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Tecnologia de automação eleva produtividade na suinocultura de precisão

Ferramentas, a exemplo da robotização e gestão em tempo real, tornaram Santa Catarina referência mundial em eficiência e produtividade na suinocultura, à frente de países como Estados Unidos, Alemanha, Canadá e Itália

Resultado de investimentos, ampliações e evolução na produtividade das granjas, a suinocultura no Brasil cresce a cada ano, já sendo considerada uma das atividades econômicas mais importantes, geradora de emprego e renda, além de sua parcela de participação no saldo positivo da balança comercial do agronegócio. Dados apresentados pela Embrapa comprovam este cenário que coloca o país na 4ª posição em relação à produção de carne suína mundial, atrás apenas da China, União Europeia e Estados Unidos. Na exportação, ocupa a 4ª posição, enquanto ao consumo, assume o 5º lugar. Da produção total nacional, 81% é destinada ao mercado interno e 19% é voltada às operações de exportação.

Avanços na tecnologia de automação e na engenharia de processos permitiram que os sistemas de criação animal evoluíssem em termos de gerenciamento integrado da produção. Hoje, a indústria de equipamentos para alimentação, monitoramento de animais e controle ambiental oferecem opções diversificadas, possibilitando que grande parte das atividades de rotina seja automatizada nas granjas. Tais fatores contribuem para o resultado final: a qualidade da carne suína, que assumiu o protagonismo da segurança alimentar como uma das proteínas mais consumidas e apreciadas em território nacional. Este tema também constituiu o estudo elaborado pela Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) e Sebrae, em parceria com Markestrat – empresa expertise no mapeamento e quantificação de sistemas agroindustriais, apresentando números atualizados sobre produção e consumo da carne suína no Brasil e exterior.

A zootecnia de precisão pode ser considerada estratégia de gestão inteligente com diversas vantagens sobre os sistemas convencionais. O uso de ferramentas tecnológicas para a gestão dos sistemas de produção tornou a suinocultura mais competitiva, sendo adequadas às exigências dos mercados consumidores por produtos sustentáveis e com qualidade sanitária garantida por rastreabilidade. Aliado a isso estão as técnicas de precisão, que podem beneficiar os produtores, dispondo maior controle sobre o rebanho e seus índices produtivos. Cuidados voltados à garantia de saúde têm diferenciado a suinocultura praticada em Santa Catarina, estado maior produtor de carne suína e segundo maior produtor de carne de frango do Brasil.

O exemplo de Santa Catarina

O estado continua ampliando mercados e firmando sua presença internacional. No primeiro semestre de 2021, exportou mais de 775,6 mil toneladas de carnes com faturamento superior a US$ 1,5 bilhão (5,6% a mais em relação ao mesmo período do ano anterior). Os números foram divulgados pelo Ministério da Economia e analisados pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa). O desempenho positivo nos embarques para o mercado externo deve-se à alta nas vendas para compradores de peso, como Arábia Saudita, Japão, Chile, China e Filipinas. No acumulado do ano, Santa Catarina embarcou 283 mil toneladas de carne suína, arregimentando um faturamento de mais de US$ 705 milhões.

Se o critério de avaliação for a conversão alimentar – um dos principais indicadores de eficiência e produtividade do setor – Santa Catarina é ainda mais promissora, contemplando o melhor resultado mundial, perdendo apenas das pequenas produções da Bélgica e Países Baixos. O estado da Região Sul do Brasil é mais eficiente/produtivo que os Estados Unidos, Alemanha, Canadá e Itália em 10%, 7,39%, 4% e 13%, respectivamente. Em termos de produtividade das matrizes, faz frente aos países mais desenvolvidos e os números revelam que não há o que copiar do exterior. A referência mundial nunca esteve tão próxima de terras brasileiras como agora.

