Negócios

O local de trabalho do futuro é híbrido

Por César Jacó Habitzreuter
Diretor de Operações, CWI Software

Com os riscos da pandemia, diversas empresas passaram por uma mudança radical nos processos de trabalho. Do dia para noite fomos obrigados a ficar em isolamento e, por consequência adotamos o modo remoto no intuito de manter as atividades.

Na CWI Software, essa movimentação ocorreu em uma semana. Começou com o receio dos nossos colaboradores e terminou quando orientamos aos profissionais presentes que trabalhassem de casa, seguindo as orientações de saúde amplamente divulgadas naquele momento.

Diante do novo contexto, a prioridade foi a saúde das pessoas, com a tarefa de dar tranquilidade para que pudessem respeitar o isolamento. Outro aspecto fundamental foi manter nossa operação, as equipes trabalhando e o atendimento aos clientes. Tivemos uma dinâmica de comunicação bastante ativa, com reuniões diárias entre as lideranças e envio de comunicados gerais para reforçar a estratégia, buscando tranquilizar todos.

Há três anos, alteramos o padrão de compra e passamos a adquirir apenas notebooks, proporcionando maior mobilidade aos profissionais. Nosso programa de teletrabalho e home office já estavam em andamento, mas ainda encontrávamos desafios na mudança de cultura. Por já existir esta estratégia, nos últimos anos investimos em infraestrutura para tal, adquirindo equipamentos, aumentando links e evoluindo VPN, entre outras ações. Tudo isto facilitou nossa movimentação da empresa para nossas casas.

Com o passar do tempo, os efeitos do isolamento começaram a se manifestar, alguns colaboradores demonstraram cansaço e apresentaram dificuldades com o trabalho remoto. Então optamos por fazer uma pesquisa onde o principal objetivo era identificar casos com maior necessidade de algum tipo de auxílio.
A pesquisa ficou no ar por uma semana, para coletar rapidamente as informações e estabelecer as ações de apoio e acompanhamento. Fizemos apenas uma chamada, com envio de mensagem nas nossas principais plataformas de comunicação. Tivemos uma adesão espontânea de 70% dos colaboradores. A identificação era opcional, mas 90% daqueles que responderam se identificaram, o que ajudou a cumprir o objetivo inicial.
A seguir apresento os resultados globais, bem como o que aprendemos com os dados e qual a nossa visão de futuro.

Perguntamos quem já teve alguma experiência com trabalho remoto. O resultado foi empate, de certa forma influenciado pelo programa de home office já existente na empresa. Isso facilitou o processo, pois boa parte da equipe sabendo das principais práticas deste modelo, tornou a transição inicial tranquila.

Já teve experiência em home office antes?

Estruturamos perguntas específicas medindo a visão sobre o trabalho a distância, bem como os impactos percebidos na comunicação, energia e produtividade. As respostas gerais foram bastante positivas, havendo pouquíssimos casos com avaliação baixa. Apenas 7,6% dos colaboradores que responderam deram nota 1 ou 2 em uma das 4 questões específicas, sendo que nota máxima era 5.
Outro ponto interessante observado é que pessoas mais jovens apresentaram notas inferiores em comparação ao público mais experiente. Na descrição dessas respostas percebemos a principal razão, indicando que esse público encontra maior dificuldade em organizar e seguir uma rotina de trabalho em casa, enquanto os mais experientes se demonstraram mais disciplinados, organizados e bem adaptados.

Para complementar, inserimos duas questões com texto livre, sendo que a primeira buscou identificar os maiores benefícios em trabalhar remotamente.

Nessa questão tivemos um resultado que chama atenção. O ganho de tempo, antes utilizado para deslocamento, foi o principal ponto citado, constando em mais de 70% das respostas. Isso também reflete diretamente em melhora da qualidade de vida, horas úteis para fazer várias coisas que antes não eram possíveis pela falta de tempo. A eliminação do deslocamento também gerou economia financeira, redução do estresse e maior segurança.

Outro ponto evidente é o conforto, podendo ficar mais à vontade, sem precisar de consenso na temperatura do ar condicionado ou se a janela fica aberta ou não. Além de já estar em casa com a família ao encerrar o expediente.

O ganho de produtividade foi citado em diversas colocações, por não ter dispersões nas atividades com pedidos de ajuda, conversas com o colega do lado, entre outras interrupções. Há melhora na comunicação, em função de estar mais objetiva, ágil e democrática, pois todos têm o mesmo espaço na tela e quase não há possibilidade de conversas paralelas.

Alguns perceberam maior flexibilidade para o trabalho, estendendo o tempo de almoço e utilizando horários mais produtivos para as atividades, principalmente à noite.
Vale citar ainda que, para alguns colaboradores, a qualidade da alimentação melhorou, com maior consumo de frutas, lanches no meio dos turnos e preparo do próprio almoço com ingredientes saudáveis.

Nossa segunda questão de texto livre buscou identificar as maiores dificuldades.

Na leitura das respostas percebemos que as colocações eram mais diversas se comparada a questão dos benefícios. Ainda assim, muitos citaram que não encontravam dificuldades, o que reforçou nossa visão de que o trabalho remoto veio para ficar.

Mas se ficar em casa pode ser bom, o isolamento social gera reflexos. O item mais citado foi a falta de contato com os colegas e amigos do trabalho, com a redução da comunicação mais informal e limitação da leitura corporal. Uma citação resume bem esse contexto: ‘nada substitui o olho no olho’. Alguns colocaram ainda que sentem a distância do cliente e de discutir as soluções em conjunto, perdendo a riqueza da comunicação por não estar frente a frente.

Outra informação apontada pela pesquisa é o sentimento de desconforto quando o mesmo ambiente, utilizado para descansar com a família, também se transforma em ambiente de trabalho. Eventualmente não há um espaço adequado, isolado e com silêncio, acontecendo interrupções de familiares ou de pessoas externas, sendo que obras barulhentas de vizinhos foi um problema bastante citado.

As dificuldades de comunicação passam por questões técnicas, como dias eventuais em que a internet está ruim, VPN instável ou o microfone do colega que não funciona bem. Vale lembrar ainda do cansaço de reuniões consecutivas, utilizando fone de ouvido por muito tempo e olhando longos períodos para uma tela.

Nossas conclusões

Estudos revelam que a interação social é algo importante para uma vida saudável (1). Ter uma boa relação com família, amigos e colegas de trabalho, através do contato social, pode ajudar inclusive na prevenção de doenças e refletem em maior felicidade. Em contrapartida, o surgimento das redes sociais tem gerado uma migração dos relacionamentos do mundo físico para o virtual, surgindo diversos estudos para entender a relação com o aumento de distúrbios mentais (2).
Ao analisarmos todos os dados e ler os comentários, que resultaram em 44 páginas de texto, chegamos às seguintes conclusões:

  • – Confirmamos que o tempo, principal ativo das pessoas, é o maior benefício percebido com o trabalho em home office;
  • – Compreendemos também que existe uma necessidade do contato humano, isso faz parte da nossa essência como seres sociais.

Por estes aspectos, entendemos que o modelo híbrido será o futuro do trabalho, onde os profissionais terão atuação remota e na empresa. Isso possibilitará realizar atividades individuais em casa e atividades de construção conjunta na empresa, propiciando a convivência com os colegas.
Dessa forma, acreditamos que as relações entre as pessoas e a cultura da empresa se manterão saudáveis e fortes!

Referências
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17101814/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4183915/

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