Contos de Pellanda exploram a relação entre homem e natureza
O caçador chegou tarde, novo livro do escritor curitibano, reúne 62 histórias inéditas que misturam sonho, fábula e humor
Um sonhário coletivo
Luís Henrique Pellanda é um dos nomes mais originais da literatura brasileira contemporânea. Autor de mais de dez livros, entre romances, crônicas e ensaios, ele se destaca pela sua capacidade de criar narrativas que surpreendem e encantam o leitor com seu humor sutil, sua perspicácia jornalística e sua sensibilidade poética. Em seu novo livro, O caçador chegou tarde, lançado pela Maralto Edições, Pellanda apresenta 62 contos inéditos que mergulham na subjetividade de seus personagens, explorando temas como o tempo, a memória, as mudanças sociais e a relação entre o homem e a natureza.
O livro vem na sequência de Na barriga do lobo, obra finalista do prêmio Jabuti 2022 na categoria Contos e Crônicas. Nesse trabalho anterior, Pellanda já havia abordado a questão da humanidade como parte integrante da natureza, ainda que muitas vezes tente negá-la ou dominá-la. O título faz referência ao conto da Chapeuzinho Vermelho na versão dos irmãos Grimm, em que a menina e sua avó são engolidas pelo lobo e depois salvas pelo caçador. Para o autor, essa metáfora serve para ilustrar a situação atual da sociedade, que vive em meio à escuridão provocada pela pandemia de Covid-19 e pelas incertezas políticas que cercam o país.
Em O caçador chegou tarde, Pellanda dá continuidade a essa reflexão, mas sem perder o tom lúdico e inventivo que caracteriza sua escrita. Os contos do livro são curtos, mas densos de significados. Eles misturam elementos dos relatos de sonho, das fábulas, das parábolas, dos mitos de criação e dos contos de fadas ao nonsense, ao humor e à falsa simplicidade formal de autores como Kafka, Kawabata, Karel Capek ou Liudmila Petruchévskaia. O resultado é uma obra que convida o leitor a percorrer as entrelinhas largas de cada história, interpretando-as livremente a partir de suas próprias referências.
“Nesse trabalho, em particular, optei por contos bastante abertos, que convidam os leitores a percorrê-los como bem entenderem”, explica o autor. “Espero mesmo que leiam o livro como se folheassem uma espécie de sonhário coletivo, a um só tempo familiar e incômodo.”
Exemplos de contos
O caçador chegou tarde abre com o conto “A aposta”, em que dois meninos desaparecem após apostar quem ficaria em cima de uma árvore por mais tempo. Eles crescem, se casam e têm filhos, mas permanecem na árvore. Com o tempo, diminuem de tamanho e desaparecem, misturando-se à natureza como se nunca tivessem existido. Em “A prata e os peixes”, um avô reflete sobre a felicidade com seu neto durante uma pescaria. Ele fisga um lambari e encanta-se com sua beleza; o peixe morre, e à noite eles o comem. A passagem leva o menino a refletir sobre a felicidade: para ele, se o avô falasse menos, eles teriam pescado mais e seriam mais felizes. Em um dos menores contos do livro, “O patriota na floresta”, lemos: “O patriota entra na floresta e faz uma descoberta. Dentro da mata, seu país não existe.”
Esses são apenas alguns exemplos dos contos que compõem O caçador chegou tarde. Cada um deles apresenta uma situação inusitada ou insólita que revela algo sobre os personagens ou sobre o mundo em que vivem. Há também elementos temáticos e estéticos que se repetem do início ao fim, com o objetivo de criar nos leitores uma impressão de unidade e estranheza. Pellanda afirma que seu processo de escrita é intuitivo e que ele não segue um plano prévio. “Durante o processo de escrita, somos sempre forçados a mudar de rumo, o que nos leva a lugares novos e inesperados. Espero ter conseguido isso com esse livro”, diz.
O caçador chegou tarde é um livro que celebra a arte do conto e a imaginação do leitor. É uma obra que mostra a versatilidade e a originalidade de Luís Henrique Pellanda, um dos grandes nomes da literatura brasileira atual. O livro será lançado em Porto Alegre no dia 28 de julho, às 19h, na Livraria Cultura do Shopping Bourbon Country. O autor participará de um bate-papo com o público e autografará os exemplares. A entrada é gratuita e aberta a todos os interessados.
Sobre o autor
Luís Henrique Pellanda é escritor e jornalista, nascido em Curitiba (PR), em 1973. Como cronista e contista, publicou os livros O macaco ornamental (2009), Nós passaremos em branco (2011), Asa de sereia (2013), Detetive à deriva (2016), A fada sem cabeça (2018), Calma, estamos perdidos (2020) e Na barriga do lobo (2021)
O caçador chegou tarde
- Editora: Maralto Edições
- Autor: Luís Henrique Pellanda
- Preço: R$ 44,90
- Evento de lançamento: 29 de julho, partir das 17h
- Local: Livraria Paralelo 30
– Rua: Vieira de Castro, 48 – Porto Alegre Vendas: https://loja.editorapositivo.com.br