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Marx e Mises: Um Acordo Sobre a Necessidade da Liberdade de Expressão – Artigo

Por: João Darzone, Presidente do Observatório Social de São Leopoldo

Imaginemos um encontro fictício entre Karl Marx, o pai do comunismo, e Ludwig von Mises, um dos principais teóricos do liberalismo econômico. Eles se encontram em uma sala, repleta de livros e com o aroma de café no ar, para discutir a complexa relação entre verdade e mentira na sociedade.

Marx: Comecemos, Mises, com uma observação fundamental. A verdade, em sua essência, é frequentemente manipulada pela classe dominante para perpetuar suas estruturas de poder. A ideia de que “A verdade sempre dá bons alicerces para a mentira” é uma reflexão sobre como o capitalismo mascara suas contradições e explorações.

Mises: Marx, embora sua análise da manipulação da verdade pelas classes dominantes tenha mérito, você negligencia a capacidade do mercado livre e da competição em revelar verdades. No capitalismo, a verdade emerge da interação entre oferta e demanda, das escolhas individuais. A mentira, por outro lado, é insustentável a longo prazo em um mercado verdadeiramente livre.

Marx: Mas não vê, Mises, que a chamada “verdade do mercado” é, em si, uma construção social, moldada pelas relações de poder? A verdade, quando usada pelos capitalistas, serve apenas para ocultar a realidade da exploração sob o véu da “liberdade de escolha”. A verdadeira liberdade não pode ser alcançada enquanto existirem classes e opressão.

Mises: Marx, sua crítica ignora o fato de que o socialismo, ao centralizar o poder, é muito mais suscetível à manipulação da verdade. No capitalismo, apesar de suas falhas, há uma dispersão de poder que permite múltiplas narrativas e verdades concorrentes. A verdade é descentralizada e, portanto, mais resistente à manipulação sistemática.

Marx: A descentralização da qual você fala é uma ilusão, Mises. O poder econômico no capitalismo se concentra nas mãos de poucos, e esses poucos moldam a percepção da verdade para servir aos seus interesses. A verdadeira descentralização do poder só pode ser alcançada através da abolição das classes.

Mises: E ainda assim, Marx, a sua proposta de abolição das classes leva a uma concentração de poder no Estado, que se torna o único árbitro da verdade. Como podemos confiar em um único ente para determinar o que é verdadeiro? A história mostrou que regimes socialistas frequentemente recorrem à censura e à manipulação da informação para manter o controle.

Marx: O problema, Mises, não é a busca pela verdade ou a tentativa de moldá-la às nossas visões de mundo. O problema surge quando as estruturas de poder usam a verdade como instrumento de dominação, seja no capitalismo ou no socialismo. O desafio é construir uma sociedade onde a verdade sirva ao bem comum, não aos interesses de uma elite.

Mises: Concordamos, então, Marx, que a manipulação da verdade é um problema em qualquer sistema. No entanto, acredito que a solução não esteja na abolição das classes ou na centralização do poder, mas na promoção da transparência, da educação e da liberdade individual.

Marx: E eu sustento, Mises, que sem uma transformação radical das nossas relações econômicas e sociais, qualquer tentativa de “transparência” será superficial. A verdadeira mudança requer a superação das condições materiais que permitem a manipulação da verdade.

Eles continuam a conversa, cada um defendendo fervorosamente sua visão de mundo, mas ambos reconhecendo a complexidade da relação entre verdade e mentira na sociedade. Embora não cheguem a um consenso, o diálogo ilumina as profundezas e as nuances dessa relação, refletindo a eterna busca da humanidade por compreender a natureza da verdade e da realidade.

Continuando a conversa imaginária entre Karl Marx e Ludwig von Mises, ambos começam a explorar exemplos contemporâneos que ilustram a premissa “A verdade sempre dá bons alicerces para a mentira”, apontando críticas severas tanto aos regimes comunistas quanto aos capitalistas.

Marx: Vamos, então, considerar o caso da Coreia do Norte, um regime que se autodenomina comunista. A verdade sobre o desenvolvimento de programas sociais e avanços tecnológicos serve de alicerce para uma narrativa que esconde a repressão, a falta de liberdade e a pobreza extrema enfrentada pela população. Esse uso da verdade para mascarar realidades opressivas é um desvio grotesco dos princípios que defendi.

Mises: E o que dizer dos Estados Unidos, um bastião do capitalismo, onde a verdade sobre o “sonho americano” e a mobilidade social é usada para sustentar um sistema que, na realidade, amplia as desigualdades e perpetua a pobreza? A verdadeira face do capitalismo é frequentemente ocultada por trás de uma fachada de prosperidade e liberdade, que não é acessível a todos.

Marx: Precisamente, Mises. E olhando para a China, vemos um exemplo de como o Partido Comunista utiliza a verdade do crescimento econômico e da elevação do padrão de vida para justificar a censura, a vigilância massiva e a supressão das liberdades individuais. A verdade é manipulada para consolidar o poder, distorcendo os ideais de igualdade e justiça social que deveriam fundamentar um verdadeiro comunismo.

