amor Exigente (AE) é um grupo voltado para os familiares de dependentes químicos em geral.

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