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Ressocializandos se somam na luta contra a covid-19 em Canoas

Parceria entre o Complexo Penitenciário e a Prefeitura de Canoas visa a ressocialização de presos e o atendimento à demanda provocada pela pandemia do novo coronavírus

A pandemia do novo coronavírus tem desafiado a capacidade de adaptação de diferentes setores gaúchos desde que adentrou no Estado em março deste ano. Municípios procuram alternativas para dar conta da demanda nos hospitais e, em Canoas, uma parceria viabiliza maior proteção aos profissionais que estão na linha de frente contra a covid-19. A administração municipal, a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) e o Complexo Penitenciário de Canoas (PECAN) fornecem aventais, uniformes e máscaras confeccionados por ressocializandos às instituições de saúde.

A iniciativa surgiu através de uma sugestão do Conselho da Comunidade de Canoas, que doou duas máquinas de costura para a Penitenciária, e desde então tem sido uma verdadeira troca. Todos os dias, às 8 horas da manhã, os participantes se direcionam até os fundos da lavanderia da PECAN, onde foi instalado um ateliê, para preparar o material concedido pelos hospitais Universitário (HU) e de Pronto Socorro (HPSC). As tarefas são divididas e instruídas pela apenada responsável pela equipe, Danielly Rodrigues (nome social), que antes de ingressar no sistema prisional não possuía experiência como costureira. “É gratificante estar aqui e fazer a diferença neste momento tão difícil. Nunca tinha usado máquina de costura, linha ou agulha, mas hoje encontrei a paixão da minha vida e tenho o sonho de montar meu próprio ateliê quando sair daqui”, relata.

Segundo o prefeito de Canoas, Luiz Carlos Busato, a parceria supre uma preocupação que, em meio ao cenário instaurado pelo novo coronavírus, crescia de forma exponencial. Na rotina intensa de médicos, enfermeiros, técnicos e assistentes das unidades de saúde, o abastecimento de uniformes, guarda-pós e outros utensílios é fundamental para que os atendimentos ocorram com a maior segurança possível. “Os esforços de quem está aqui dentro produzindo algo essencial para a comunidade merecem ser valorizados. Todo mundo está de parabéns e quem sai ganhando são os apenados, os nossos profissionais e a comunidade de Canoas”, enaltece.

A valorização também é sentida pelo presidiário Paulo Valdoir Lopes, de 60 anos, que enxerga o trabalho desenvolvido como uma oportunidade de manter a saúde mental em dia e reforçar o currículo para se reinserir na sociedade depois de cumprir sua pena. Formado em gastronomia e com passagem por grandes restaurantes de Porto Alegre, o idoso também conta com o auxílio emocional de assistentes sociais para aproximar familiares com quem perdeu o vínculo há décadas. “O pessoal daqui conseguiu falar com meus irmãos e explicou a situação de que eu estou trabalhando, não atirado. Porque normalmente a imagem que se tem de um presídio é a de que, se entrou lá, vai sair mais criminoso”, explica.

Devido ao processo de ressocialização da PECAN, Paulo Valdoir tem o desejo de ajudar mais cidadãos que passarem pela mesma dificuldade do vício em drogas e bebidas. “Eu me sinto muito melhor do que quando trabalhava na rua porque eu era um embriagado. Quero ir para um centro de reabilitação ajudar mais pessoas, porque aqui aprendi o que eu não fazia na rua, ganhei uma profissão e estou me especializando”, diz.

Apenados trabalham na confeccao – Fotos: Derli Colomo Jr

O diretor da penitenciária, Loivo Machado, assim como o diretor adjunto Alexsander Mello, está orgulhoso do retorno obtido até então e promete a continuidade dos trabalhos após a pandemia. Iniciativas como a firmada com a Prefeitura de Canoas possibilitam que os presos cumpram a sentença com dignidade, fazendo cursos profissionalizantes e se preparando para obter um emprego decente no futuro. “A única certeza que temos é que em algum momento eles vão sair daqui. Então, nossa obrigação como operadores do sistema é proporcionar as condições mínimas e buscar parcerias para que o preso não volte a delinquir na rua”, comenta.

De acordo com o artigo 126 da Lei de Execução Penal, a remição pelo trabalho é um direito assegurado aos apenados do regime fechado e semiaberto, prevendo a redução de um dia de pena a cada três dias trabalhados. Além disso, os apenados recebem remuneração com o valor referente a 75% do salário mínimo. Para o secretário da Administração Penitenciária, Cesar Faccioli, “o trabalho prisional é fundamental para inserir o preso na sociedade, vamos intensificar essa prática nas casas prisionais, trazendo um benefício maior para toda a comunidade”.

Empresas estão convidadas a participarem do projeto

A vice-presidente do Conselho da Comunidade de Canoas, Fabiane Xavier, afirma que a participação da iniciativa privada é fundamental para a demanda existente nos hospitais. “Buscamos parcerias que possam nos ajudar, doando materiais e tecidos para os apenados, que devem fazer mais do que simplesmente cumprir suas penas aqui. Esse serviço prestado à comunidade faz toda a diferença e prepara esses indivíduos para ingressarem no mercado de trabalho e reiniciarem suas vidas”, conclui.

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