“Não existem soluções simplistas para problemas complexos”, afirma Evandro Fontana sobre a crise da pandemia

De Milão, o jornalista caxiense palestrou na reunião-almoço da CIC Caxias

“Na era da incerteza não existem soluções simplistas para problemas complexos.” A afirmação é do jornalista caxiense Evandro Fontana, que participou como palestrante da reunião-almoço on-line da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias) nesta segunda-feira (14). Fontana, que atualmente reside em Milão, na Itália, falou sobre os reflexos da pandemia na Europa e sobre as principais medidas que os países da Zona do Euro estão adotando para a retomada econômica.

Quando o novo coronavírus atingiu a Europa, a Itália se tornou o epicentro da Covid-19. Fontana relembrou as fases da pandemia, desde o primeiro caso oficial, registrado em 21 de fevereiro de 2020 na Lombardia, passando pelas primeiras restrições, até o lockdown total em 9 de março, que impactou 60 milhões de habitantes. Naquela data, o país tinha 9.172 casos positivos e 463 mortos. O pico do contágio se deu em 20 de abril, com um total de 108.257 casos. Indicadores atuais, de 13 de setembro, mostram que a Itália tem atualmente 38.509 casos positivos e 35.610 mortes no total.

A abertura gradual das atividades econômicas foi em 1º de maio¸ com o início da etapa denominada de convivência com o vírus. Nessa fase já era possível perceber os impactos econômicos da suspensão de todas as atividades não essenciais. A queda no PIB do segundo trimestre de 2020 em comparação com 2019 é superior a 10% na maioria dos países europeus. Aumentaram também os índices de desemprego a taxas acima de 5%, e caiu o desempenho do comércio internacional e da produção industrial. Em contrapartida, a boa notícia é que o setor do comércio varejista europeu já passa por uma recuperação em “V”, ou seja, depois de uma queda forte, a atividade está rapidamente retornando ao nível imediatamente pré-queda.

Impactos no turismo

Sobre o setor do turismo na Itália, que representa 13% do PIB, Evandro Fontana relatou a diminuição de 81 milhões de presenças entre março e maio, com perdas superiores a cinco bilhões de euros no período. O dado curioso trazido pelo jornalista foi o de que aumentaram em 100% as vendas de motorhomes na Itália, comportamento que se percebe também em países vizinhos, segundo ele, como meio alternativo para as viagens de férias.

Já em relação às medidas para superar a crise, o palestrante da reunião-almoço trouxe informações sobre os fundos de recuperação e os mecanismos de apoio à renda e aos empregos durante a pandemia, tanto para trabalhadores, profissionais autônomos e empresas. Na Itália, 100 bilhões de euros, o equivalente a R$ 650 bilhões, foram injetados na economia. A partir de 2021, 170 bilhões de euros também serão destinados para investimentos em digitalização, infraestrutura, sustentabilidade, empresas, empregos, escola, pesquisa e saúde. Deste valor, 81 bilhões de euros são a fundo perdido. Além disso, o governo italiano está concedendo até 110% de deduções fiscais sobre reformas de casas e prédios, incluindo implantação de sistemas de economia de energia e modernização de sistemas de calefação, e bônus na aquisição de carros ou motos com baixas emissões de poluentes ou elétricos.

As tendências

O uso de energias renováveis, aliás, será uma das tendências, de acordo com o jornalista. Outras tendências que já surgem com força na Europa são o aumento considerável do e-commerce e digitalização, jornada de trabalho semanal reduzida, ampliação dos investimentos em saúde, eventos públicos e feiras profissionais híbridas, políticas nacionalistas, diminuição da circulação de papel moeda e aumento do turismo interno e de vizinhança, elencou Evandro Fontana. “O coronavírus nos trouxe duras lições, mas quem souber aprender com elas se tornará alguém melhor do que foi antes”, concluiu.

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