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Fernanda Valadares expõe na Ocre Galeria, em Porto Alegre

A artista plástica paulistana usa a encáustica, uma técnica milenar para criar obras que refletem sobre o ritmo contemporâneo e a busca incessante por algo mais

Chiasma: a arte que desafia o tempo

O que acontece quando o tempo das coisas se choca com o tempo das pessoas? Essa é a pergunta que norteia o trabalho de Fernanda Valadares, artista plástica paulistana que inaugura no próximo dia 05 de agosto, sábado, das 11h às 14h, a exposição “Chiasma”, na Ocre Galeria, em Porto Alegre. Em sua mais recente produção, Valadares apresenta dez painéis em compensado naval, produzidos em encáustica, uma técnica milenar na qual os pigmentos de cor são diluídos em cera quente, aplicadas em várias e sucessivas camadas. A técnica, que exige paciência, conhecimento e habilidade, é compensada por sua durabilidade, aspecto que se contrapõe ao ritmo contemporâneo, marcado pela velocidade e pela obsolescência programada.

O título da mostra, “Chiasma”, remete ao termo cunhado pelos gregos antigos para designar um cruzamento ou entrelaçamento. Na biologia, o termo se aplica ao fenômeno que ocorre na divisão celular, quando os cromossomos se cruzam e trocam informações genéticas. Na neurologia, o termo se refere ao ponto onde os nervos ópticos se cruzam e se conectam ao cérebro. Para a artista, o termo também simboliza o cruzamento entre o seu olhar interno e o mundo externo, entre a sua subjetividade e a realidade.

Em síntese, o que a artista propõe em sua obra é um convite à desaceleração, à redução do ritmo, ao aguçamento dos sentidos, um respiro para que nosso olhar possa apreciar a vida em suas manifestações mais sutis, movimentos cada vez mais complexos nas sociedades contemporâneas.

Um choque de mundos

No espaço expositivo da Ocre, estarão expostas dois conjuntos de obras: oito painéis da série Backrooms, encáustica sobre compensado naval (80x80cm); e dois painéis “A queda do céu”, encáustica e tingidor de madeira sobre compensado naval (360x160cm, políptico) e (160x160cm). Sobre seu processo criativo, Fernanda Valadares explica: “antes de começar um trabalho eu tenho sempre o mesmo ritual; um processo de aquietar, ouvir, olhar, e logo me sinto inseparável do que está em volta. Isso suscita a dúvida se estou falando de mim ou do mundo; até descobrir que não há separação mesmo, eu sou esse mundo que se espelha. Não há uma divisão estanque entre eu e você, entre nós e eles. Há um cruzamento”, atesta.

Como em toda a sua produção, Valadares tem exercido o olhar para dentro, para o indivíduo. Chiasma, entretanto, se debruça mais para o mundo externo, muito influenciada pela leitura do livro “A Queda do Céu”, de Davi Kopenawa e Bruce Albert , e também por um vídeo do YouTube , Backrooms (um espaço limiar; um labirinto aparentemente infinito de espaços de escritórios acarpetados de cor amarela). “Cada uma fala de seus sonhos, do que habita seu inconsciente. Os povos da floresta têm medo do homem branco e o homem branco tem medo… do homem branco. Medo de estar sozinho em um labirinto infindável que não é outro senão a própria mente”, analisa. A partir do desconforto e das reflexões geradas pelo contato com estas duas obras, surgiu essa série de trabalhos, que ela define como “quase uma ilustração de dois corpos em rota de choque”. A busca incessante simbolizada pelos Backrooms, isto é a nossa civilização, a nossa cultura”, em oposição à uma vida mais simples, sugerida por Kopenawa.

Em busca de uma maior conexão consigo mesma, Valadares abriu mão da vida na cidade e, desde 2017, mora em uma fazenda, na localidade de Cunha, distante a 46 Km de Parati, em São Paulo, em uma área de preservação, onde mantém seu ateliê. Lá, ela se dedica à encáustica, uma técnica que remonta ao Egito Antigo e que foi usada por grandes mestres da pintura, como Rembrandt e Picasso. A encáustica confere às obras uma textura única, que varia conforme a luz e o ângulo de visão. Além disso, a encáustica é resistente ao tempo e aos agentes externos, como umidade e fungos. “Trabalho com o tempo das coisas e com a percepção de que somos ínfimos”, diz a artista.

Serviço

  • Exposição: Chiasma, de Fernanda Valadares
  • Abertura: 05 de agosto de 2023, sábado, das 11h às 14h
  • Visitação: até 30 de setembro de 2023
  • Local: Ocre Galeria
  • Endereço: Rua João Telles, 190 – Bom Fim – Porto Alegre/RS
  • Horário: de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h; sábados, das 10h às 14h
  • Entrada franca
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