Doenças cardíacas acometem cerca de 35% dos cachorros idosos
O coração é a base do funcionamento do sistema circulatório de qualquer ser humano e deve sempre estar na lista dos check ups periódicos. No caso dos animais de companhia não é diferente. O coração do cão tem uma estrutura semelhante à nossa e, assim como nos humanos, o diagnóstico e tratamento precoces das doenças cardíacas podem fazer diferença na saúde e qualidade de vida dos bichos.
Os números mostram que o assunto merece atenção. As cardiopatias em cães são cada vez mais comuns, já que, assim como os humanos, eles estão vivendo mais. O problema se agrava porque o tutor não está acostumado a cuidar dos bichinhos idosos como cuida dos filhotes. Cerca de 35%1 dos cães serão acometidos por alguma cardiopatia ao atingir a fase idosa. A partir dos 5 anos até aproximadamente 13 anos cerca de 70% deles vão desenvolver ao longo da vida a chamada Doença Valvar Crônica Mitral (DVCM), a principal cardiopatia que acomete os cães, sendo os mais suscetíveis os machos de pequeno porte (com até 20 quilos). A doença pode aparecer já nos primeiros cinco anos de vida do cãozinho, sendo a prevalência, por faixa etária, de 10% em cães com cinco a oito anos, 25% com nove a 12 anos e 35% entre os acima de 13 anos.
A doença acontece quando a válvula mitral, responsável por controlar o fluxo do sangue do ventrículo esquerdo ao átrio esquerdo do coração e artéria aorta, não fecha direito, o que faz com que parte desse líquido volte ao átrio. Entre as consequências está o chamado sopro do coração que, assim como nos humanos, é detectado através do procedimento de auscultar o coração do animal com o estetoscópio. “O sopro é como chamamos o som emitido quando a válvula não funciona bem, fazendo com que o sangue que deveria ir totalmente para a artéria aorta produza um refluxo de sangue para o átrio esquerdo. Além dele, outras consequências da doença são aumento do volume do coração e acúmulo de líquidos nos pulmões. Ao se agravar, a situação pode prejudicar seriamente o sistema circulatório, acometendo outros órgãos, como os rins e o fígado”, alerta a Dra. Kátia Mitsube Tárraga, médica veterinária professora da FMVZ/USP e membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia Veterinária. Entre as raças mais afetadas pelo problema estão Poodle, Cavalier King Charles Spaniel, Teckel (antigos Dachshund), Bichon Frise, Yorkshire, Maltês, Pinscher e Whippet, além dos SRD (sem raça definida).
Para evitar a evolução do problema e o sofrimento do animal é imprescindível que o check up anual inclua exames específicos, como inspeção e auscultação periódica pelo médico veterinário, realização de exames complementares de sangue, raio X e ecocardiograma, já a partir dos cinco anos de idade do animal. Ficar atento aos sintomas é importante, afinal ninguém conhece melhor seu cão do que o próprio tutor. A qualquer mudança na rotina, é preciso consultar um médico veterinário para uma avaliação adequada e a realização de exames preventivos a tempo. Entre os principais sintomas da DVCM, estão:
- – Apatia e intolerância à exercícios físicos, com cansaço frequente
- – Perda ou ganho de peso repentinos
- – Perda de apetite e aumento da sede e do volume de urina
- – Tosse e engasgos, principalmente à noite
- – Dificuldade respiratória
- – Alguns animais podem apresentar desmaios e/ou convulsões, em casos mais avançados da doença
“Após o diagnóstico, é importante iniciar o tratamento o quanto antes, para retardar a evolução da doença. A abordagem deve ser individualizada, levando-se em consideração o grau e a evolução da cardiopatia. Quando o animal tem o problema, mas não tem sintomas, recomenda-se mudar hábitos, como alimentação e frequência de exercícios, sempre observando a condição clínica do cão. Nas fases mais avançadas, chamada de ICC (Insuficiência Cardíaca Congestiva) é preciso entrar com medicação, conforme orientação do seu médico veterinário, medicação esta que deve ser ministrada pelo resto da vida do animal”, esclarece a Dra. Kátia.
Entre os tratamentos mais comuns estão os vasodilatadores que ajudam a controlar as alterações produzidas no coração, melhorando o fluxo sanguíneo, diminuindo o refluxo para o átrio esquerdo e, assim, atenuando o quadro de insuficiência cardíaca. A longo prazo, o medicamento também melhora a qualidade de vida e aumenta a sobrevida do animal. Soma-se ao medicamento a mudança de hábitos do animal, como o controle da frequência e intensidade dos exercícios e melhora da dieta, com menos sal.