Mises: Da mesma forma, a crise financeira de 2008 expôs a fragilidade do capitalismo financeiro, onde a verdade sobre a “inovação” financeira foi usada para encobrir a ganância, a especulação desenfreada e a corrupção que quase levaram o sistema financeiro global ao colapso. A verdade sobre a estabilidade e a segurança oferecidas pelos mercados foi um alicerce para mentiras que custaram milhões de empregos e acentuaram a desigualdade.

Marx: E não podemos esquecer da Venezuela, onde a verdade sobre a luta contra a pobreza e a desigualdade serve de cortina de fumaça para a corrupção, a má gestão econômica e a erosão das instituições democráticas. O regime se apoia em verdades parciais para legitimar um autoritarismo que trai os princípios de liberdade e igualdade.

Mises: Similarmente, a exploração do meio ambiente e a crise climática ilustram como o capitalismo utiliza a verdade da inovação e do progresso tecnológico para justificar a destruição ambiental e a exploração insustentável dos recursos naturais. A verdade sobre o desenvolvimento é frequentemente usada para ocultar as consequências devastadoras para o planeta e para as futuras gerações.

Este diálogo fictício entre Karl Marx e Ludwig von Mises revela a complexidade da relação entre verdade e mentira nas sociedades contemporâneas, tanto sob regimes comunistas quanto capitalistas. Ambos os pensadores, apesar de suas divergências ideológicas profundas, concordam que a manipulação da verdade para servir aos interesses de poder é um problema transversal, que desafia os princípios éticos e morais em diferentes sistemas econômicos e políticos. Através desta conversa imaginária, fica evidente que a busca por uma sociedade mais justa e transparente requer um compromisso contínuo com a verdade, a integridade e a responsabilidade, independentemente das inclinações ideológicas.

Continuando a conversa, Marx e Mises se aproximam de um terreno comum, reconhecendo a importância da liberdade de informações e ideias como fundamentais para o verdadeiro progresso de qualquer sociedade, seja ela comunista ou capitalista.

Marx: Mises, apesar de nossas óbvias diferenças, creio que podemos concordar que a liberdade de informação e a livre circulação de ideias são essenciais para o desenvolvimento de qualquer sistema. No comunismo que vislumbro, a transparência e a participação ativa do proletariado na gestão da sociedade e na tomada de decisões são cruciais. Sem a liberdade de expressar críticas e propor mudanças, corremos o risco de cair em autoritarismo e estagnação.

Mises: Concordo, Marx. E no capitalismo, a liberdade de informação não é menos vital. Ela permite que os mercados funcionem eficientemente, com consumidores e empresários fazendo escolhas informadas. Mais do que isso, é a liberdade de trocar ideias que impulsiona a inovação e o progresso. Quando o Estado ou qualquer outra entidade tenta controlar ou restringir esse fluxo de informações, o sistema se torna vulnerável à corrupção e ao abuso de poder, afetando não apenas a economia, mas a sociedade como um todo.

Marx e Mises: Portanto, chegamos a um consenso de que, para que qualquer sistema — comunista ou capitalista — alcance o verdadeiro progresso, deve haver um compromisso inabalável com a liberdade de informações e ideias. A manipulação da verdade e a restrição ao livre pensamento são antitéticas ao desenvolvimento humano e à justiça social. Uma sociedade verdadeiramente livre é aquela que não apenas permite, mas encoraja o debate aberto, a crítica construtiva e a inovação disruptiva. É somente através do respeito mútuo pela verdade e pela liberdade de expressão que podemos esperar construir um futuro melhor para todos, independentemente do sistema econômico ou político vigente.

Este diálogo enriquecido entre Karl Marx e Ludwig von Mises ilustra a complexidade das relações sociais e políticas, destacando a liberdade de informação e de ideias como pilares para o avanço de qualquer sociedade. Ambos reconhecem que, apesar das divergências ideológicas, a transparência, a integridade e a responsabilidade são valores universais indispensáveis à realização do verdadeiro progresso humano.

Neste cenário imaginário, Marx e Mises encontram um terreno comum na ideia de que a verdadeira liberdade – seja em um sistema comunista idealizado por Marx, onde a classe trabalhadora governa sem a existência de classes, ou em um mercado livre defendido por Mises, caracterizado pela competição aberta e pela inovação – depende fundamentalmente da liberdade de informação e da expressão. Eles concordam que, sem essas liberdades, qualquer sistema está fadado ao fracasso, pois a estagnação e a corrupção se instalam quando as vozes críticas são silenciadas e a verdade é manipulada.

O consenso entre essas duas figuras históricas, embora fictício, serve como um poderoso lembrete da importância da liberdade de expressão e da transparência para a saúde e o progresso de qualquer sociedade. Destaca-se que, independentemente das diferenças ideológicas, o compromisso com a verdade e a liberdade de informação transcende os sistemas econômicos e políticos, unindo os indivíduos na busca comum por uma sociedade mais justa, equitativa e próspera.

Portanto, este diálogo imaginário não apenas reflete sobre a complexidade da verdade e da mentira nas sociedades contemporâneas, mas também reitera a necessidade universal de um espaço onde as informações possam fluir livremente e as ideias possam ser compartilhadas e debatidas abertamente. É neste espaço que o verdadeiro progresso – entendido não apenas em termos econômicos, mas também como o avanço do bem-estar humano e da justiça social – pode ser alcançado.

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