Santa Catarina também é referência internacional na produção de alimentos de qualidade, tendo acesso aos mercados mais competitivos do planeta. Com o tempo, o estado foi se consolidando como fornecedor de proteína animal, focado na saúde animal e na defesa agropecuária. Seu status sanitário diferenciado demonstra a qualidade produtiva, facilitando a comercialização da carne catarinense junto aos países mais exigentes do mundo. A Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), em parceria com a iniciativa privada e os produtores, mantém um rígido controle das fronteiras e do rebanho catarinense. A atenção extrema com a sanidade animal – critério valorizado por importadores de carne – garantiu o reconhecimento da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como área livre de febre aftosa sem vacinação. Junto ao Rio Grande do Sul e Paraná, Santa Catarina é zona livre de peste suína clássica.

Soluções tecnológicas à serviço da suinocultura de precisão

Alimentar os suínos individualmente com dietas formuladas, em tempo real, com base em seus próprios padrões de consumo de ração e crescimento representa uma importante mudança de paradigma na nutrição animal. Nos sistemas convencionais, os suínos, que são geralmente criados em grupos, não têm seus dados avaliados individualmente, com exceção daqueles utilizados em programas de melhoramento genético.

A aplicação da Instrução Normativa nº 113 (IN 113) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), publicada em dezembro de 2020, condicionou a modernização da suinocultura no Brasil. A adoção de técnicas e ambientes, que priorizam a sustentabilidade e permitem ao suíno demonstrar o comportamento típico da espécie cedeu maior espaço à tecnologia. Como consequência, granjas melhor estruturadas e a robotização – bem como outras ferramentas da suinocultura de precisão – passaram a ser vistas com maior frequência nas propriedades rurais.

Entre tais ferramentas pode-se considerar a tecnologia Agriness S4, nascida no Brasil e replicada no mundo inteiro, gerenciando mais de 2 milhões de matrizes por meio do software S2. A solução analisa e transforma a informação que vem da granja em conhecimento estratégico para ajudar a atuar, rapidamente, em todas as oportunidades de melhoria dos resultados. O Agriness S4 se comunica com a cooperativa ou agroindústria da qual o produtor faz parte, fazendo com que ele ou o gestor da corporação possam acessar dados atualizados da produção para decidir o que a granja precisa, em tempo real. Ainda dispõe de recursos alinhados ao P+1, um método de aceleração da produtividade de granjas produtoras de suínos, criado pela Agriness e usado por mais de mil profissionais na América Latina. Uma tecnologia que contribuiu para identificar os pontos críticos da produção, agilidade na resolução de problemas, dados produtivos integrados à corporação, qualidade e segurança nas informações. Outros benefícios dessa tecnologia podem ser conhecidos no site www.agriness.com

A robotização

O trabalho do produtor ao gerenciar a fase de crescimento e terminação dos animais que serão enviados ao abate, controlando o consumo da ração e o crescimento dos suínos, ganhou um forte aliado. Os resultados da produção, conferidos na grande maioria somente ao final do lote, podem ser feitos durante o lote, a cada dia, por um Robô Alimentador de Suínos.

Fotos: Divulgação Roboagro

O sistema permite a alimentação dos suínos nas baias em horários pré-determinados, com a possibilidade de ajuste em tempo real, conforme o consumo dos animais, e o mínimo de interferência humana. O controle é feito mediante uso de aplicativo e de um software, que facilita a análise individual de cada distribuição, aumentando os resultados para o produtor. O equipamento ainda permite a melhoria da competitividade e ganhos para toda a integração, produtores e agroindústrias, que podem usar ferramentas de gestão e inteligência artificial para corrigir eventuais gargalos de produção. “Temos uma solução completa, que atende e agrada todos os elos da suinocultura, assim como o bem-estar animal.

