A inclusão de turistas com deficiência auditiva
A tecnologia assistiva em aplicativos de celular e a Língua Brasileira de Sinais estão ajudando a eliminar barreiras no turismo. Neste sábado (23) comemora-se o Dia Nacional da Pessoa Surda-Muda, deficiência causada pela falta da audição, que impede a verbalização das palavras. Mas não impede de realizar sonhos e conhecer o Brasil. Conheça três destinos, de norte a sul do país, que já utilizam ferramentas e políticas de inclusão com o objetivo de se preparar para receber turistas com deficiência auditiva.
Em Manaus (AM), o Bosque da Ciência vai oferecer, a partir de março, visitas autoguiadas para deficientes auditivos. O espaço público de lazer é referência em turismo pedagógico e desenvolveu um roteiro inclusivo com 12 atrativos sobre a fauna e a flora da Amazônia. O turista surdo vai recorrer ao Giulia, um aplicativo para smartphones que faz a leitura em Libras dos QRCodes dos pontos turísticos.
“A limitação no acesso a ambientes com atratividade turística, obstruindo a participação plena e efetiva da pessoa surda, deve ser rompida com tecnologia assistiva. Para superar essa barreira, precisamos ir além da inclusão social e econômica. A visitação turística é uma oportunidade de lazer, inclusão cultural e ampliação do conhecimento”, destaca a coordenadora-geral de Sustentabilidade e Turismo Responsável do Ministério do Turismo, Gabrielle Nunes de Andrade.
O kit Turismo Acessível da capital do Amazonas também tem um resumo em glosa (linguagem escrita utilizada pelos surdos) para garantir a visita autoguiada. “Inserir o deficiente auditivo no nosso circuito de visitação faz com que o bosque seja relevante, compreensível e agradável ao turista”, avalia a coordenadora de tecnologia social do Bosque da Ciência, Denise Gutierrez.
O aplicativo Giulia foi idealizado pelo professor Manuel Cardoso, da Universidade Federal do Amazonas, com múltiplas funções de comunicação entre surdos e ouvintes. A adaptação da função assistiva para atrativos turísticos atende ao projeto da professora Selma Batista, do curso de Turismo da Universidade do Estado do Amazonas. “O aplicativo vai empoderar o visitante surdo, sem que ele precise do condutor. Nem sempre o atrativo tem intérprete com habilidade em libras”, comenta Batista.
A tecnologia também traduz em voz eletrônica para o ouvinte os sinais emitidos em Libras. “O aplicativo poderá, ainda, ser usado por um guia surdo para conduzir turistas ouvintes. Seria uma oportunidade de inclusão da pessoa surda no mercado de trabalho do turismo”, explica o professor Cardoso.
CENTRO-OESTE – Em Brasília, o Congresso Nacional é um dos atrativos mais visitados do Distrito Federal. A visita é guiada pelos principais espaços da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Dos 15 monitores de visitação institucional, quatro são intérpretes de Libras, que atendem os turistas com deficiência auditiva e grupos pré-agendados. O roteiro de turismo cívico, com foco na educação para a cidadania, informa o turista sobre a história política do Brasil, o processo de elaboração das leis e o patrimônio artístico e arquitetônico do Congresso Nacional.
Conhecer o Congresso Nacional, assim como visitar a capital federal, é muito mais do que um passeio: é uma aula de cultura, história e cidadania. “O turista tem acesso inclusive aos plenários das duas casas, onde deputados e senadores discutem e votam os projetos de lei. Recebemos, além de pessoas com surdez, turistas com limitações físicas e deficiência de visão”, disse o supervisor dos monitores, Anderson Gomes, ao destacar o caráter inclusivo do passeio.
REGIÃO SUL – No Rio Grande do Sul, o Festival de Cinema de Gramado usa legendas para quem não ouve, mas se emociona. O evento ampliou a acessibilidade para atrair turistas com deficiência auditiva que visitam a Serra Gaúcha. Na 47ª edição do festival, em agosto próximo, as sessões inclusivas vão contar com recursos como legenda descritiva de elementos que não podem ser percebidos por quem tem baixa ou nenhuma audição. No ano passado foram realizadas 12 sessões deste tipo.
As sessões são mistas, para todos os públicos, e também contam com audiodescrição, que é a narração das cenas exibidas na tela para deficientes visuais. “A inclusão desses espectadores na plateia do festival abriu novas oportunidades para a programação, interação e experiências”, diz o diretor da Gramadotur, Diego Scariot. O evento também terá tradução em Língua Brasileira de Sinais nas cerimônias oficiais de abertura e premiação.