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A ERA DO HOMEM-ÁGUA-DE-SALSICHA

POR: João Darzone - Presidente do Observatório Social de São Leopoldo

O Homo sapiens, nossa espécie, abrange diversas formas ao longo da história evolutiva, incluindo o Homo sapiens sapiens (nós, humanos modernos), que surgiu na África há cerca de 300.000 anos. Outra forma, o Homo sapiens idaltu, encontrado na Etiópia, data de cerca de 160.000 anos atrás e é considerado por alguns como uma subespécie. Além disso, os Neandertais (Homo sapiens neanderthalensis) e os Denisovanos, ambos com evidências de cruzamento com humanos modernos, são por vezes vistos como subespécies do Homo sapiens.

Essas classificações refletem a complexidade e a diversidade da evolução humana, com debates científicos contínuos sobre as relações exatas entre esses grupos.
À medida que o século XXI desdobra suas asas tecnológicas, testemunhamos não apenas revoluções digitais e avanços tecnológicos, mas também o nascimento de uma nova espécie na escala evolutiva do Homo sapiens: o Farciminis Aqua Hominis, ou, em vernáculo, o Homem-Água-de-Salsicha. Este ser, emergindo das profundezas da cultura digital, simboliza a encruzilhada evolutiva encontrada pela humanidade em 2024, onde o caldo outrora insípido da existência encontra um palco vibrante nas redes sociais.

O Farciminis Aqua Hominis (Homem-Água-de-Salsicha), caracterizado por sua falta de vigor e personalidade marcante, é uma adaptação peculiar à era digital. Originário da gíria brasileira que descreve indivíduos considerados fracos ou sem opinião própria, esta nova espécie evoluiu para prosperar na vastidão da internet, onde a falta de sabor e substância se tornou, paradoxalmente, sua maior força.

Assim como o Homo sapiens, com suas diferenças já comprovadas, os desdobramentos do Farciminis Aqua Hominis (Homem-Água-de-Salsicha) em 2024 já se tornam evidentes, marcando o surgimento dessa nova casta evolutiva, cujas características passam a ser descritas a seguir.

O Condominus Senectus (condôminos aposentados), que, armados com a tecnologia, transformam-se em sentinelas implacáveis de normas sociais não escritas. Estes Condominus Senectus, verdadeiros guardiões do silêncio e da ordem, não se limitam a fiscalizar o volume da televisão alheia; eles também dominam o éter digital, disseminando correntes de bom dia e propagando alertas apocalípticos de duvidosa veracidade. Com um zelo quase religioso, patrulham as fronteiras digitais de suas comunidades, garantindo que o status quo seja mantido, para o bem ou para o mal, no universo online e offline.

Surge também o Ultrafitness Digitalis (Ultrafitness Digital), subespécie dedicada ao culto do corpo através do filtro do Instagram. Com dietas baseadas em abacate e ovos, e treinos que desafiam a madrugada, pregam um evangelho de saúde cuja salvação parece depender exclusivamente de códigos promocionais de suplementos.

Não podemos esquecer do Sapiens Wikipediae (Sábio de Wikipedia), criaturas que, armadas com o poder do CTRL+C e CTRL+V, elevam-se como oráculos da era digital, prontos para corrigir os desvios factuais de qualquer debate com a profundidade de um pires.

O CEO Instagrammus (CEO de Instagram), visionários que transformaram o lazer de criar conteúdo em impérios de vídeos efêmeros, demonstram como o carisma digital e uma edição hábil podem substituir a necessidade de substância ou consistência.

E, por último, a Matriarcha Securitatis, que foi claramente identificada como mães engenheiras de segurança disfarçadas de supermães, cuja vigilância sobre os rebentos ultrapassa os limites da privacidade, projetando cada etapa do desenvolvimento infantil como um marco para a posteridade digital.

Também se identifica em 2024, em habitats, há abundância de memes e desinformação, espécies Farciminis Aqua Hominis (Homem-Água-de-Salsicha), com habilidade peculiar de transformar qualquer interação, desde uma simples conversa sobre o clima até debates de grande importância, em campos de batalha ideológicos.

Esses indivíduos, categorizados como Anti-Communistae WhatsAppis e Guerrillero iPhoneis (anti-comunistas de WhatsApp e “guerrilheiros de iPhone), demonstram uma incapacidade notável de tolerar opiniões divergentes, frequentemente evocando figuras polarizadoras como o PT ou Bolsonaro para alimentar disputas.

Mais do que apenas participantes passivos da sociedade digital, eles representam uma nova dinâmica na evolução social, onde o embate de ideias se torna menos sobre o diálogo e mais sobre a dominação de narrativas, marcando uma era onde a complexidade do debate público é reduzida a simples confrontos binários.

Ainda, no contexto das aceleradas transformações tecnológicas e culturais do século XXI, observa-se a figura do Homo Nostalgicus Retrovisus (Homem-Nostalgico-de retrovisor), que se caracteriza pela sua resistência psicológica às correntes da modernidade, ancorando-se em uma nostalgia pronunciada pelo “antigamente é que era bom”. Esta preferência por paradigmas passados, frequentemente associados às décadas de 60, 70, 80 e 90, não apenas destaca uma divergência nas adaptações comportamentais entre gerações, mas também instiga dinâmicas intergeracionais marcadas por contrastes culturais significativos.

Através de uma análise psicológica, pode-se interpretar que essa inclinação para o passado não é meramente uma relutância em aceitar novas tecnologias ou mudanças sociais, mas sim uma manifestação de busca por segurança emocional em memórias percebidas como mais simples e gratificantes.

Assim, o Homo Nostalgicus Retrovisus, armado com sua “espada de nostalgia”, não apenas enfrenta o avanço inexorável do tempo, mas também sublinha a importância psicológica do passado como um refúgio seguro e uma fonte contínua de alegria, mesmo diante das incessantes transformações da contemporaneidade.

Assim, a saga do Homo sapiens se desdobra, revelando que, na vastidão da nossa diversidade, até mesmo os sabores mais insossos encontram seu lugar ao sol.
O Farciminis Aqua Hominis, embora possa parecer um desvio peculiar na nossa longa jornada evolutiva, é um lembrete fascinante de nossa adaptabilidade e da infinita capacidade de encontrar novas maneiras de nos expressar e interagir em um mundo cada vez mais conectado. E que medo que dá…..

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