Rio Grande do Sul

Arte funerária na região de imigração alemã é tema de exposição

A arte da cantaria em pedra nas lápides dos cemitérios da região de imigração alemã da antiga colônia de São Leopoldo foi alvo de projeto de pesquisa e documentação desenvolvido pela arquiteta dois-irmonense, Ingrid Arandt. Intitulado como “Steinhauermann – Escultura em pedra das lápides de Jakob Schmitt: a preservação do saber-fazer da cantaria tradicional”, o projeto contemplado no Edital de Concurso “Pró-cultura RS FAC #juntospelacultura_2″, conta com financiamento do Governo do Estado do Rio Grande do Sul por meio do Pró-cultura RS FAC – Fundo de Apoio à Cultura”, propõe uma estratégia para a salvaguarda deste bem cultural a partir do olhar sobre sua natureza imaterial: o saber fazer cantaria.

Por meio de uma exposição itinerante de fotografias das esculturas em pedra nas lápides de Jacob Schmitt, uma oficina de desenho de observação das lápides e seus elementos escultóricos e o lançamento de um catálogo com informações para a visita guiada aos cemitérios de Sapiranga, Dois Irmãos e Picada São Paulo (Morro Reuter) quer se destacar esta arte da cantaria em pedra e um de seus mestres-artífices. “As fotografias e croquis contribuirão para a preservação da memória deste saber-fazer, onde o registro iconográfico desempenha importante papel, possibilitando futuras inúmeras utilidades dessas representações cadastrais“, comenta Ingrid.

A arquiteta explica que nos primeiros dois meses de projeto foram realizadas a pesquisa histórica em arquivos, acervos, museus e a visitação aos cemitérios da região, a fim de fazer registros e coletar informações sobre este mestre artífice e sobre a atividade de cantaria em pedra. As informações coletadas e sistematizadas estão sendo finalizadas e o resultado poderá ser conferido em breve na exposição e no guia de visitação propostos no projeto.

A exposição itinerante percorrerá cinco municípios, passando por Dois Irmãos, Morro Reuter, Sapiranga, Novo Hamburgo e São Leopoldo. O lançamento acontecerá no Espaço Cultural Antiga Matriz (Av. São Miguel, 473), em Dois Irmãos, ficando a exposição aberta à visitação pública e gratuita nos dias 01 e 02 de junho, das 13h às 17h, no dia 07 de junho, das 18h às 20h, e no dia 08 de junho, das 13h às 17h. Já no domingo, 09 de junho, será possível conferir a exposição durante a Festa da Colheita, no Salão Paroquial da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB), na Av. São Miguel, 1170, também em Dois Irmãos. No dia 21 de julho a exposição será realizada durante o Chá de Inverno no Pavilhão da Comunidade Luterana da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), na Av. São Miguel, 1465, também em Dois Irmãos.

Arte funerária – Apesar de parecer inusitada, a arte cemiterial, também conhecida como arte funerária ou arte fúnebre, é tema de interesse e está associada ao turismo cemiterial –  sendo comum encontrar trabalhos de artistas famosos em lápides, túmulos e mausoléus de cemitérios mais antigos, com obras arquitetônicas e esculturais de valor histórico e artístico.

A exemplo disso, vários cemitérios europeus já são referências turísticas pelo mundo afora, e visitações guiadas são comuns. Na Argentina, por exemplo, destaque para o Cemitério da Recoleta, considerado um museu a céu aberto e que ganhou fama devido ao luxo das lápides e dos diversos estilos arquitetônicos dos túmulos. No Brasil, cemitérios do Rio de Janeiro e São Paulo já contam com programas de visitas guiadas por conta de seu patrimônio e em Porto Alegre também são frequentes a organização de tours guiados, a fim de contemplação da arte funerária.

Jakob Schmitt –  Sobre a escolha da temática do projeto, Ingrid Arandt revela que o interesse pelo trabalho deste mestre-artífice surgiu em decorrência da obra de restauro da Lápide dos Combatentes aos Mucker, em Sapiranga. “Durante o restauro, descobrimos a assinatura do artífice na lápide dos combatentes e verificamos que ela estava presente em outras lápides de cemitérios da região. Na pesquisa realizada por meio do projeto, evidenciou-se que Jakob Schmitt era um detentor do saber-fazer da cantoria tradicional e, pela quantidade de trabalhos encontrados durante a pesquisa, foi artífice reconhecido e muito solicitado na região, em sua época”, acrescenta Ingrid Arandt.

Trecho de relato da pesquisa realizada pela historiadora Josiane Mallmann:

“Jakob Schmitt (1848-1929), natural de Zell Merl na Alemanha, imigrou em 1871 ao Brasil e provavelmente estabeleceu-se em Dois Irmãos/RS, nos poucos registros encontrados sobre sua trajetória é evidente a menção ao seu ofício de “steinhauermeister”.*

Três anos após a sua chegada, no ano de 1874, contando com vinte e seis anos de idade, já realizou uma de suas grandes obras na arte funerária, que foi o Túmulo dos Colonos da Batalha dos Mucker, recentemente restaurado e localizado no cemitério Amaral Ribeiro em Sapiranga. Posteriormente, em vinte e três de novembro de 1875 casou-se com Catharina Löblein na Igreja de São Miguel “depois de proclamados em três dias festivos…” conforme registro de casamento. Nesta época a igreja estava em processo de construção da nova etapa, pois anteriormente já existia uma capela, que levou cerca de 12 anos para ficar pronta (1868 a 1880). Em vinte e quatro de maio 1877 foi relatado no livro das casas dos jesuítas que atendiam à paróquia São Miguel “Foi erguida a cruz de pedra na torre da igreja. A torre foi construída por Jacó Schmitt, genro de Carlos Loeblein.” (Mallmann, Josiane, 2019 – Jacob Schmitt: uma breve biografia.)

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