Os resultados são melhores que os apresentados pelos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Itália e outros países que sempre nos serviram de referência, mas, a partir dessa tecnologia, estamos ocupando lugar de destaque e sendo considerados benchmarking em nível mundial”, aponta Giovani Molin, diretor da Roboagro, empresa de Caxias do Sul (RS), que desenvolveu o Robô Alimentador de Suínos. Ao percorrer toda extensão da granja, durante quatro a seis vezes ao dia, o equipamento proporciona a inserção de diversas tecnologias que, em outras situações, não seriam viáveis. Mais detalhes sobre o funcionamento podem ser conferidos no site www.roboagro.com.br

A robotização promoveu uma mudança estrutural no segmento, fazendo com que as agroindústrias adaptem os layouts das granjas, deixando as pocilgas preparadas para o novo padrão da suinocultura. O benefício dessa técnica, agregado às vantagens do sistema de distribuição de ração com comedouro linear, reforça a necessidade de sua prática. “Foi-se o tempo em que o milho custava R$25,00 a saca e poderíamos tratar os animais à vontade. Vivenciamos um novo momento e voltar o olhar a essas questões define quem terá, ou não, resultados nos próximos anos, uma vez que não vislumbramos um cenário de redução dos custos dos insumos nas próximas décadas”, adverte Molin, ao lembrar que a tecnologia – inédita no Brasil – permite erro zero na distribuição alimentar, valoriza a precificação e qualidade dos lotes, avaliados em diversos índices zootécnicos.

Outro benefício é que, durante o processo, o robô reproduz música clássica, cuja eficácia voltada à fase de crescimento dos suínos foi comprovada por meio de estudos. E o suinocultor consegue identificar, com maior precisão, a condição sanitária da granja e o andamento do lote, por meio do aplicativo de gestão. Atualmente, há mais de 800 unidades do Robô Alimentador de Suínos em operação nos três estados da Região Sul, responsáveis por 66% da suinocultura nacional, além da presença em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e interior de São Paulo.

O mercado de suínos no Brasil

Com grandes números de produção e exportação, o mercado brasileiro de suínos é altamente representativo. No panorama interno, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul se destacam, uma vez que são os estados que mais produzem e exportam carne suína. De acordo com o Relatório Anual publicado pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o volume de 750 mil toneladas de carne suína exportada representou uma receita de 1,59 bilhões de dólares ao mercado brasileiro. Um indício de que o setor está em constante crescimento e, cada vez mais, novas soluções se fazem necessárias para otimizar a produção.

Segundo do mapeamento realizado pela ABCS, Sebrae e Markestrat, o modelo produtivo da suinocultura nacional se diferencia de acordo com a região. No Sul predominam os pequenos suinocultores integrados ou cooperados, especializados em determinada fase de produção. O Sudeste é marcado por produtores independentes com produção de ciclo completo. Cada sistema está adaptado ao seu mercado, onde todos ganham eficiência e competitividade, mantendo o crescimento da produção nacional. A produção tecnificada está distribuída em cerca de 3,1 mil granjas de produção de leitões e quase 15 mil granjas de engorda. Nos estados do Sul, 60% das granjas de matrizes têm até 500 reprodutoras com predomínio de produção integrada ou cooperada. A região concentra 96% de granjas de terminação, 95% dos crechários e 56% das granjas de wean to finish – que consiste basicamente na eliminação da fase de creche dentro do sistema de produção convencional, ou seja, os animais, neste caso, são desmamados e alojados em um galpão onde permanecem até o abate – também vinculadas a agroindústrias ou cooperativas.

Na região Sudeste, Minas Gerais e São Paulo são referências para o mercado spot. Embora o tamanho médio das granjas seja bem superior (785 matrizes) aos das granjas do Sul (456 matrizes), a região tem 60% delas com menos de 500 reprodutoras. Devido à baixa expressividade dos modelos de produção cooperada, apenas 1,7% das granjas de engorda estão abrigadas no Sudeste. No Centro-Oeste, há maiores escalas de produção com 46% das granjas de matrizes, tendo pelo menos 1.000 reprodutoras. Mesmo que, em torno de 50% da produção seja integrada a agroindústrias, a região concentra somente 2,5% das granjas de terminação, cerca de 2,3% dos crechários e pouco mais de 44% das granjas wean to finish. No Norte e Nordeste, a produção é 100% independente, caracterizada por granjas de menor escala com tamanho médio de aproximadamente 200 matrizes.

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