Eleições 2024 no RS consolidam mudança no perfil do eleitor
Os resultados na capital e grandes cidades gaúchas revelam tendências políticas que podem ser decisivas para 2026.
Por: Cleber Martin *
As eleições de 2024 em Porto Alegre e grandes cidades do Rio Grande do Sul chegaram ao fim, e o segundo turno trouxe reflexões profundas sobre as tendências do eleitorado gaúcho. Em uma análise mais detalhada, esses resultados oferecem uma visão sobre a direção do pensamento político dos eleitores e como ele pode influenciar as futuras eleições gerais de 2026.
Olhando para o panorama geral, é possível perceber que, em muitas cidades, houve uma combinação de continuidade com uma significativa demanda por renovação em pautas políticas, especialmente na segurança, mobilidade urbana, sustentabilidade e inclusão social. Em capitais e grandes centros, o eleitorado mostrou-se dividido, mas com uma leve inclinação a candidatos que prometem soluções práticas e imediatas para problemas cotidianos, em vez de discursos mais ideológicos. Essa preferência ressalta uma mudança importante: os eleitores buscam, cada vez mais, resultados palpáveis e gestão eficiente.
Resultados do segundo turno no RS
No segundo turno das eleições municipais de 2024 no Rio Grande do Sul, realizadas em 27 de outubro, cinco cidades definiram seus prefeitos para os próximos quatro anos. Os resultados foram os seguintes:
Porto Alegre: Sebastião Melo (MDB) foi reeleito com 61,53% dos votos, enquanto Maria do Rosário (PT) obteve 38,47%.
Canoas: Airton Souza (PL) venceu a disputa com 52,12% dos votos, superando o atual prefeito Jairo Jorge (PSD), que alcançou 47,88%.
Caxias do Sul: Adiló Didomenico (PSDB) foi reeleito com 51,38% dos votos, derrotando Scalco (PL), que obteve 48,62%.
Pelotas: Fernando Marroni (PT) foi eleito com 50,36% dos votos, enquanto Marciano Perondi (PL) recebeu 49,64%.
Santa Maria: Rodrigo Decimo (PSDB) conquistou a prefeitura com 54,50% dos votos, superando Valdeci Oliveira (PT), que obteve 45,50%.
1. A busca por soluções pragmáticas e eficiência na gestão
Uma tendência clara emergiu: o eleitor gaúcho está menos interessado em narrativas polarizadoras e mais focado na capacidade dos candidatos de resolver problemas. Isso é perceptível nas vitórias de candidatos que concentraram suas campanhas em propostas específicas para áreas como transporte público, saúde e segurança. Em Porto Alegre e outras cidades de grande porte, os eleitores preferiram nomes com perfis técnicos e discursos que não prometem “revoluções”, mas sim melhorias realistas e efetivas. Essa escolha por pragmatismo aponta para uma insatisfação com promessas grandiosas e uma expectativa de ver ações práticas que impactem o dia a dia dos cidadãos.
“inclinação a candidatos que prometem soluções práticas e imediatas para problemas cotidianos, em vez de discursos mais ideológicos”…
Essa escolha por uma administração mais técnica sugere que, em 2026, candidatos que demonstrarem experiência comprovada e planos bem fundamentados, especialmente nas áreas de saúde e segurança, terão vantagem. É um sinal de que o eleitorado gaúcho está amadurecendo politicamente, avaliando os candidatos além de suas ideologias, valorizando o histórico e a capacidade de gestão pública.
2. Temas de sustentabilidade e inclusão social no radar
Outro ponto forte que emergiu é a crescente atenção do eleitorado para questões de sustentabilidade e inclusão social. Com uma base de eleitores mais jovem e conectada aos desafios globais, houve uma pressão maior sobre os candidatos para que abordassem essas questões. Em cidades como Caxias do Sul e Pelotas, os candidatos eleitos destacaram a importância de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável e inclusão de minorias. O eleitor gaúcho parece estar se conscientizando do impacto de questões como mudanças climáticas e busca por igualdade social, indicando que esses temas terão ainda mais força nas eleições futuras.
Essa demanda do eleitorado evidencia uma nova consciência que deverá ser levada em conta pelos futuros candidatos a cargos estaduais e federais. Aqueles que incorporarem pautas ambientais e sociais de forma consistente e que demonstrem sensibilidade às necessidades das comunidades menos favorecidas podem obter um diferencial significativo em 2026. O foco do eleitorado está, portanto, não apenas na inclusão social, mas na criação de um modelo de gestão que priorize políticas de longo prazo.
3. A busca por transparência e ética na política
A exigência por transparência e ética tem se intensificado nos últimos anos, e as eleições de 2024 confirmaram essa tendência. Em várias cidades, os candidatos que enfrentaram escândalos de corrupção ou foram associados a práticas duvidosas tiveram resultados aquém do esperado. Esse comportamento reflete a crescente intolerância do eleitorado com desvios éticos e enfatiza que, em 2026, será fundamental para os candidatos demonstrar um histórico limpo e um compromisso sólido com a transparência. A sociedade gaúcha está cada vez mais engajada na cobrança por lisura e responsabilidade na gestão dos recursos públicos, o que força os futuros candidatos a uma postura mais cautelosa e transparente.
4. Perspectivas para 2026: uma eleição focada em competência e conexão com o cotidiano
O que podemos esperar para 2026, a partir dos resultados de 2024, é uma busca por perfis que transmitam confiabilidade e compromisso com o cotidiano do cidadão. A inclinação para candidatos pragmáticos e focados na resolução de problemas locais indica que, nas próximas eleições, o eleitor gaúcho deve buscar líderes que demonstrem capacidade de execução e histórico de trabalho concreto em áreas fundamentais, sem promessas excessivas.
Essas preferências sugerem que discursos polarizados e que se concentram exclusivamente em ideologias terão uma recepção menos calorosa. Os eleitores, especialmente nas cidades maiores, parecem caminhar para uma postura mais racional, pautada por uma análise prática das propostas e uma visão clara de seus objetivos para os próximos anos. Esse comportamento é um alerta aos partidos para que invistam em figuras públicas que saibam balancear visão de futuro com ações de impacto imediato.
A expectativa é de uma eleição em que os temas centrais estarão mais próximos da realidade do cidadão e menos ligados a debates nacionais distantes. Segurança, transporte, saúde e educação devem continuar sendo tópicos prioritários, mas agora também permeados pela busca por inovação e sustentabilidade, pautas com potencial de engajar eleitores mais jovens e ideologicamente descolados de rótulos tradicionais.
Um eleitorado mais exigente e pragmatista
Em resumo, o balanço do segundo turno nas grandes cidades do Rio Grande do Sul aponta para um eleitorado mais exigente e pragmatista. Com uma busca clara por competência administrativa, transparência e conexão com temas relevantes para o futuro, como sustentabilidade e inclusão social, os eleitores gaúchos estão moldando um novo perfil político. Os candidatos em 2026 precisarão responder a essa demanda com propostas sólidas, inovadoras e conectadas ao cotidiano, reforçando o entendimento de que a política não é uma questão de espetáculo, mas de entrega de resultados.
Para os partidos, a lição das urnas em 2024 é clara: é preciso adaptar-se a um novo eleitorado, disposto a cobrar eficiência e responsabilidade de seus representantes e cada vez mais atento à realidade que o cerca. As eleições no Rio Grande do Sul não representam apenas a vitória de alguns candidatos, mas o início de uma nova fase política para a região e, possivelmente, para o Brasil.
* Gestor de Conteúdo e Comunicação Multimídia